São Paulo — Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú Unibanco (ITUB4), repetiu a frase “o cenário inspira cautela” pelo menos três vezes durante a teleconferência com analistas sobre o resultado financeiro do segundo trimestre, nesta terça-feira (9).
Apesar do desempenho positivo de rentabilidade, do lucro e das receitas no período, o executivo à frente do maior banco do país alertou para as incertezas que pairam sobre a economia no Brasil e no mundo, como o risco de desaceleração global diante do ciclo do aumento dos juros e da inflação, além dos impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Maluhy lembrou ainda que o Brasil atravessa um processo eleitoral, com a escolha do próximo presidente em outubro, e que não há ainda visibilidade sobre o futuro fiscal do país. “Teremos desafios nos próximos trimestres”, disse o CEO, que, no entanto, expressou confiança de que o maior conglomerado financeiro do país terá condições de proteger seus indicadores de rentabilidade e crescimento.
Reforçar os controles na concessão de crédito, como frear a emissão de cartões, é uma das medidas citadas pelo executivo para manter em patamares “comportados” os níveis de inadimplência.
Clientes de maior renda têm usado mais o cartão de crédito e opções de financiamento, como o rotativo. O CEO do Itaú explicou que a maior propensão dos clientes para recorrer a esse tipo de financiamento se deve a uma base de comparação mais baixa nos últimos anos da pandemia.
“Os índices de atraso estão bastante comportados. Não houve nenhuma venda de carteira ativa no varejo no primeiro semestre”, afirmou Maluhy.
Um dos concorrentes do Itaú, o Bradesco, informou na semana passada que precisou vender carteiras de crédito sem garantia no segundo trimestre. A inadimplência, principalmente em micro e pequenas empresas, também foi uma preocupação externada pelo Santander ao comentar seu balanço.
“Nosso balanço está bem protegido e provisionado”, disse o CEO do Itaú, acrescentando que o banco está atento à trajetória da inadimplência desde o segundo trimestre do ano passado.
O índice de inadimplência do Itaú para atrasos de 90 dias subiu de 2,3% para 2,7% em 12 meses. Era de 2,6% no primeiro trimestre deste ano. O conglomerado tem reduzido o limite de crédito de clientes com perfil de maior risco e menor conexão com o banco e também reforçado a cobrança dos devedores, principalmente em financeiras, segundo o CEO.
Guidance
Maluhy Filho evitou fornecer guidance (projeção) para a rentabilidade, mas a instituição revisou positivamente suas expectativas para a taxa de crescimento da carteira de crédito total no ano (do intervalo anterior entre 9% e 12% para a janela entre 15,5% e 17,5%). No segundo trimestre, a carteira de crédito total cresceu 19,3% na base anual, alcançando R$ 1,084 bilhão.
O CEO disse esperar uma normalização gradual da inadimplência nos próximos trimestres, mas a gestão ativa do portfólio continuará a fim de manter a qualidade da carteira de crédito e de evitar “desvios de safras [de clientes]”, como tem verificado nos segmentos de cartões de crédito e de financiamento de veículos.
“Temos reduzido o limite de crédito de muitos clientes em que vemos atrasos longos de pagamento, uma deterioração”, disse Maluhy Filho.
Apesar do tom de cautela, o executivo reforçou os planos de investimento do conglomerado e suas maiores apostas na digitalização e em novas tecnologias de produtos, como a tokenização e o metaverso, além da ampliação de oferta de serviços aos clientes. É nesse contexto que se insere a recente compra da corretora Avenue, cuja plataforma permite o investimento em ativos no exterior.
“Nossa agenda é de longo prazo”, resumiu o CEO, que também reafirmou o compromisso com a redução de custos e com a preservação da rentabilidade medida pelo ROE (retorno sobre patrimônio) próxima de 20%. Essa métrica ficou em 20,8% no segundo trimestre, versus 20,4% no primeiro.
Visão de analistas
Em relatório, a equipe de analistas do BTG Pactual (BPAC11) comentou o resultado do Itaú, destacando o ROE do segundo trimestre e o lucro de R$ 7,68 bilhões, acima das expectativas do mercado.
“Itaú e Banco do Brasil (BBAS3) continuam como nossas principais escolhas entre as ações de bancos brasileiros”, citou o BTG, reafirmando sua recomendação de compra.
O Bank of America (BAC) avaliou, em relatório, que o resultado do Itaú foi sólido com uma forte geração de receita, mantendo sua recomendação de compra para as ações do banco brasileiro, com base na revisão de guidance e no aumento de receitas com juros, comissões e seguros.
“O ROE continua melhorando e atingiu 20,8% [40 pontos base de aumento no trimestre ante trimestre]”, observou o BofA.
Leia também
Com o mercado ‘parado’, BTG Pactual tem lucro recorde e aumenta retorno