São Paulo — O Grupo Fleury (FLRY3), um dos principais players de medicina diagnóstica do Brasil, entrou no segundo semestre com a varíola dos macacos sendo considerada uma emergência por autoridades mundiais de saúde e de diferentes países. A companhia já desenvolveu um teste de diagnóstico da doença e começou, neste mês, a colocar no mercado o exame molecular, cujo resultado a partir da coleta de sangue do paciente é previsto para sair em três dias úteis, ao preço de até R$ 450.
Em entrevista à Bloomberg Línea, a CEO da companhia, Jeane Tsutsui, disse que o número de casos da doença ainda é reduzido no país. O Brasil tem 1.721 casos confirmados, segundo o Ministério da Saúde, citando São Paulo (1.298) e Rio de Janeiro (190) como os estados com mais infectados.
O novo produto chega no momento em que o Fleury registra a menor participação de testes de Covid-19 em sua receita desde o início da crise sanitária em março de 2020 (3,9% no segundo trimestre vs. 8,3% no primeiro trimestre, quando o país enfrentou a onda de casos da variante ômicron).
O grupo teve uma receita bruta recorde de R$ 1,2 bilhão no segundo trimestre, um aumento de 19% na comparação anual. A CEO não atribui esse desempenho histórico apenas aos ganhos com as recentes aquisições, mas cita também o crescimento orgânico a uma taxa de 10%, impulsionado pelas apostas do grupo no seu ecossistema integrado de saúde com a diversificação de produtos e serviços.
Sem o impacto dos exames de Covid na base de comparação, o crescimento da receita foi de 24,7%.
“Estamos mantendo uma consistência de resultados com esse novo recorde”, observou a executiva, destacando o avanço de receita tanto na oferta de exames em unidades físicas como no marketplace, que diversifica seu portfólio oferecendo teleconsultas médicas e até cirurgias de baixa complexidade.
De abril a junho, o lucro líquido do Fleury cresceu 7,6% na base anual, somando R$ 70,5 milhões. Já o Ebitda (indicador de geração de caixa operacional) recorrente aumentou 19,6%, totalizando R$ 298 milhões no período, com margem oscilando de 26,7% para 26,8%, na comparação anual.
“Serviços de atendimento móvel já representam 8,1% de nossa receita. Estamos satisfeitos também com o crescimento de novos elos de negócio, como ortopedia, oftamologia, infusão de medicamentos, centro cirúrgico ambulatorial e medicina reprodutiva”, citou a CEO.
Aquisições
O desempenho do grupo tem sido favorecido pela integração das operações dos laboratórios capixabas Pretti e Bioclínico, ambos em setembro de 2021, e o pernambucano Marcelo Magalhães, em maio de 2022.
Desde 2017, o Fleury concluiu nove aquisições em medicina diagnóstica, que adicionaram 121 novas unidades ao portfólio de marcas do grupo, das quais 46 unidades em regiões onde já possuía operação e 75 unidades em novas regiões.
O último anúncio do Fleury foi a proposta de compra do grupo mineiro Pardini no fim do primeiro semestre. A CEO disse que no próximo dia 18 haverá uma assembleia de acionistas para aprovar o negócio e a possibilidade de um aumento de capital. E que o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) já foi pré-notificado sobre a transação e que a expectativa é que a transação seja concluída no primeiro trimestre de 2023.
“Já começamos a planejar a integração e mantivemos a estimativa de ganhos de sinergias com o negócio entre R$ 160 milhões e R$ 190 milhões. Não temos como afirmar quando o Cade julgará o caso, mas esperamos que isso ocorra em seis meses”, afirmou Tsutsui.
Juros e dívida
Já o CFO do Fleury, José Antonio Filippo, contou que a redução da margem líquida de 7% para 6,3% no segundo trimestre, na base anual, se deve também ao efeito da alta dos juros na dívida corrigida pelo CDI. Desde março do ano passado, a taxa Selic saltou de 2% para 13,75% ao ano.
Em junho, a dívida líquida somava R$ 2,1 bilhões, alta de 36,9% em relação ao trimestre anterior. No final do trimestre, a alavancagem da companhia era de 1,8 x, contra 1,4x no primeiro trimestre deste ano, ainda abaixo do limite de 3,0x estabelecido por instrumentos de dívida (debêntures).
“A dívida líquida foi impactada pelo pagamento da aquisição do laboratório Marcelo Magalhães, pagamento de JCP [juro sobre capital próprio] e vencimentos de dívidas”, explicou a companhia, na apresentação de resultados.
No segundo trimestre, o grupo, que tem o Bradesco Seguros como um dos principais acionistas, informou ter investido R$ 112,8 milhões (+31,3% na base anual), principalmente em projetos de digitalização de serviços, infraestrutura de TI (tecnologia da informação) e renovação de licenças de softwares, além de novas unidades, expansão de oferta e áreas técnicas.
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