Bloomberg Línea — O setor de educação foi um dos mais impactados pela pandemia, com a suspensão de aulas presenciais e níveis de inadimplência e evasão mais elevados, em especial no ensino superior. A volta gradual ao presencial evidencia um novo modelo de negócios, com um mix em que as aulas à distância ganham peso crescente e impactam os indicadores dos maiores grupos do setor. Soma-se a isso a piora das condições econômicas, com o aumento da inflação e dos juros impactando a renda disponível.
Para a Cogna (COGN3), maior grupo de educação do país, o ambiente mais adverso se refletiu de duas formas no resultado do segundo trimestre, divulgado na noite de quinta-feira (11): no lado operacional, com efeitos negativos mitigados em razão de medidas de ganho de eficiência que vêm sendo tomadas há dois anos como parte de um processo profundo de reestruturação, principalmente da Kroton, a sua empresa de ensino superior que responde por cerca de 80% da receita líquida total.
Foi o quinto trimestre seguido de aumento do Ebitda recorrente (um indicador de geração de caixa operacional), com melhora da margem na Cogna e na queda da receita da Kroton.
Por outro lado, o aumento da taxa básica de juros - que passou de 4,25% para 13,25% ao ano em 12 meses - encobriu essa evolução operacional na comparação da “última linha” do balanço, em decorrência do impacto negativo das despesas financeiras (houve aumento de 86% nesse indicador no segundo trimestre na comparação anual, de R$ 199,6 milhões para R$ 371,4 milhões). No fim, a Cogna teve perda de R$ 101 milhões entre abril e junho, mais do que o dobro do que no mesmo período do ano anterior.
“Os resultados [operacionais] são reflexo da reestruturação forte na Kroton, da migração do portfólio de cursos para que seja mais digital - e quanto mais isso avança, maior a alavancagem operacional, porque é o mesmo custo fixo marginal, e isso gera aumento de rentabilidade -, e da reestruturação na Vasta, com corte de custos e aumento da receitas com qualidade, porque são de subscrição”, disse Roberto Valério, CEO da Cogna, à Bloomberg Línea.
O Ebitda recorrente avançou 11,4% na base anual, para R$ 355 milhões, enquanto a margem Ebitda recorrente subiu 3,1 pontos percentuais (p.p.), para 30,7%. No semestre, o Ebitda recorrente cresceu 17,7%, para R$ 756,7 milhões, enquanto a margem Ebitda recorrente ficou em 32,4%, quatro pontos acima do mesmo período do ano anterior.
Outro destaque apontado pelo executivo foi o crescimento de 47,6% na geração de caixa operacional pós-Capex, que atingiu R$ 290,8 milhões nos seis primeiros meses deste ano - os dados foram mencionados nessa base por causa da antecipação de receitas no primeiro trimestre de 2021.
Provisões em queda
O aumento da margem e da geração de caixa reflete também medidas que levaram, por exemplo, ao aumento de receitas com o pagamento de mensalidades em dia na Kroton.
Apesar do quadro de juros elevados, as provisões para eventual inadimplência (PCLD) diminuíram, passando do equivalente a 18,1% da receita líquida no segundo trimestre de 2021 para 13,2% no mesmo período deste ano, em razão do que o executivo descreveu como melhor gerenciamento das contas a receber. Um exemplo é a contínua redução do peso do programa de empréstimo privado (PEP) nas receitas.
As receitas líquidas da Kroton totalizaram R$ 927 milhões de abril a junho, com 3,4% de queda na comparação anual. No primeiro trimestre de 2021, essa queda chegava a quase 20%. A trajetória contínua de melhora permite antever que o ponto de inflexão poderá ser atingido ainda no terceiro trimestre, antes, portanto, da virada de 2022 para 2023, como sinalizado anteriormente, disse Valério.
“Lá no começo de 2021, falamos que o objetivo era primeiro retomar a rentabilidade e depois o crescimento, buscando ambos ao mesmo tempo. Este tem sido o ano de retomar o crescimento, impulsionado mais pelo resultado de Vasta, mas agora também pelo de Kroton”, disse o executivo.
Em um sinal de que as avaliações do mercado sobre a empresa estão mudando, as ações da Cogna acumulam alta de 6% neste ano. O Ibovespa sobe 4,7% em 2022.
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