Bloomberg Opinion — Dizem que a beleza está nos olhos de quem vê. Esse será realmente o caso se a Estée Lauder (EL) adquirir a Tom Ford por US$ 3 bilhões.
Embora o grupo possa até desejar o controle total do braço de beleza e fragrâncias da Tom Ford, lidar com as roupas e acessórios da empresa estaria mais além de seu escopo.
A empresa homônima de beleza, óculos e vestuário, fundada pelo antigo diretor criativo da Gucci em 2005, está trabalhando com o Goldman Sachs (GS) para explorar uma possível venda. Na segunda-feira (1º), a Dow Jones informou que a Estée Lauder estaria negociando a compra da marca.
A Estée Lauder já tem um acordo de licenciamento de longa data para as linhas de beleza e fragrâncias de luxo da Tom Ford. A gigante de cosméticos disse recentemente que a Tom Ford e Jo Malone, outra marca detida pela empresa, estavam próximas de faturar US$ 1 bilhão por ano cada uma. Isso pode explicar o suposto interesse da Estée – que não está comentando sobre o assunto no momento – já que ela não ia querer arriscar perder o lucrativo acordo de licenciamento para uma concorrente.
Contudo, a Tom Ford não se trata apenas de beleza. A empresa também tem uma operação de óculos produzida e distribuída pela Marcolin. Não há motivos para que este acordo não possa continuar sob a direção da Estée Lauder. A parte mais complicada seria as roupas e acessórios da Tom Ford. A Estée Lauder não detém nenhuma casa de moda, então provavelmente precisaria encontrar um parceiro de luxo com experiência em vestuário.
Esse parceiro provavelmente não será uma das gurus do luxo, como a LVMH ou a Kering, que detém a Gucci. Afinal, por que elas concordariam em produzir roupas e acessórios, mas não os itens de beleza?
Faria mais sentido se associar a um grupo menor, como Ermenegildo Zegna ou Diesel. A Zegna já tem uma relação comercial com Tom Ford. Domenico De Sole, ex-CEO da Gucci e atual presidente da marca Tom Ford, também faz parte da diretoria da Zegna.
Então por que a Zegna não compra a Tom Ford? Seria útil para seu portfólio, que inclui a marca mais jovem Thom Browne, que adquiriu há quatro anos. O problema pode ser o preço. Embora a Zegna tenha um balanço forte após sua listagem em Nova York através de uma empresa de aquisição de propósito específico no ano passado, seu valuation é de cerca de US$ 3 bilhões, aproximadamente o preço que a Estée Lauder está considerando pagar pela Tom Ford.
Ao se vender como um negócio de beleza, a Tom Ford está buscando explorar um pouco dos valiosos múltiplos pagos pelo setor de cosméticos e skincare nos últimos cinco anos.
Enquanto isso, qualquer empresa que produzisse os ternos ou vestidos da Tom Ford teria seu trabalho suspenso. Seria necessário manter a marca no topo da hierarquia do luxo para tentar mais consumidores a comprar seus batons e fragrâncias caros. E mesmo que a força da Tom Ford esteja no vestuário, ela não tem uma linha de bolsas de mão, verdadeiro propulsor do lucro da indústria do luxo.
Não está claro se o próprio Ford faria parte do acordo. A Bloomberg News informou que um acordo pode incluir uma opção de trabalhar com o fundador após a venda. Isso poderia tornar uma empresa de private equity que já estava interessada no negócio de beleza uma possível compradora. Mas com a apreensão dos mercados de financiamento, as condições podem ser mais difíceis.
A Estée Lauder seria uma boa detentora da Tom Ford, assim como qualquer outra empresa, mas terá algumas complexidades a serem resolvidas. O truque será demonstrar que a beleza do acordo vai além das aparências.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Andrea Felsted é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre os setores de varejo e bens de consumo. Anteriormente, escrevia para o Financial Times.
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