São Paulo — O comando do Bradesco (BBDC4), segundo maior banco privado do país, buscou tranquilizar os analistas sobre os rumos da inadimplência durante teleconferência nesta sexta-feira (5) para comentar o balanço do segundo trimestre.
O aumento de atrasos reflete o aperto monetário e está, segundo a instituição, limitado a micro e pequenas empresas e a pessoas físicas, principalmente em produtos como cartão de crédito e empréstimo pessoal. Além disso, os atrasos com o Bradesco incluem o segmento de clientes conhecido no meio bancário como “Pejotinha” (indivíduos contratados como pessoa jurídica).
A inadimplência em atrasos de pagamento superiores a 90 dias subiu para 3,9% no segmento de micro, pequenas e médias empresas no segundo trimestre, com aumento de 1,3 ponto percentual (p.p.) em relação ao mesmo período de 2021 e de 0,3 p.p. em relação aos três primeiros meses do ano.
Executivos do Bradesco disseram trabalhar agora com a expectativa de que a inadimplência de toda a carteira cresça no segundo semestre, indicando a possibilidade de fechar o ano entre 3,5% e 4%. A taxa para os atrasos acima de 90 dias encerrou junho em 3,5%, um ponto percentual acima do patamar um ano antes.
Octavio de Lazari Junior, CEO do Bradesco, e outros executivos reforçaram os esforços da área interna de recuperação de crédito no monitoramento diário dos vencimentos, além da venda de carteiras sem garantias, a partir de cinco anos de atraso.
O aumento da inadimplência foi o tema dominante das perguntas dos analistas, principalmente de bancos estrangeiros como Bank of America, JPMorgan, Scotiabank e Credit Suisse. Lazari disse que o banco não vê problema nas grandes empresas e que, em períodos de Selic no patamar de 13,75% ao ano, os indicadores de inadimplência eram bem maiores. “Hoje temos a rapidez para ajustar os modelos de crédito, algo que não tínhamos no passado.”
Leandro Miranda, diretor de Relações com Investidores, destacou o entendimento de que haverá uma tendência de queda da inadimplência em médias e pequenas empresas à medida que os juros parem de subir com o alívio da inflação. E isso permitiria reduzir as avaliações de risco.
Na quarta-feira (3), o comunicado do Banco Central, ao subir a Selic para 13,75% ao ano, indicou que o ciclo de aperto monetário, iniciado em março de 2021 com a taxa a 2%, pode estar com os dias contados, provavelmente na reunião de setembro com uma alta de menor magnitude (0,25 ponto).
“O que temos vistos é a concentração de crescimento da inadimplência nas linhas de cartão de crédito e crédito pessoal e no ‘Pejotinha’, que se confunde com a pessoa fisica”, afirmou o executivo.
Um analista do BofA questionou a administração do Bradesco sobre o aumento da inadimplência acima das expectativas no segundo trimestre, contrariando comentários feitos durante a teleconferência do resultado do primeiro trimestre, com dúvidas sobre se a tendência para o segundo semestre é de deterioração das carteiras de crédito.
Em resposta, os executivos do banco lembraram que o cenário macroeconômico piorou nos últimos três meses, com o impacto do aumento do preço do barril do petróleo nos índices de inflação, e isso é refletido em previsões sobre a atividade econômica (o Bradesco espera um PIB próximo de zero em 2023, por exemplo). Eles também citaram as dificuldades de acertar o alvo das previsões de inadimplência devido ao tamanho e à diversidade de suas linhas de negócios e de perfis de clientes.
Originação menor para PF
Um dos efeitos da inadimplência em alta é a redução da originação de crédito para pessoas físicas em relação aos trimestres anteriores, segundo o banco.
O Bradesco acompanha, por exemplo, os indicadores de comprometimento de renda dos seus clientes, mas essa vigilância não é completa, pois só envolve as transações formais no sistema bancário, sem captar outras maneiras de endividamento dos indivíduos no varejo.
Para Miranda, o nível de provisionamento do Bradesco está adequado às necessidades. O banco trabalha com a perspectiva de melhora dos indicadores de clientes em atraso apenas em 2023 caso haja uma diminuição do desemprego e um crescimento da renda.
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