Bloomberg — Pela primeira vez em quatro décadas, investidores nos EUA e em outras economias ricas buscam uma estratégia de portfólio que possa vencer a inflação elevada e a recessão ao mesmo tempo.
Ninguém sabe qual será o perfil dessa cartilha para a estagflação, mas uma coisa parece certa: incluirá alguns ativos de mercados emergentes.
Preços de ações e títulos de países mais pobres mergulharam este ano em meio ao aperto monetário do Federal Reserve, o banco central americano, e inflação ao consumidor fora de controle, e podem cair ainda mais se a economia global se estagnar. No entanto, algumas economias emergentes trazem antídotos para a estagflação: crescimento mais rápido, política acomodatícia e retornos ajustados à inflação. Isso pode abrir oportunidades em diversos ativos, como ações da Índia, o real e títulos chineses.
“A estagflação forçará investidores a procurar bolsões de crescimento no mundo, e mercados emergentes serão os primeiros da fila, especialmente aqueles mais imunes ao enfraquecimento da demanda global”, disse Trinh Nguyen, economista sênior do Natixis. “Países com mercados domésticos em forte crescimento, que não apenas protegem suas economias de uma recessão global, mas também se beneficiam dela, se sairão particularmente bem.”
A probabilidade de uma recessão nos EUA subiu para 50% pela segunda vez desde a crise financeira de 2008. A inflação na maior economia do mundo deu sinais de ter atingido um pico, mas deve permanecer muito acima da meta do Fed de 2% pelo menos até 2024. No Reino Unido e no resto da Europa, os preços ao consumidor ainda avançam, enquanto a crise de energia eleva a possibilidade de recessão.
Heróis do crescimento doméstico
Embora a estagflação nos EUA e na Europa possa prejudicar economias em desenvolvimento que dependem das exportações, pode colocar em vantagem nações com forte consumo interno e menor dependência de mercados ocidentais. Isso beneficiaria países com empresas focadas no mercado doméstico, e a Índia se destaca nesse aspecto.
Menos globalização, por favor
Em geral, países que oferecem algum tipo de isolamento relativo às economias ocidentais provavelmente atrairão o interesse de investidores. Isso poderia se traduzir em menor vulnerabilidade à inflação importada, menor necessidade de capital estrangeiro ou divergência de política monetária. Sue Trinh, chefe de estratégia macro para a Ásia da Manulife Investment Management, identifica a Indonésia, a Malásia e o Vietnã como exemplos.
O estímulo não está morto
O viés da China em direção a uma política monetária mais frouxa, uma tese defendida por investidores globais desde o início do ano, pode se tornar ainda mais atraente. O recuo da inflação às fábricas, o colapso do setor imobiliário e uma recuperação frágil agravada por focos de Covid levam autoridades a se comprometerem com uma política ainda mais frouxa.
E o Banco Popular da China comprovou este viés na segunda-feira ao cortar inesperadamente os juros de referência para empréstimos de um ano em 10 pontos-base, para 2,75%, a primeira redução de uma taxa-chave desde janeiro. A taxa de recompra reversa de sete dias foi reduzida de 2,1% para 2%. Alguns analistas agora preveem maiores ganhos para títulos da China, já que as medidas anunciadas na segunda-feira sinalizam um banco central possivelmente mais dovish à frente.
Vantagem em rendimentos
O Brasil é um oásis na América Latina, um continente onde o clima geral é de incerteza diante da inflação persistente e crescimento limitado devido ao aumento dos juros. O IPCA caiu em julho, em resposta a um dos ciclos de aperto monetário mais agressivos entre os mercados emergentes. Isso coloca o Brasil com rendimento real de 3,68 pontos percentuais, a maior taxa ajustada pela inflação entre países monitorados pela Bloomberg.
Dado que a estagflação tende a deixar a maioria dos países com juros reais anêmicos, o rendimento de títulos do Brasil seria atraente para operações de carry trade. Com retornos positivos, China e Vietnã também podem ter uma vantagem.
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