Bloomberg Línea — Bem-vindo às rodadas da semana. O capital de risco da América Latina apostou em setores não tradicionais da região, como beleza, saúde, segurança cibernética e até seguro meteorológico.
Diferentemente das semanas anteriores, nesta houve um aumento nos anúncios da rodada inicial. Mas não só de early-stage o ecossistema da América Latina vive. Nesta semana, a healthtech brasileira Dr. Consulta recebeu R$ 170 milhões em uma rodada Série D liderada pela Kamaroopin.
Estas são as startups latino-americanas que receberam capital para crescer:
NG.CASH
Chamado por alguns de “Nubank para a Geração Z”, a fintech brasileira NG.CASH captou US$ 10 milhões com a Andreesen Horowitz (a16z) e a Monashees. A 17Sigma, do fundador da Ualá, os fundadores da Brex, a Rappi, a Movile, a Wildlife, a Norte Ventures, a Eleva e a Trybe também participaram da rodada Seed. Até o campeão olímpico de vôlei brasileiro Bernardinho entrou na rodada.
O CEO da startup, Mario Augusto Sá, 24, fundou a NG.CASH há um ano. Ele começou a trabalhar aos 14 anos quando co-fundou o canal do YouTube Neagle. Na faculdade, criou uma fintech que depois foi vendida.
No ano passado, a empresa tinha recebido um pré-Seed de US$ 400 mil da Stone. A fintech diz ter 900 mil usuários, com brasileiros de 10 a 24 anos como público-alvo.
Pelo aplicativo da NG.CASH, é possível fazer transferências, pagamentos instantâneos, recarregar o celular e comprar em marketplace com desconto. O cartão da fintech de bandeira Elo é pré-pago, ou seja, funciona para compras online como cartão de crédito, mas precisa de dinheiro na conta.
“De fato, o mercado deu uma mudada, mas o fato de só termos levantado U$ 400 mil ano passado e estarmos no mesmo estágio de quem levantou milhões ajudou muito, porque soubemos construir a base”, disse Augusto em entrevista à Bloomberg Línea.
Hoje as fontes de receita da startup são as taxas de intercâmbio do cartão, boletos e comissões em cima de produtos. A empresa diz que seu custo de aquisição do cliente é baixo, porque Sá, como já era YouTuber, tinha acesso a uma base grande de jovens.
Segundo o CEO, uma das demandas desse público são produtos como NFT, o que a NG.Cash pretende incorporar ao marketplace no longo prazo, além de stablecoins. Isso porque boa parte da geração mais nova é gamer e usa a conta para remunerações do que ganham em jogos “play-to-earn”.
A NG.Cash está contratando e pretende chegar a 80 funcionários.
Ruuf
O fundo americano Collaborative Fund e a Positive Ventures investiram uma rodada pré-Seed de aproximadamente US$ 700 mil na Ruuf, uma nova startup chilena que foca em financiar e prover meios de instalar painéis de energia solar. Juan Carlos Jobet (ex-ministro de energia do Chile) também investiu na startup.
A Ruuf quer ser o Sunrun da América Latina. A empresa pretende lançar suas operações no Chile neste mês e expandir para a América do Sul no próximo ano.
Os chilenos Domingo García e Tomás Campos têm experiência no setor de energia. Eles se conheceram em 2012 quando cursavam engenharia e se mudaram para os Estados Unidos para estudar.
Antes, no Chile, García montou seu primeiro negócio de instalação de painéis solares em casas e disse que percebeu os problemas da falta de automação no setor e na experiência do usuário. “Minha ideia era ir para os EUA, onde existe um mercado estabelecido e maduro de energia solar residencial e tentar entender como eles desenvolveram uma solução que cresceu tanto”, disse ele à Bloomberg Línea.
Campos, que já tinha empreendido com uma fintech vendida posteriormente a para um banco no Chile, disse que passou nove meses trabalhando na Tesla e aprendendo sobre o negócio de energia solar.
“Na Ruuf, o que queremos fazer é tornar a energia solar residencial massiva na região por meio de um processo amigável e acessível financeiramente”, disse García.
A ideia é fazer parcerias com instaladores em um modelo de marketplace em que a Ruuf financia as instalações, como a Solfácil faz hoje no Brasil.
