Bloomberg — Após ganharem com apostas em um dos ciclos de apertos monetários mais agressivos do mundo, alguns gestores estão começando a se posicionar na ponta oposta.
A SPX Capital, cujo fundo Raptor está batendo 99% dos pares neste ano, e a Ibiuna Investimentos, que tem mais de R$ 30 bilhões sob gestão, montaram posições aplicadas em juros no Brasil - apostando na queda das taxas. A Genoa Capital, fundada por veteranos da unidade de gestão de ativos do Itaú Unibanco, disse a cotistas que zerou posições tomadas em julho.
“Estamos namorando - mas não casados” com posições aplicadas em juros em países emergentes, disse Rodrigo Azevedo, sócio-fundador da Ibiuna Investimentos e diretor de política monetária do Banco Central do Brasil entre 2004 e 2007. A inflação no Brasil começou a virar, mas a questão é quão rápido será esse movimento, disse Azevedo, em um evento no início do mês.
A mudança no posicionamento dos fundos locais ocorre em meio à sinalização do Banco Central de que o ciclo de alta da Selic de 11,75 pontos percentuais está perto do fim. Isso levou à queda dos juros futuros, com as taxas com vencimento em janeiro de 2025 recuando 66 pontos-base ao longo da última semana. A aposta em queda das taxas ganhou impulso depois que a inflação nos EUA desacelerou mais do que o previsto na quarta-feira (10), provocando uma alta nos ativos de economias emergentes.
Embora o pico possa ter chegado para a inflação e a Selic, as incertezas fiscais permanecem elevadas e os investidores se preparam para o que deve ser uma eleição presidencial acirrada em outubro. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas, sinalizou que aumentará os gastos públicos caso retorne ao poder, enquanto o presidente Jair Bolsonaro recentemente embarcou em uma onda de ampliação de gastos para impulsionar sua popularidade.
Os multimercados ganharam com apostas em alta de juros no Brasil ao longo do ano passado e gradualmente foram mudando suas posições para países desenvolvidos - incluindo o “short” em Treasuries nos EUA que impulsionou os retornos do primeiro semestre. O Anbima Hedge Funds Index subiu 8,3% nos primeiros seis meses do ano - o melhor retorno em um primeiro semestre desde 2016.
Veja o que alguns dos principais fundos multimercado disseram em suas cartas mensais de julho:
Absolute
Fundo voltou a ter posições tomadas em juros curtos americanos e aumentou marginalmente exposição vendida em bolsa nos EUA. Localmente, zerou posição tomada em juros nominais. Com pacote fiscal do governo brasileiro, atividade deve se manter resiliente por mais tempo, apesar do alto grau de aperto da política monetária.
- Absolute Vertex FIC -0,42% em julho; taxa de referência CDI +1,03%
Adam Capital
Incertezas seguem elevadas mesmo com momento favorável para ativos de risco. Fundo vê maior probabilidade de um cenário de normalização dos preços de ativos, compatível com um cenário de desaceleração econômica.
- Adam Macro II FIC +2,11% em julho
Bahia Asset Management
Ativos domésticos foram impulsionados por melhora no ambiente de risco global e recuperação das commodities em julho. Fundo tem posições tomadas em juros no Canadá.
- Bahia AM Marau FIC -1,04% em julho
Genoa Capital
Gestora encerrou posição vendida em real contra o dólar e zerou posição tomada em juros nominais. Fundo está liquidamente comprado em bolsa brasileira.
- Genoa Capital Radar FIC FIM +1,18% em julho
Ibiuna Investimentos
Risco em renda fixa no Brasil está concentrado em posições aplicadas em juros nominais e reais, assim como operações de valor relativo nas curvas de juro real e de implícitas. Fundo reduziu taticamente posições tomadas em juros em países do G10, enquanto possui baixa exposição direcional em moedas.
- Ibiuna Hedge STH FIC -2,06% em julho
Kapitalo Investimentos
Fundo manteve posições vendidas em inflação no Brasil, reduziu posições compradas e de valor relativo na bolsa brasileira, e aumentou posições vendidas em índices globais.
- Kapitalo Kappa FIN FI +2,20% em julho
Legacy Capital
Gestora projeta crescimento do PIB brasileiro de 2,3% em 2022. Ambiente global favorece posições compradas em inclinação de juros, vendidas em bolsa e vendidas em dólar e euro contra outras moedas.
- Legacy Capital FIC -0,26% em julho
SPX Capital
Fundo zerou posições compradas em ações na China, enquanto segue vendido em EUA, Europa e Brasil. Fundo está aplicado em juros no mercado local.
- SPX Nimitz Feeder FIC -1,19% em julho
Verde Asset Management
Estreitamento da diferença entre Bolsonaro e Lula é “bastante provável” ao longo dos próximos meses. Fundo reduziu alocação em bolsa global e manteve posição em ações brasileiras. Em moedas, zerou posição comprada no real via opções.
- Verde FIC FIM +1,54% em julho
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