Chocolate ESG: a aposta da Dengo no modelo que fez da Natura uma gigante global

Marca fundada por Estevan Sartoreli e Guilherme Leal aposta em diferenciais como uso de ingredientes brasileiros e remuneração de pequenos produtores

Cofundador da Dengo trouxe dos quase dez anos de Natura a aposta em ingredientes brasileiros e em práticas socioambientais
14 de Agosto, 2022 | 06:02 PM

Bloomberg Línea — Não adianta produzir um chocolate com pegada ESG, ou seja, com boas práticas socioambientais, se ele não for realmente gostoso. Essa é a tese de Estevan Sartoreli, CEO e cofundador da Dengo Chocolates.

“As pessoas não vão consumir nosso chocolate pela causa. Precisamos de um chocolate gostoso”, disse em entrevista à Bloomberg Línea.

PUBLICIDADE

Em cinco anos, a companhia se posicionou como uma das marcas preferidas da classe média-alta e alta de São Paulo - não há dados abertos de mercado. Entrou na pandemia com oito lojas e agora já são 30 em cinco estados mais o Distrito Federal, sendo uma delas a Fábrica de Dengo, loja conceito na avenida Faria Lima, em São Paulo.

A marca não divulga o faturamento, mas Sartoreli diz que já passa dos três dígitos - ou seja, acima de R$ 1 milhão ao mês, pelo menos - e que o plano de expansão continua sendo executado.

O CEO, que por quase uma década trabalhou na Natura (NTCO3), diz que a unidade na Faria Lima serve como uma espécie de laboratório. Há produtos exclusivamente produzidos e colocados à venda nesse endereço: quando bem aceitos pelo público, são levados a outros pontos da rede.

PUBLICIDADE

Sartoreli criou a companhia depois de sair da companhia de cosméticos e tirar um sabático. A Dengo foi fundada por Sartoreli junto com Guilherme Leal, um dos fundadores e copresidente do conselho de administração da Natura e um dos empreendedores brasileiros mais envolvidos com causas socioambientais e organizações da sociedade civil, há mais de 25 anos.

A Natura se tornou uma maiores empresas de cosméticos do mundo, dona da Avon e uma gigante com receita aproximada de R$ 35 bilhões por ano.

A Dengo se posicionou na faixa de chocolates premium do mercado brasileiro e faz uso de frutas e grãos que existem no país, de castanha-do-caju e cupuaçu a manga

A Dengo aposta na mesma fórmula que consagrou a Natura ao longo das últimas décadas: recorre ao diferencial de utilizar ingredientes tipicamente brasileiros, como castanha-do-caju, cupuaçu, frutas da Mata Atlântica e tapioca, entre outros, nos chocolates, aliado a processos socioambientais.

PUBLICIDADE

Entre as práticas, a marca paga aos produtores de cacau de 70% a 160% a mais que o preço da commodity em mercados de referência nos Estados Unidos, a depender da qualidade.

O cacau comprado pela companhia vem de pequenos e médios produtores no sul da Bahia, e a iniciativa de pagar acaba gerando uma progressão de renda, explicou Sartoreli. “Um produto que traz tanto prazer e felicidade, como o chocolate, não pode vir de uma cadeia de mazelas”, disse.

O cofundador conta que o estímulo a uma alimentação mais saudável é outro dos objetivos, com um produto que não contém conservantes, aromatizantes nem gordura hidrogenada, sob o mote de “mais cacau, menos açúcar”.

PUBLICIDADE

Para ele, muito do que a Dengo representa hoje vem do ideal que aprendeu e trouxe da experiência pela Natura. “Sem dúvida, os processos socioambientais da Natura foram importantes na intenção de trazer um chocolate justo e correto. A Dengo e a Natura têm duas coincidências: sócio em comum e ambas começaram muito pequenas,” disse Sartoreli.

Ele afirmou que ainda há pontos a melhorar, que são motivo de preocupação com a expansão: elevar as metas ambientais, entre elas os meios de transporte, tanto do cacau para a fábrica - que é feito de caminhão da Bahia para São Paulo - quanto da entrega ao cliente, o chamado last mile.

Ampliando o mercado

O CEO explicou que a intenção é fazer a marca crescer e aumentar o número de lojas. Um estudo de internacionalização está sendo feito atualmente para exportar produtos, mas ainda sem ações concretas. Uma nova loja conceito, como a da Faria Lima, também está nos planos.

Sartoreli contou também que há planos de reduzir os preços cobrados dos clientes, pontuando que a precificação é um dos desafios da companhia. Chocolates da marca estão na casa de dezenas ou até centenas de reais, a depender do produto e da quantidade.

“Nosso foco hoje é competir por qualidade, diferenciação. O chocolate da Dengo não é barato, mas é um preço justo”, afirmou.

“Não temos facilidade em dizer que não vamos poder oferecer reais por quilo mais barato, mas temos iniciativas para oferecer menores desembolsos. O formato a granel é a forma mais acessível e inclusiva. Se o cliente quiser consumir R$ 3,00 na Dengo, ele consegue.”

Sartoreli afirmou que o mercado de cacau no Brasil é muito competitivo e que sua marca, na sua avaliação, se compara a gigantes já consolidadas como Kopenhagen e Lindt.

“Há alguns que levam mais de 50% de açúcar na composição, gordura hidrogenada, aromatizante. A Dengo não tem isso. Não vamos ser barato a qualquer custo nem abrir mão do impacto socioambiental.”

Leia também

Por que este aeroporto no interior de SP atraiu de Musk à elite da Faria Lima

Bailarina, colecionador de Legos e kitesurfer: os hobbies de 7 CEOs brasileiros

Kariny Leal

Jornalista carioca, formada pela UFRJ, especializada em cobertura econômica e em tempo real, com passagens pela Bloomberg News e Forbes Brasil. Kariny cobre o mercado financeiro e a economia brasileira para a Bloomberg Línea.