Opinión - Bloomberg

Novo plano da Warner em streaming parece ignorar que era de ouro da TV passou

Mudança anunciada de subir preços e reduzir conteúdo exclusivo significa um retrocesso para os consumidores e pode até dar errado

Robert Pattinson, ator que interpreta Batman em nova versão da Warner Bros. Pictures: novos filmes poderão demorar mais para chegar ao streaming
Tempo de leitura: 3 minutos

Bloomberg Opinion — A Netflix (NFLX) pode ficar tranquila. A HBO Max está prestes a se tornar uma concorrente muito menos agressiva dentro do mercado de streaming.

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Essa é a implicação de uma mudança estratégica abrangente definida na noite de quinta-feira (4) pelos executivos da Warner Bros. Discovery, empresa formada a partir da combinação da Discovery Communications e da WarnerMedia, anteriormente propriedade da AT&T (T).

Em conferência com analistas de Wall Street, o CEO David Zaslav e seus executivos deixaram claro que querem devolver o negócio da Warner ao foco em lucrar o máximo possível, longe de uma empresa com uma filosofia focada no consumidor, defendida pelo anterior CEO da WarnerMedia, Jason Kilar. Esse é um grande risco.

A nova administração da Warner disse que abandonaria a ideia de fazer filmes apenas para lançamento em streaming, algo que a equipe de Kilar havia iniciado; abandonaria a estratégia anterior de preservar o conteúdo feito pela Warner principalmente para a HBO Max; e traria de volta o foco tradicional de Hollywood no “windowing” – a ideia de lançar os mesmos filmes ou séries em diferentes mídias em momentos diferentes para maximizar a receita. A Warner também confirmou os planos de combinar a HBO Max e o Discovery em um único serviço, que será lançado no ano que vem.

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Eles também não deixaram dúvidas de que o novo serviço custará mais para os consumidores. O streaming está “barato”, disse Zaslav.

Sua estratégia é um enorme retrocesso para consumidores – e corre o risco de não dar certo. Durante décadas, as empresas de televisão operaram ignorando o que se adequava aos telespectadores. Os canais colocaram tantas propagandas entre os blocos de programação que ficou insuportável assistir à televisão. O preço da televisão via satélite e cabo só aumentou. Um filme demorava muito para chegar à televisão quando saía de cartaz porque os estúdios queriam lucrar com a venda de DVDs.

Isso fez com que a Netflix surgisse há cerca de 15 anos, oferecendo uma abordagem mais amigável ao consumidor com um streaming de baixo custo e sem anúncios com uma mistura de conteúdo original e filmes recentes. Isso provou ser muito popular.

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A Netflix tem cerca de 221 milhões de assinantes no mundo – 73 milhões estão na América do Norte. Nenhum outro serviço se aproxima (exceto possivelmente o Amazon Prime Video).

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Esse modelo de streaming de baixo custo ainda não provou ser muito lucrativo. Só agora a Netflix começou a mostrar que poderia ganhar dinheiro de verdade – e só conseguiu ao aumentar os preços a um ponto que lhe custou alguns assinantes.

Para Zaslav, que vem da antiga indústria da televisão, que lucrava intensamente, é compreensível que a abordagem da Netflix não seja atraente. Também não devemos esquecer que a Warner Bros. Discovery é uma empresa com cerca de US$ 50 bilhões em dívidas e espera gerar de US$ 9 bilhões a US$ 9,5 bilhões em lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) em 2022.

As mudanças que estão sendo feitas pela equipe de Zaslav ajudarão a gerar receitas extras extremamente necessárias. Os executivos da empresa projetaram um Ebitda de US$ 12 bilhões para 2023.

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Risco diante da concorrência

O perigo é que a mudança estratégica deixa a Warner Bros. Discovery vulnerável à concorrência. No universo do entretenimento, o poder desviou das grandes empresas de TV e foi para os espectadores de forma mais intensa do que Zaslav parece perceber. Ele está operando com a mentalidade dos anos 90.

A concorrência da HBO Max inclui, além da Netflix, serviços operados por empresas de tecnologia como Apple TV+ e Amazon Prime Video, que também pode-se dizer que operam com uma filosofia centrada no consumidor. Eles também têm muitos recursos financeiros e não dependem de grandes lucros na televisão, o que oferece uma vantagem sobre as empresas de entretenimento tradicionais.

Ao aumentar os preços e reduzir a quantidade de conteúdo verdadeiramente exclusivo em seus serviços de streaming, Zaslav está apenas dando aos telespectadores um motivo para trocar de serviço.

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Ele precisa aceitar a realidade de que aquele tempo passou. A televisão jamais voltará a ser um negócio monumentalmente lucrativo. É claro que o streaming precisa ser lucrativo o suficiente para atrair investimentos. Mas os tempos mudaram, e não é possível voltar atrás.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Martin Peers é colunista da Bloomberg Opinion e cobre as áreas de tecnologia e mídia. Foi editor adjunto da coluna “Heard on the Street” do Wall Street Journal e editor-gerente do site The Information.

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