Qual será o futuro das viagens?

Turistas parecem querer cada vez menos passar por experiências desafiadoras – e isso pode ser ótimo para quem tem espírito aventureiro

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Bloomberg Opinion — Recentemente viajei para Amritsar, no estado de Punjab, na Índia. O Templo Sikh Golden é uma das principais atrações do local, e, em determinado momento, dividi o espaço com milhares de pessoas ao longo de quatro ou cinco horas. Durante esse tempo, vi apenas duas pessoas que poderiam ser qualificadas como “ocidentais brancos”.

Essa simples observação – e minhas viagens recentes à Dinamarca, Suíça, Irlanda, Portugal, México, Inglaterra, Argentina e Colômbia – me levaram a uma teoria sobre o futuro das viagens: o mundo está entrando em uma nova era na qual as viagens exóticas são mais para uma elite de viagens do que para uma elite com dinheiro.

As viagens internacionais estão se recuperando em locais “centrais” confortáveis (para os americanos, pelo menos), como México, Londres ou Dublin. Mas as pessoas estão menos interessadas em ir mais longe. As “viagens de conforto” – ou seja, não apenas hotéis agradáveis, mas um ambiente familiar – estarão em alta, já as “viagens de aventura” – envolvendo não apenas lugares distantes mas também experiências diferentes – enfrentam um futuro mais incerto.

Não se trata apenas de minha própria experiência. Um colega que visitou Rajasthan relatou que seu guia contou que não trabalha com nenhum turista estrangeiro há mais de dois anos. Os chineses, os viajantes mais frequentes do mundo, reduziram suas viagens internacionais em 95% em 2021. Tomemos como exemplo a ilha de Bali, que é reconhecidamente luxuosa, mas ainda assim, para muitos ocidentais, exótica. Anteriormente, era um importante destino turístico para norte-americanos, europeus e asiáticos, com 6,3 milhões de visitantes estrangeiros durante o auge pré-pandemia. Ao longo de 2021, registrou apenas 45 visitantes estrangeiros – e estima-se que a ilha levará 10 anos para voltar aos níveis anteriores.

Uma possibilidade é que o turismo internacional logo retorne à sua composição de 2019, à medida que as pessoas superem suas inibições e se preocupem menos com o risco de covid. Mas tenho minhas dúvidas.

Por um lado, as viagens nacionais dentro dos Estados Unidos já se recuperaram. É difícil conseguir reservas para os parques nacionais do país, e os estados de West Virginia e Maine estão desfrutando de uma nova prosperidade. A maioria das pessoas está voando e passando pelos aeroportos sem máscaras – sinal de algum conforto com o risco de covid. E Londres, Dublin e Oaxaca tiveram muitos turistas norte-americanos. As pessoas parecem conseguir matar a sede de viagem sem ir muito longe ou correr muitos riscos.

Outro problema é que partes significativas da Ásia ainda não voltaram ao normal. A China está seguindo uma política de “Covid Zero”, e as quarentenas desencorajam os visitantes estrangeiros. O Japão ainda não está aberto a visitantes estrangeiros desacompanhados, e o uso de máscaras é obrigatório. Embora essas restrições sejam encerradas em algum momento, as pessoas estão deixando de pensar na Ásia como um importante destino turístico. Eu até mesmo relutei em fazer escala em Tóquio, como fiz outras vezes, por medo de que, se meu voo fosse cancelado, eu não poderia passar a noite em Narita e comer sushi.

Quando as pessoas são obrigadas a se adaptar, como no auge da pandemia, elas aprendem coisas novas. O que muitos americanos e ocidentais aprenderam é que gostam de “viagens de conforto” e de “viagens de aventura” da mesma forma – até mais das viagens de conforto. Muitos dos novos hábitos vão continuar. As preferências dos turistas em viagens de conforto tenderão a pesar na escolha de um destino, principalmente em viagens em grupo.

Uma verdade meio lamentável é que muitas pessoas não gostam muito de viagens de aventura, que podem ser estressantes e parecer até seu trabalho. Quando as pressões sociais e grupais em prol de uma viagem de aventura forem removidas ou atenuadas, elas provavelmente diminuirão, embora os turistas mais ferrenhos de viagens de aventura continuem viajando e talvez até ampliem suas ambições.

As viagens de aventura podem então acabar menos populares e mais intensas. Nesse sentido, elas podem remontar a uma era anterior das viagens, na qual riscos e dificuldades estavam sempre presentes e as surpresas eram frequentes. Era uma época em que não havia um Starbucks em cada esquina.

Nesse ressurgimento das viagens exóticas, haverá menos incentivos para que as coisas sejam confortáveis e fáceis. Os turistas que procuram viagens verdadeiramente exóticas encontrarão novas oportunidades, e os preços continuarão baixos ou talvez caiam ainda mais. A infraestrutura turística do entorno provavelmente não vai evoluir em direção à familiaridade. Se você é um turista de aventura, talvez seu destino favorito não acabe arruinado.

Esta bifurcação das viagens entre conforto e aventura não beneficiará a todos. Muitas pessoas vão ficar na zona de conforto, optando por viajar para Cabo em vez da selvagem costa do Pacífico da Colômbia. Eles não experimentarão o mundo das viagens de aventura. Mas tudo bem. Eu, por exemplo, não vou sentir falta deles.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Tyler Cowen é colunista da Bloomberg Opinion. É professor de economia na George Mason University e escreve para o blog Marginal Revolution. É coautor de “Talent: How to Identify Energizers, Creatives, and Winners Around the World.”

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