Como o juro alto e o cenário macro impactaram a rentabilidade dos bancos

Itaú, BTG Pactual, Santander e Bradesco conseguem preservar ou até ampliar o retorno no segundo trimestre, com estratégias diferentes caso a caso

Aumento da rentabilidade foi um dos destaques do resultado do segundo trimestre do BTG Pactual, segundo analistas
10 de Agosto, 2022 | 05:07 PM

São Paulo — Os efeitos do cenário macroeconômico adverso, com juros altos, aumento da inadimplência e mercado de capitais em ritmo mais lento de operações, estavam entre as principais preocupações de analistas e investidores antes do início da divulgação dos resultados dos maiores bancos do país.

A análise preliminar dos balanços aponta que os maiores players não só conseguiram manter o crescimento como preservaram a rentabilidade e colheram frutos da diversificação de negócios, ainda que tenham saído com impactos em indicadores chave como provisões e despesas administrativas.

O BTG Pactual (BPAC11) apresentou até aqui a maior rentabilidade entre os grandes bancos privados brasileiros, com um ROEA (retorno sobre o patrimônio líquido ajustado) de 21,6%, acima dos 21% um ano antes. O CFO do BTG Pactual, Renato Cohn, disse que o grupo financeiro trabalha para que esse indicador fique acima da casa dos 20% e espera também aumentar a carteira de crédito até o fim do ano, mantendo o mesmo nível de spread e uma provisão “adequeda”.

“É um soft guidance. É difícil ter essa precisão trimestre a trimestre. No longo prazo, com o crescimento de nossas áreas e de nossas receitas, essa tendência de crescimento do ROE deve continuar, e trabalhamos para conseguir manter essa rentabilidade”, afirmou o executivo em teleconferência na terça-feira (9).

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O Itaú Unibanco (ITUB4) apresentou o maior avanço entre os grandes bancos na rentabilidade: o ROE aumentou quase dois pontos percentuais em um ano, de 18,9% para 20,8%. E 0,4 ponto percentual na base trimestral. O resultado foi bem avaliado por analistas de mercado.

“O negócio de atacado foi o principal destaque mais uma vez, com ROE em 31,6% (vs. 24,4% no último trimestre e representando cerca de 60% do lucro total), enquanto o ROE no braço de varejo caiu para 16,5% (vs. 18,1% no primeiro trimestre), representando 35% do lucro total”, escreveram os analistas Eduardo Rosman, Thiago Paura, Ricardo Puchpiguel e Vitor de Melo, da equipe de Equity Research do BTG Pactual.

No Santander (SANB11), a rentabilidade medida pelo ROAE avançou do primeiro para o segundo trimestre de 20,6% para 20,8%, um patamar considerado alto, mas abaixo dos 21,6% registrados no mesmo período de 2021. Analistas da Eleven apontaram que a rentabilidade foi beneficiada pela menor alíquota de imposto.

O Bradesco (BBDC4) teve a menor rentabilidade entre os pares, de 18,1%, mas 50 pontos base acima da registrada no mesmo período do ano passado. O indicador foi alvo de atenção especial do CEO do banco, Octavio de Lazari, na apresentação de resultados, ao evidenciar o tradeoff escolhido.

“Realizamos ajustes em nossos modelos ao longo dos últimos trimestres e assim devemos crescer em ritmo mais moderado, mas mantendo a rentabilidade de nosso portfólio”, disse Lazari em comunicado. Na comparação com o primeiro trimestre de 2021 (18,0%), o ROE ficou praticamente estável.

“A diversificação de nossas fontes de resultados e a capacidade de administrar riscos nos permitiu operar com segurança, mantendo nossa capacidade de entregar bons resultados”, disse o CEO.

O BTG Pactual divulgou um lucro recorde de R$ 2,17 bilhões entre abril e junho, acima das expectativas do mercado. Analistas do Goldman Sachs destacaram o ROEA em relatório e mantiveram a recomendação de compra para o papel, com preço-alvo de R$ 37 (12 meses). As ações fecharam negociadas a R$ 24,34 na terça-feira, o que significa que há um upside da ordem de cerca de 50%.

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Para o CFO do BTG, a estratégia é continuar reforçando as relações com os clientes e esperar que o cenário macroeconômica ofereça melhor visibilidade ao mercado no fim do ano, após a definição da disputa presidencial, principalmente sobre a política fiscal a ser adotada pelo próximo governo.

Renato Cohn disse prever que o compasso de espera vigente se estenda pelos próximos meses no mercado de renda variável, com as companhias ainda receosas de lançar ofertas públicas iniciais (IPO) ou subsequentes de ações (follow-on) antes de um desfecho da corrida eleitoral.

O destaque da plataforma de investimentos do BTG no primeiro semestre foi a renda fixa, segundo o CFO, que destacou a maior atratividade da categoria em cenário de inflação e juros elevados.

Cautela e corporate

O tom de cautela sobre o futuro da economia foi destacado pelo CEO do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho em teleconferência com analistas também na terça.

Segundo o executivo, conter o aumento das despesas e reforçar os controles na concessão de crédito, como frear a emissão de cartões e reduzir os limites de clientes em atraso, estão entre as medidas citadas para manter em patamares “comportados” os níveis de inadimplência.

Mas a cautela não impede o aumento dos investimentos e das contratações. No BTG Pactual, isso vale principalmente para a área de tecnologia, para o desenvolvimento de novos produtos.

“Vamos continuar expandindo nossas equipes, embora não mais no ritmo de dois anos atrás”, ressalvou Cohn, descartando eventual pressão adicional nos custos.

O executivo do BTG afirmou ainda que a área de empréstimos para o segmento corporate, de grandes empresas, também oferece espaço para adicionar rentabilidade ao banco. O portfólio de crédito para o segmento, que oferece menor risco, cresceu 6% na base anual, para R$ 98,2 bilhões.

No Santander, a carteira de empréstimos para grandes empresas foi a que mais cresceu no segundo trimestre na comparação com o primeiro (+6,6%), embora na base anual tenha recuado. São operações que, embora apresentem menor risco, possuem também uma margem menor, contribuindo menos com a rentabilidade - e a escolha por esse mix foi destacada na call de resultados.

Inadimplência

Cohn também falou sobre o trajetória da taxa Selic, elevada para 13,75% ao ano na semana passada. Ele avaliou que, do “grande susto” com o cenário inflacionário no primeiro semestre, a situação já se mostra mais controlada - o IBGE divulgou ontem (9), por exemplo, deflação em julho.

A inadimplência de pessoa física, no entanto, não é uma preocupação para o BTG, diferentemente de Bradesco, Itaú e Santander, dado que o banco de investimento não tem exposição relevante a crédito pessoal nem ao perfil de cliente de renda mais baixa. “Não vimos nenhuma alteração para nosso cliente de private banking. Não tem nenhum efeito de aumento de inadimplência no banco”, disse Cohn.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.