São Paulo — A BRF (BRFS3), dona de marcas como Sadia e Perdigão, expressou pessimismo com o andamento do plano de retomar as exportações para a Europa. Durante teleconferência com analistas nesta quinta (11) para comentar o balanço trimestral, o CEO da companhia, Lorival Luz, descartou a volta das vendas para o velho continente no curtíssimo prazo.
Entre os meses de abril e junho, a companhia - também dona das marcas de margarinas Qualy, Claybom e Deline - registrou um prejuízo líquido de R$ 451 milhões, um Ebitda ajustado de R$ 1,368 bilhão, com margem de 10,6%. Já a receita líquida cresceu 11,2%, somando R$ 12,939 bilhões, em 12 meses.
Em 2018, o frigorífico foi proibido de exportar carne de frango para a União Europeia, após investigação da Polícia Federal sobre presença da bactéria salmonela acima do limite permitido.
“Estamos 100% alinhados com o nosso conselho atual. Temos a mesma prioridade de trabalhar de forma incansável para a volta da Europa, mas não considero que essa retomada aconteça no curto prazo”, disse o executivo, em resposta a uma questão do analista do banco JPMorgan.
Luz reconheceu que o “ambiente não é favorável à reabertura” para a BRF e que não depende só dos esforços da companhia.
“É um ambiente complexo de relação diplomática, de acordos a serem estabelecidos entre Brasil e o mercado comum europeu. Não vejo isso acontecendo no curto nem curtíssimo prazo”, enfatizou.
Copa do Catar
Se o acesso ao mercado europeu ainda é uma incógnita, a aposta no mercado asiático segue forte. Com a Copa do Mundo de futebol no Catar, a partir de novembro, a BRF espera aproveitar o aumento da demanda no mercado árabe devido ao maior fluxo de consumidores.
“A população vai dobrar: são 2 milhões de habitantes do Catar e mais 2 milhões de turistas hospedados não só lá, mas também nos Emirados Árabes e Árabia Saudita, pois o Catar não tem capacidade de hotelaria para todo mundo”, comentou o executivo.
Ele apontou que o foco do segundo semestre é a geração de caixa e o resultado líquido da companhia, a fim de melhorar seus indicadores operacionais e financeiros, além de atualizar suas prioridades para os próximos anos. “Estamos também trabalhando na revisão de nosso plano estratégico”.
O CEO espera um efeito positivo de medidas governamentais de transferência de renda, como o Auxílio Brasil, no desempenho da companhia.
“A liberação dos programas sociais injeta recursos na economia, que podem ser direcionados ao setor de alimentos. A BRF está bem posicionada para capturar isso”, indicou.
O futuro dos preços dos seus produtos no mercado internacional, o aumento dos custos, impactados pela recente disparada dos combustíveis, e a perda do poder de compra da população devido às pressões inflacionárias compõem, segundo o CEO, um cenário desafiador.
“O segundo semestre exige nossa cautela e prudência com todas as variáveis que podem impactar nosso negócios”, comentou.
Estoques
O comando da BRF também foi questionado sobre o risco da escassez de estoques de insumos como ovos e grãos, efeito colateral da guerra entre Rússia e Ucrânia, uma das maiores produtoras mundiais de milho, por exemplo.
“A redução de estoque não vai acontecer. Temos uma gestão eficiente. Jamais faremos algo que coloque em risco a oferta de insumos para a alimentação de nossos animais”, enfatizou Luz.
Ele comentou ainda os casos de gripe aviária nos EUA e na Europa, que continua impactando o setor, apesar de não estar em uma situação “catastrófica”.
Nova fábrica
O crescimento de receita da BRF no segundo trimestre foi puxado tanto pelo Brasil quanto pelo segmento internacional. No mercado doméstico, o faturamento somou R$ 5,5 bilhões, crescimento de 12,4% na base anual.
No mercado externo, a companhia enfatizou que o Ebitda do segmento atingiu R$ 868 milhões, aumento de 40,3% em 12 meses, com margem de 14,2%, uma performance atribuída às exportações diretas para Américas e o desempenho do segmento Halal DDP (voltado para o padrão alimentar do Oriente Médio).
Em junho, a BRF inaugurou sua nova fábrica em Dammam, na Arábia Saudita, que tinha sido adquirida em janeiro de 2021, antes de receber investimentos de cerca de US$ 18 milhões, que elevaram sua capacidade de produção mensal para 1,2 mil toneladas de alimentos mensalmente.
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