Aposta em consumo e cautela com China: as novas posições dos gestores na bolsa

Pesquisa do Bank of America com 34 gestores que somam US$ 84 bilhões em ativos revelam como o aumento do apetite a risco se reflete nos portfólios de ações

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Bloomberg Línea — Ainda que a hipótese de uma recessão nos Estados Unidos não esteja descartada, alguns indicadores macroeconômicos melhores que o esperado têm dado um alívio para os mercados e contribuído para o rali no mercado de renda variável, com investidores mais propensos a risco. Esse cenário tem levado a apostas mais otimistas para o Ibovespa (IBOV).

A pesquisa “LatAm Fund Manager Survey”, do Bank of America, divulgada nesta terça-feira (16), mostra que os gestores estão mais positivos com a Bolsa brasileira, com 80% dos participantes vendo o índice encerrando o ano negociado acima dos 110 mil pontos. Em julho, esse percentual era de 45%.

A maior parte das apostas está concentrada no intervalo entre 110 mil e 120 mil pontos, o que implicaria um potencial de alta de 5,7% ante o fechamento desta terça-feira (16), aos 113.512 pontos. Na semana passada, por exemplo, o maior apetite ao risco contribuiu para ganhos de 6% do Ibovespa.

A China, contudo, pode representar um vento contrário. Diferentemente do mês passado, a maioria dos entrevistados disse não acreditar que o estímulo ao crescimento na potência asiática elevará os preços das commodities em 2022. O setor tem grande peso na Bolsa brasileira, por meio de empresas como Vale (VALE3), Petrobras (PETR3, PETR4) e siderúrgicas como Gerdau (GGBR4).

Para o dólar, os investidores estimam agora uma moeda mais desvalorizada em relação ao real. A fatia de gestores que veem a moeda negociada abaixo de R$ 5,10 em dezembro cresceu de 22%, em julho, para 50% no levantamento deste mês.

Com relação à taxa básica de juros, 56% dos gestores consultados veem a Selic encerrando o ano no patamar atual, de 13,75% ao ano, com 35% esperando novas altas nos juros até o fim do ano.

No que tange às eleições, 62% dos gestores dizem não estar preocupados com as eleições no Brasil, acima dos 45% apresentados no mês passado.

Mais consumo, menos utilities

O levantamento do BofA mostrou ainda uma mudança nas alocações, com investidores ampliando a exposição a empresas ligadas ao crescimento, após dados de inflação melhores que o esperado nos Estados Unidos e uma ata do Copom sugerindo o fim do ciclo de aperto monetário no Brasil.

Apesar de o setor financeiro liderar as maiores posições overweight (acima da média do mercado), o consumo discricionário passou a ocupar o segundo lugar nas preferências dos gestores da América Latina. Já as maiores posições underweight (abaixo da média do mercado) recaem sobre os setores de materiais, telecomunicações e utilities (serviços públicos).

Para a região, o maior risco, segundo os gestores consultados, é o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos. O cenário para commodities e lockdowns na China aparecem na sequência.

O estudo conduzido pelo Bank of America foi realizado neste início de agosto e contou com a participação de 34 gestores, que somam cerca de US$ 84 bilhões sob gestão.

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