Bloomberg Línea — O Mercado Livre (MELI) registrou uma receita recorde de US$ 2,6 bilhões no segundo trimestre, um aumento de 56% ano a ano, superando as expectativas dos analistas de US$ 2,5 bilhões.
A companhia argentina superou todas as previsões para as principais métricas. Os analistas esperavam uma margem bruta de 45,9%, e a empresa de comércio eletrônico registrou uma margem bruta de 49% no segundo trimestre.
O lucro bruto do Mercado Livre foi de quase US$ 1,3 bilhão, aumento de 70,3% na comparação com o mesmo período do ano anterior. O lucro líquido também saltou no segundo semestre, atingindo os US$ 123 milhões, alta de 79,8%, com melhora na margem total na comparação ano a ano.
O resultado operacional também foi um novo recorde: US$ 250 milhões, crescimento de 50,6%, com margens percentuais similares com o ano passado.
“Sempre tivemos uma cabeça de eficiência”, disse André Chaves, vice-presidente sênior de Estratégia, Desenvolvimento Corporativo e Relações com Investidores, em entrevista à Bloomberg Línea. Segundo Chaves, nos últimos 18 meses a empresa começou a relatar aos investidores que, dado o tamanho do negócio, a estratégia seria ganhar market-share e rentabilidade.
No primeiro trimestre, a receita líquida da Meli mais que dobrou, para US$ 2,2 bilhões. Chaves aponta que os sucessivos recordes em receita tem a ver com a construção de produtos e tecnologia. “Cada bloco ajudou no resultado”, disse. A empresa não compartilha projeções para o terceiro trimestre.
O Mercado Livre superou as expectativas de analistas ouvidos pela Bloomberg News para receitas de comércio. A receita líquida da Meli do negócio de comércio aumentou 23% ano a ano, para US$ 1,4 bilhão, impulsionada pela força de mercado, expandindo a publicidade digital e com 41 milhões de compradores únicos no trimestre. A empresa disse que os consumidores continuam ativos, gerando crescimento no número de itens por comprador em relação ao trimestre anterior.
A receita líquida do Brasil também superou os US$ 1,37 bilhão esperados pelos analistas. O Mercado Livre atingiu crescimento de 52,5% no país, respondendo por mais da metade (56%) da receita líquida total da companhia. Como a Argentina enfrenta um momento difícil com a desvalorização do peso, Chaves diz que os resultados do segundo trimestre não foram afetados pelo câmbio e pela fraqueza da divisa.
“A cada remessa de dólares, nós retiramos da Argentina e recompramos ações do paralelo dólar blue, que acaba sendo ajustado no nosso resultado de lucro líquido. O impacto da moeda foi mais profundo no final de julho, então não vemos isso no segundo trimestre”, disse.
O braço de fintech da Meli também superou a estimativa de US$ 1,04 bilhão, já que a receita líquida do Mercado Pago cresceu 112,5% em dólares, chegando a US$ 1,2 bilhão, ano a ano. O Mercado Pago também ultrapassou pela primeira vez a marca de US$ 1 bilhão.
No segundo trimestre, o Mercado Pago ultrapassou 38 milhões de usuários ativos, um aumento de 26,3%, com crescimento em todos os mercados da região, com destaque para serviços de pagamento via QR code, transferências dentro do ecossistema e usuários de crédito.
Chaves disse à Bloomberg Línea que o México deve ser o próximo país a receber o cartão de crédito do Mercado Pago. A estratégia é importante para rentabilização do consumidor enquanto a empresa se move cada vez mais para produtos financeiros, para além do marketplace, seu negócio principal.
Preocupações de crédito
Em últimos relatórios e teleconferências com investidores, os acionistas têm se mostrado preocupados com a qualidade do crédito originado por fintechs. Perguntado sobre inadimplência, Chaves disse que a carteira do Mercado Livre é distinta dos demais players porque é de “alto crescimento”, e que teve uma margem anualizada de 34%.
“Nossa carteira é muito diferente da maioria das carteiras de crédito. Ela tem uma curta duração. Em um trimestre que origina muito crédito, o NPL (non-performing loans) diminui artificialmente; e em trimestres que eu cresço pouco, a carteira de crédito o NPL sobe artificialmente”.
A carteira de crédito atingiu quase US$ 2,7 bilhões no segundo trimestre, contra US$ 2,4 bilhões ao final do primeiro trimestre de 2022. O Mercado Livre disse que concedeu mais de US$ 2 bilhões em créditos, mais do que o triplo do mesmo trimestre no ano passado. Segundo a empresa, com a margem de rentabilidade aumentando no segundo trimestre, o negócio de crédito contribuiu para a expansão da margem operacional.
Em julho, o Mercado Livre anunciou uma captação de US$ 233 milhões com a Goldman Sachs para expandir linhas de crédito no Brasil e no México.
Analistas previam um volume de pagamentos em US$ 26,81 bilhões, e o Mercado Pago atingiu US$ 30,2 bilhões pela primeira vez, um crescimento de 72,1% em dólar.
O volume total de transações no período cresceu 72,9%, ano contra ano, superando cerca de 1,2 bilhão no segundo trimestre, o terceiro trimestre consecutivo com TPN acima de 1 bilhão. Analistas estimavam US$ 1,18 bilhão.
No Brasil, o Mercado Pago oferece criptomoedas por meio da parceria com a Paxos. Chaves não divulgou qual será o próximo mercado a receber a operação com criptomoedas nos próximos trimestres, mas disse que a empresa está tendo conversas com reguladores locais.
Cenário macroeconômico
Na Argentina e no México, o Mercado Livre disse que o cenário macroecônomico obrigou a empresa a fazer ajustes nas comissões do marketplace para cortar aumento de custos. Entre os ajustes, a empresa elevou o preço mínimo para vender na plataforma, o valor do custo fixo por unidade vendida para produtos com valor menor de que US$ 5.500.
“Foram pequenos ajustes por conta do aumento da taxa de juros. No Brasil, foram outros tipos de ajustes em alguma faixa de preço menor”, disse Chaves, relatando que o Mercado Livre absorve grande parte do aumento dos juros.
“Sempre pagamos o nosso vendedor em uma só parcela, diferentemente dos demais players”, afirmou.
As vendas totais do marketplace cresceram 26,2% ano contra ano em moeda constante, com um volume de US$ 8,6 bilhões no segundo trimestre. O Brasil se destaca na região com incremento de 18,6% no GMV (gross merchandise volume), em moeda constante, e 143 milhões de itens vendidos no período – sendo 6,6 itens por comprador, o nível mais alto da média histórica para o segundo trimestre.
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