Bloomberg Línea — Com o crescimento dos modelos híbridos de trabalho e regionalização que vieram com a pandemia de covid-19, a demanda por aeronaves de menor capacidade deve aumentar. Ao menos é o que espera a Embraer (EMBR3), segundo relatório anual divulgado em julho.
A projeção da companhia é de que a demanda mundial por viagens aéreas, medida em receita por passageiro-quilômetro (RPK), cresça 3,2% ao ano nas próximas duas décadas, com os níveis voltando ao patamar pré-pandemia até 2024.
E ao que tudo indica, as expectativas estão no caminho certo. Durante a Labace, considerada a maior feira de aviação de negócios da América Latina, que aconteceu em São Paulo no início da última semana, cerca de 40 aeronaves estiveram em exposição, com participação de 95 expositores. O evento estava lotado com visitantes, dentre pilotos, executivos e potenciais clientes.
Em entrevista à Bloomberg Línea durante o evento, Brent Monroe, vice-presidente de vendas da divisão da Gulfstream para os Estados Unidos, Canadá e América Latina, afirmou que a América Latina tem grande relevância no portfólio da companhia, que conta hoje com 200 aeronaves na região, 50 delas no Brasil.
Nos últimos dez anos, conta, a frota latino-americana de aviões da companhia aumentou em 50% – e a expectativa é de que continue crescendo nos próximos anos.
Independentemente do cenário macro mais desafiador, Monroe afirmou que a demanda por aeronaves da empresa tem crescido, o que levou a Gulfstream, que é norte-americana, a contratar um representante no Brasil, para auxiliar os clientes locais.
Ele destaca um aumento da demanda devido à busca de executivos e empresas por maior flexibilidade, segurança e privacidade, em especial após a pandemia.
“Vemos hoje oportunidade. A demanda está subindo, então estamos nos posicionando para crescer”, disse.
A Gulfstream é uma das maiores empresas de aviões executivos do mundo, contando atualmente com mais de 3 mil aeronaves em serviço ao redor do globo.
Dentre as aeronaves mais conhecidas está a G650ER, modelo usado por bilionários como Elon Musk, CEO da Tesla (TSLA), Bill Gates, fundador da Microsoft (MSFT), bem como Jeff Bezos, fundador da Amazon (AMZN). O valor do jatinho está na casa dos US$ 70,5 milhões.
No Brasil, o empresário Abilio Diniz é conhecido por ter um avião da empresa, bem como o cantor Roberto Carlos.
Carros de luxo também são destaque
Além de jatinhos, carros de luxo também estão entre os produtos demandados pelos empresários.
Sergio Vladimirschi, vice-presidente da Comexport, uma das gigantes de comércio exterior, contou à Bloomberg Línea que mais do que as aeronaves, o maior percentual na receita da companhia está hoje nos carros, como Mercedes, Volvo e Toyota, cuja importação é mais recorrente.
Ele lembrou que a Mercedes fechou as fábricas no Brasil em dezembro de 2020 e que, desde então, os clientes têm contratado os serviços da Comexport para fazer a importação dos veículos, que vêm da Alemanha.
Na Labace, a Mercedes-Benz expôs o recém-lançado Mercedes-AMG EQS 53 4MATIC+, o primeiro carro elétrico da AMG a chegar ao Brasil. Com um preço na casa dos R$ 1,3 milhão, a oferta do veículo ainda é pequena no país, muito por conta da crise global de suprimentos.
O executivo destacou ainda o cenário desafiador, com aumento dos fretes devido à guerra da Rússia na Ucrânia e aos lockdowns na China.
“Um container da China para o Brasil custava cerca de US$ 1,2 mil antes dessa loucura toda. No fim de 2021, chegou a custar US$ 12 mil e agora, está em torno de US$ 8,5 mil”, afirmou.
Mesmo assim, a demanda continua aquecida. Em 2021, a empresa teve um crescimento de 25% e a expectativa é de que esse aumento continue este ano, disse.
Com relação aos jatos executivos, a empresa foi responsável pela importação de 14 das 33 aeronaves que estavam expostas na Labace este ano.
“O mercado de aviação está muito aquecido no mundo todo. Hoje, se for encomendar um avião, o prazo de entrega é entre dois e três anos. O mercado de usados também se valorizou. E o Brasil é um grande consumidor”, disse.
Além de empresários do agronegócio, que usam aviões como ferramenta de trabalho, Vladimirschi destacou o aumento da demanda após a pandemia, com executivos querendo trabalhar em diferentes lugares.
Diferentemente do mercado automotivo, que é mais regionalizado, Vladimirschi disse que o mercado de aeronaves é global, ou seja, se um brasileiro quiser comprar uma aeronave, ele vai concorrer com compradores chineses, americanos, entre outros.
Ainda entre os produtos mais importados por empresas brasileiras, Vladimirschi chama a atenção para painéis de energia solar não só por pessoas físicas (mercado telhadista) como também por grandes usinas. “O mercado brasileiro está se tornando um player gigante nesse segmento, mas tudo é importado. Temos o sol, mas não temos os equipamentos”, destacou.
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