Investidores se antecipam a um maior aperto monetário do Fed e vão às compras

Alta se vê tanto entre os futuros de índices dos EUA como nas bolsas europeias; na semana, dados de inflação na maior economia do mundo ditam o rumo

Conheça os eventos que vão orientar os investidores hoje
08 de Agosto, 2022 | 08:49 AM

Barcelona, Espanha — (Esta é a atualização da nota publicada originalmente às 6h45)

Os investidores em renda variável vão às compras antes que a profecia de aumentos mais fortes dos juros se materialize. Os sólidos dados sobre o emprego nos Estados Unidos, que superaram as expectativas mais otimistas e devolveram a taxa de desemprego a mínimos históricos (3,5%), reforçam os argumentos do Federal Reserve (Fed) a favor de um maior aperto monetário para controlar a inflação. A tensão entre China e EUA esfriou, mas está latente.

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📈 Efeito-aperto. A espera por maiores taxas de juros - nas duas últimas reuniões o aumento foi da ordem de 0,75 ponto percentual - , empurrou para o alto, na semana passada, os prêmios dos títulos do Tesouro e o dólar. Hoje, os bônus de 10 anos do Tesouro norte-americano se recuperavam. Mesmo assim, uma parte chave da curva dos bônus do Tesouro norte-americano está perto do nível mais invertido desde o ano 2000, o que sugere que os investidores estão prevendo uma recessão com a freada brusca do banco central.

🛣️ Inflação mostra o caminho. Os indicadores de preços ao consumidor e ao produtor dos EUA, previstos para quarta e quinta-feira, respectivamente, orientarão as negociações. Com base nestes dados, os operadores vão ajustar suas projeções sobre a magnitude de alta dos juros pelo Fed e suas carteiras de investimento, o que deve gerar volatilidade nos mercados. Ainda que as pressões sobre os preços pareçam estar chegando ao teto, não está claro que se permanecerão em níveis obstinadamente altos.

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✍️ O que os economistas esperam. O IPC geral de julho poderia se moderar (os economistas consensuam para algo como +8,7%, contra os 9,1% da leitura anterior) depois da redução dos preços do petróleo (o barril tipo WTI caiu 7% no mês). Mas o núcleo da inflação pode subir para +6,1%, contra os +5,9% anteriores, em um contexto de mercado de trabalho tensionado e salários em alta (+5,2% em julho).

😏 Cabeça-feita. Os membros do Fed, no decorrer das últimas semanas, parecem ter ensaiado um discurso de que a luta contra a inflação é prioritária, custe o que custar. A presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, disse que o Fed não está “nem perto” de terminar seus esforços para conter a espiral inflacionária. Loretta Mester, de Cleveland, disse que precisa ver “provas muito convincentes” de que os aumentos de preços mês a mês estão moderados.

💰 Mais para o mercado repercutir. Os EUA aprovaram ontem nova tributação para big techs, petrolíferas e carros elétricos. Trata-se de uma medida que terá impacto sobre os resultados financeiros de empresas que estão entre preferidas de investidores. A Casa dos Representantes, de maioria democrata inequívoca, precisará ainda aprovar o projeto nos próximos dias, mas não há dúvidas sobre esse próximo passo antes da promulgação.

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→ Assim se comportam os mercados esta manhã:

Os futuros dos EUA e as ações europeias subiam à medida que os rendimentos dos bônus do Tesouro apagavam parte da sua valorização recente. O setor tecnológico liderava o avanço do índice europeu de referência Stoxx 600, enquanto os prêmios dos títulos do governo alemão e britânico caíam. Os preços do petróleo recuavam, enquanto a cotação do ouro subia. O bitcoin se posicionava acima dos US$ 24.000.

Uma temporada de ganhos do segundo trimestre melhor do que o esperado desencadeou um aumento dos índices de ações em julho, já que as margens de lucro se mostraram resistentes à pressão inflacionária.

Entretanto, os estrategistas da Morgan Stanley e da Goldman Sachs Group Inc. esperam que as margens de lucro corporativas se contraiam no próximo ano devido às implacáveis pressões de custos, uma perspectiva que contrasta com o clima dos mercados acionários. De acordo com Michael J. Wilson, da Morgan Stanley, um dos detratores mais vocais das ações dos EUA, “o melhor do rally acabou”.

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A tensão entre os EUA e a China sobre Taiwan permanece no radar. Os militares chineses anunciaram um novo exercício perto da ilha, na sequência de uma visita da Presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi.

Um panorama dos mercados
🟢 As bolsas na sexta: Dow Jones Industrials (+0,23%), S&P 500 (-0,16%), Nasdaq Composite (-0,50%), Stoxx 600 (-0,76%), Ibovespa (+0,55%)

As ações dos Estados Unidos tiveram pregão instável, com os operadores reagindo aos dados melhores que o esperado do emprego no mês de julho - uma amostra de força da economia, mas que pode levar o Fed a seguir com o plano de um aperto monetário mais vigoroso para conter a inflação.

Saiba mais sobre o vaivém dos Mercados e se inscreva no After Hours, a newsletter vespertina da Bloomberg Línea com o resumo do fechamento dos mercados.

Na agenda

Esta é a agenda prevista para hoje:

• EUA: Índice de Tendência de Emprego/Jul

• Europa: Zona do Euro (Confiança do Investidor Sentix/Ago; Reino Unido (Vendas no Varejo do BRC/Jul)

• América Latina: Brasil (Boletim Focus)

• Ásia: Japão (Índice Economy Watchers/Jul, Balança Comercial, Empréstimos Bancários)

• Outros: Negociações sobre o acordo nuclear no Irã

• Balanços do dia: SoftBank, Barrick Gold, Siemens Energy, Porsche, Palantir, BB Seguridade, Direcional, Itaú Unibanco, Neogrid e São Martinho

📌 Para amanhã:

• Terça-feira: EUA (Indicador NFIB de Otimismo das Pequenas Empresas, Índice Preliminar de Produtividade Não-Agrícola e Custo de Mão-de-obra/2T22)

• Quarta-feira: EUA (IPC); China (IPC e IPP); Pronunciamentos de Charles Evans (Fed de Chicago), Neel Kashkari (Fed de Minneapolis)

• Quinta-feira: EUA (IPP; Pedidos Iniciais de Seguro-Desemprego. Entrevista da presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, à Bloomberg Television

• Sexta-feira: Zona do Euro (Produção Industrial); EUA (Sentimento do Consumidor - Universidade de Michigan dos EUA)

(Com informações da Bloomberg News)

Michelly Teixeira

Jornalista com mais de 20 anos como editora e repórter. Em seus 13 anos de Espanha, trabalhou na Radio Nacional de España/RNE e colaborou com a agência REDD Intelligence. No Brasil, passou pelas redações do Valor, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Tem um MBA em Finanças, é pós-graduada em Marketing e fez um mestrado em Digital Business na ESADE.