Esse foi o primeiro cheque do segundo fundo da Positive Ventures. Bruna Constantino, sócia da Positive Ventures, investe em empresas que atuam com os impactos climáticos e sociais.
“Estamos em um contexto diferente de um ano atrás para VC. O que define esses momentos é que você precisa realmente entender o mercado e precisa investir nos melhores fundadores que realmente vão trabalhar com a solução”, disse ela à Bloomberg Línea.
Não foi a única rodada para negócios de impacto na semana. A fintech brasileira Jeitto, que oferece crédito para clientes de baixa renda, recebeu US$ 15 milhões da Rise Ventures.
Lumu
A empresa colombiana de segurança cibernética Lumu Technologies fechou uma rodada de investimentos de US$ 8 milhões, elevando sua captação total até hoje para US$ 15,5 milhões.
A rodada foi liderada pela Panoramic Ventures e o investimento servirá como capital de crescimento para iniciativas de vendas e marketing para promover a missão da Lumu de ajudar organizações a operar a segurança cibernética com eficiência.
A empresa, fundada por Ricardo Villadiego, de Cartagena, permite que as organizações meçam os compromissos confirmados em tempo real.
Outros investidores incluem KnowBe4 Ventures, Lane Bess, ex-executivo da Zscaler e da Palo Alto Networks, e Tom Noonan, ex-CEO da Internet Security Systems e SB Opportunity Fund do SoftBank Group (que fez um spin-off para a Upload Ventures).
Além disso, a Lumu está firmando parceria com a KnowBe4, plataforma de conscientização e treinamento de segurança.
Raincoat
A startup sediada em Porto Rico Raincoat desenvolve soluções de seguro meteorológico escaláveis e permite o processamento instantâneo de sinistros individuais. Esta semana, a empresa divulgou que captou uma rodada Seed de US$ 4,5 milhões. A rodada foi liderada pelo investidor em tecnologia de seguros Anthemis e inclui o apoio do SB Opportunity Fund do SoftBank Group.
Também participaram da rodada o Banco Popular, o grupo financeiro chileno Consorcio, a 305 Ventures, de Miami, e a Divergent Capital.
Puramente
O Puramente App é uma startup de meditação que acaba de fechar uma rodada semente de US$ 1,3 milhão. A startup argentina busca democratizar o acesso à meditação na região.
Fundada em 2019, a Puramente foi selecionada pela 500 LatAm e Start-Up Chile, duas das mais prestigiadas aceleradoras da região, e contam com o apoio de investidores como Goodwater Capital, Newtype Ventures.
Em menos de quatro anos de operação, a empresa já teve mais de 1 milhão de downloads e projeta um faturamento de US$ 1 milhão neste ano.
Hoje eles têm 35 funcionários distribuídos ao redor do mundo, incluindo programadores, designers e guias de meditação. “Somos o aplicativo mais escolhido em países como Argentina, Colômbia e México”, diz Martín Becerra, CEO da Puramente, cujo aplicativo realiza mais de 100.000 meditações por semana.
Beauty 911
A Beauty 911 é uma plataforma online para serviços de beleza em casa focada na comunidade latina que vive nos Estados Unidos - e também na América Latina. Foi fundada em Porto Rico em 2019 por Carmen Medina e Afa Juste. A Beauty 911 fechou uma rodada de pré-seed de US$ 200 mil do fundo 305 Ventures, com sede em Miami.
“Com esse investimento, buscamos expandir nosso mercado em Porto Rico e testar o mercado de nossos serviços em várias cidades da Flórida”, disse Medina à Bloomberg Linea. “Nossa missão é nos tornarmos o Uber da beleza globalmente.”
A Beauty 911 fez parte do programa de aceleração do Rising Entrepreneurs Program em Porto Rico, criado por Orlando Bravo, CEO do fundo de private equity Thoma Bravo.
Intera
A plataforma de recrutamento para pessoas de tecnologia Intera recebeu um aporte de R$ 9,85 milhões da Citrino Ventures, por meio do fundo CV Idexo, além de investidores anjos. A Intera tinha recebido seu cheque pré-Seed de R$ 2,5 milhões há dois anos.
A empresa pretende investir os recursos no seu software InHire para tornar a inteligência da área de recrutamento e seleção das empresas mais eficiente.
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