Por que empresas como Google e Chevron estão aderindo à fusão nuclear

Expectativa para 2022 é que o financiamento para projetos dessa fonte de energia ultrapasse US$ 1 bilhão

Google Inc.
Por Mark Bergen
11 de Agosto, 2022 | 07:14 PM

Bloomberg — A energia nuclear está em seu ápice. A Europa recentemente adotou títulos verdes para a fonte de energia, e a Alemanha sinalizou que pode abandonar seus planos de fechar as instalações nucleares por conta da crise de energia que o país atravessa.

O Vale do Silício, na Califórnia, também adotou a chamada fusão nuclear, tecnologia que promete energia abundante, barata e limpa - e disponível em um futuro não muito distante.

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O novo pacto climático do Senado americano inclui financiamento federal e incentivos para a modalidade energética, com base no financiamento do ano anterior. Agora, as empresas também estão apostando no setor, investindo cada vez mais dinheiro em projetos que visam transformar a teoria na realidade.

No mês passado, a TAE Technologies, uma empresa de fusão nuclear localizada no sul da Califórnia, levantou US$ 250 milhões em investimento. Analistas do setor descrevem o foco da empresa, que requer a criação de uma reação de fusão em calor incrivelmente alto, como talvez a maior aposta científica no campo.

O financiamento mais recente da empresa não veio de investidores de risco ou de tecnologia, que geralmente são quem patrocinam grandes experimentos científicos.

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Desta vez, o braço de risco da Chevron (CVX) é quem bancou o investimento, assim como o Google e a Sumitomo, uma trading japonesa que fez seu primeiro investimento no setor com a promessa de levar o sistema para a Ásia.

Michl Binderbauer, diretor executivo da TAE, diz que mais parcerias corporativas estão acontecendo depois que sua empresa teve um avanço importante na construção de reatores.

O plano da TAE é fornecer energia às redes até 2030, proporcionando uma “comercialização mais ampla” na próxima década. “Estamos muito próximos do que a máquina precisa fazer”, diz Binderbauer.

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Investidores privados investiram um recorde de US$ 3,4 bilhões em fusão nuclear no ano passado, segundo a empresa de pesquisa Pitchbook. Bilionários como Bill Gates e Jeff Bezos se juntaram a rodadas apoiando dezenas de novos empreendimentos no setor. O cofundador da Microsoft (MSFT), Paul Allen, é um dos que financiou a TAE.

Mas essas empresas adotaram abordagens diferentes para o processo de fusão de longo prazo, mas têm uma sede semelhante por fundos. A TAE levantou US$ 1,2 bilhão desde que foi fundada em 1998, a Commonwealth Fusion Systems, uma novata de Boston, levantou US$ 1,8 bilhão somente no ano passado, enquanto a Helion Energy completou uma rodada de US$ 500 milhões em 2021.

Chris Gadomski, analista de energia da BloombergNEF, espera que o financiamento geral de fusão nuclear este ano ultrapasse US$ 1 bilhão, apesar de uma certa retração nos investimentos. E as fontes desse dinheiro contam uma história sobre essa indústria.

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Quando há uma grande quantidade de ricos investidores individuais, “não importa se eles perdem um bilhão de dólares”, diz Gadomski. “Quando você vê outras empresas entrando no mercado, isso diz que há um escrutínio muito mais minucioso e está se aproximando da realidade.”

Um porta-voz da Sumitomo disse que o investimento faz parte de um plano para desenvolver um “ecossistema” em torno da fusão nuclear, “expandindo finalmente suas capacidades no negócio de produção de energia”.

A Chevron disse que vê a fusão como “uma promissora fonte futura de calor e energia de baixo carbono”, e observou que já apoiou a startup de fusão nuclear Zap energy, disse um porta-voz. O Google (GOOGL), que financiou a Commonwealth, se recusou a detalhar seu investimento.

A TAE está contando com uma abordagem incomum para tornar a fusão em realidade, fundindo hidrogênio com boro, um material usado em combustível de foguete, em um campo magnético, sob uma temperatura escaldante. Ao anunciar o financiamento, a TAE afirmou que seu atual reator de teste conseguiu manter o plasma estável a 75 milhões de graus Celsius - mais do que o dobro do calor que inicialmente pretendia.

De acordo com Binderbauer, uma das principais razões para o progresso recente da TAE não foi o equipamento mais caro, mas os avanços no software de inteligência. “O protótipo do reator funciona sozinho”, explica ele.

Quando Gadomski visitou as instalações da TAE, pouco antes da pandemia, ele se lembrou de ter visto uma dúzia de engenheiros do Google conectando a máquina a portas de coleta de dados.

O desafio há anos tem sido alcançar a energia líquida, onde a energia produzida excede a energia usada, batendo os átomos juntos em vez de dividi-los. As empresas que lidam com o problema são, de certa forma, beneficiárias de todos os investimentos das empresas de tecnologia “para tornar essas coisas mais rápidas”, diz Binderbauer, segurando seu smartphone com um sorriso. “Um ou mais de nós vão chegar lá.”

Cada máquina TAE custa mais de US$ 250 milhões, disse Binderbauer. O modelo atual da TAE é do tamanho de um ônibus de dois andares e há planos de usar os novos fundos para construir uma máquina ainda maior, chamada Copernicus, para repetir o teste com o dobro da temperatura.

Em 2017, a TAE formou uma subsidiária médica para comercializar componentes de sua tecnologia para pesquisa do câncer, uma chance de ganhar dinheiro de verdade.

Multinacionais como o Google e a Chevron provavelmente não estão investindo apenas para obter retornos financeiros. Eles querem exposição a essa pesquisa de ponta e também sair na frente, se eventualmente os testes funcionarem, embora Binderbauer diga que o financiamento recente não dá aos financiadores acesso exclusivo à tecnologia da TAE.

O estrategista da Bloomberg Intelligence, Mike Dennis, estimou o eventual mercado de fusão nuclear em US$ 40 trilhões. Mesmo que sua contribuição inicial para a produção total de energia do mundo seja pequena, Dennis disse que a fusão irá refazer os mercados de energia da mesma forma que a Tesla refez a indústria automobilística.

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