XP supera ‘bear market’ e bate recorde de receita no segundo trimestre

A corretora teve uma receita de R$ 3,6 bilhões; CFO Bruno Constantino diz que XP deseja comprar as ações da empresa que ainda estão com o Itaú

XP teve queda na margem Ebitda ajustada em razão de aumento de despesas relacionadas a novas verticais e assessores de investimento
09 de Agosto, 2022 | 07:51 PM

Leia esta notícia em

Inglês

Bloomberg Línea — A XP Inc. (XP) divulgou receita recorde de R$ 3,618 bilhões no segundo trimestre, um crescimento de 13% em relação ao mesmo período do ano passado, mesmo com o “bear market” (mercado em baixa) que impactou os negócios de investimentos. O alta foi impulsionada por produtos de renda fixa para investidores de varejo.

O Ebitda ajustado ficou em R$ 1,2 bilhão, com uma queda de 2% no ano contra ano. A margem Ebitda ajustada foi de 35,4%, abaixo dos 41,3% um ano antes, segundo a XP, em razão de aumento de despesas administrativas e gerais relacionadas a novas verticais e assessores de investimento.

Segundo o CFO Bruno Constantino, o maior impacto foi o investimento em novas iniciativas como cartões, conta bancária, plataforma de investimentos no exterior e a XTAGE, para investimentos nas criptomoedas bitcoin e ether.

“Esperamos que esses negócios escalem. As margens estão saudáveis e mostram a resiliência do negócio”, afirmou o diretor financeiro, durante videoconferência com investidores na noite de terça-feira (9).

PUBLICIDADE

O cenário em que novos brasileiros abriam contas e investiam deixou de existir com a virada do mercado em razão do aumento dos juros, segundo Constantino, mas a empresa pretende engajar os clientes que já possui e conquistar uma fatia maior da carteira de ativos desses clientes - que hoje estão em outras instituições. A margem de receita ajustada ficou acima de 30%.

O lucro bruto foi de R$ 2,5 bilhões no segundo trimestre e a margem bruta foi de 72%, 1,5 ponto percentual acima do mesmo período de 2021. A receita com cartão de crédito foi de R$ 116 milhões.

“Temos um banco agora porque vimos que precisamos ir além de investimentos para servir nossos clientes. Somos uma plataforma de investimentos que comprou um banco”, disse Constantino. A XP comprou o Banco Modal por R$ 3 bilhões em janeiro deste ano. A transação ainda precisa ser aprovada pelo Banco Central - que teve processos atrasados por causa da greve de funcionários - e pela SEC, o equivalente da Comissão de Valores Mobiliários nos EUA. O órgão antitruste, o Cade, já aprovou a aquisição.

“Equities e futuros eram mais de 1/3 da nossa receita total e agora representam 20%. É um impacto do ambiente macro. Afeta o negócio, mas mais do que compensamos isso com outras verticais. Contudo cartões de crédito têm uma margem menor. É uma mistura de portfólio”, explicou aos investidores em teleconferência após a divulgação do resultado.

O lucro líquido da XP atingiu pouco mais de R$ 1 bilhão entre abril e junho, um crescimento de 6% em relação ao primeiro trimestre. A XP atingiu R$ 846 bilhões ativos sob custódia no fim de junho, uma alta de 4% em relação ao mesmo período em 2021.

XP vs. Itaú

Durante conferência com investidores na manhã de terça-feira para reportar seus resultados, o Itaú disse que não tem pressa para vender as ações da XP que ainda possui e que o banco tem seu preço-alvo para realizar a operação. As ações da XP negociadas na Nasdaq caíram cerca de 50% nos últimos 12 meses, em linha com a queda de empresas de tecnologia também por causa da alta dos juros.

“O que posso dizer é que, com base em conversas com os investidores, há demanda pelas ações. Não é um problema de demanda”, disse Constantino, da XP, respondendo aos acionistas. “Sei que alguns investidores já tiveram conversas diretas com o Itaú. Nossa posição para o Itaú é que, se eles quiserem vender, estamos aqui para ajudar da melhor maneira, e, a propósito, nós queremos comprar essas ações”, disse.

PUBLICIDADE

A XP tem feito recompra de ações neste ano e adquiriu ações de classe B em poder do Itaú quando o banco decidiu desmontar a posição para menos de 10% do capital total na empresa. “Estamos prontos para comprar mais se eles quiserem. Só podemos comprar ações de classe B no programa de recompra. Mas dependemos do Itaú. São ações deles, não nossas, infelizmente.”

Alfinetando o antigo controlador, Constantino lembrou que o banco acabou de comprar a corretora Avenue, aumentando a sua presença em investimentos no exterior para brasileiros.

“Eles compraram a Avenue. Tudo que o que fizemos foi do zero. Não compramos Mercado Bitcoin para fazer a plataforma de cripto. Fizemos do zero e isso vai em linha com nosso DNA, e há custos. Acreditamos que esses novos negócios vão valer a pena e nos dar opções para a perpetuidade do crescimento”, disse o diretor financeiro da XP.

Para Constantino, esses novos negócios, no curto prazo, vão gerar impactos na receita. Apesar disso, ele afirma que os custos “estão sob controle”, ainda que a empresa tenha visto as despesas com processamento de dados e pessoal crescer com novas contratações.

Leia também:

CEO do Itaú: cenário inspira cautela diante de quadro externo e eleições

Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups