São Paulo — Uma das apostas de analistas no setor de telecom, a TIM Brasil (TIMS3) está no radar também por razões que vão além de seu desempenho operacional.
Em teleconferência nesta terça-feira (2) sobre os resultados do segundo trimestre, o CEO da TIM Brasil, Alberto Griselli, e a CFO, Camille Faria, revelaram a analistas que uma segunda proposta para o preço do roaming foi apresentada à Anatel, a Agência Nacional de Telecomunicações, na última sexta-feira (29) para tentar desfazer o nó que impede a aprovação da compra dos ativos da Oi móvel.
Os executivos descartaram o risco de o negócio, anunciado originalmente em dezembro de 2020 por R$ 16,5 bilhões e aprovado pela Anatel em janeiro deste ano, ser desfeito.
TIM Brasil, Vivo (VIVT3) e América Móvil (Claro) propuseram inicialmente valores acima dos praticados no mercado para o roaming (uso de rede por terceiros) cobrado de operadoras menores, e a Anatel apontou nos últimos dias o risco extremo de o negócio não ser concretizado.
As incertezas sobre a aquisição, que ampliam a capacidade de crescimento da operadora italiana, ocorrem no momento em que a TIM Brasil reportou uma queda de 58% no lucro líquido no segundo trimestre na base anual em razão justamente de gastos com a aquisição de parte da Oi móvel.
O resultado, no entanto, foi bem avaliado por analistas. Para o time de equity research do Bank of America, os números foram melhores que o esperado no que mais importava. Os analistas Fred Mendes, CFA, Mirela Oliveira, Lucca Brendim e Gustavo Tiseo, que assinam o relatório, apontam que “o principal destaque positivo foi o crescimento orgânico de 12,8% na receita com serviços móveis (MSR), versus 8,7% das estimativas do BofA, o que é um sinal de um mercado mais racional com três players atualmente”.
O impasse do roaming
O presidente da Anatel, Carlos Baigorri, disse à Bloomberg Línea na última semana que o impasse do roaming pode acabar em uma guerra jurídica e atrasar a implantação da tecnologia 5G no país.
As três maioras operadoras de telefonia móvel do país inicialmente apresentaram proposta para cobrar até R$ 40 por gigabyte e conseguiram liminares na Justiça para evitar o preço de referência da Anatel, de R$ 2,60 em 2022 e R$ 2,20 em 2023.
A nova proposta das três operadoras é de R$ 4,91, mais que o dobro do valor definido pela agência, que decidiu entrar com um recurso na Justiça contra as liminares obtidas pelas companhias.
A definição de um preço de roaming no atacado era um dos “remédios” definidos pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão antitruste, para aprovar a venda fatiada dos ativos da Oi Móvel para as três principais concorrentes. O acordo foi originalmente anunciado no fim de 2020.
Alberto Griselli e Camille Faria disseram que “não há estresse” com as autoridades regulatórias e que a migração de clientes da Oi será em ondas, a partir de setembro.
Analistas também expressaram dúvidas sobre as provisões feitas pela companhia para multas e torres adquiridas da Oi. A TIM Brasil disse que ainda trabalha na captura de sinergias com a integração dos ativos e que vai cumprir os compromissos firmados com o Cade para a venda de torres e antenas.
Redução do ICMS
Outro tema de interesse de analistas foi o cronograma do 5G. Os executivos falaram sobre a implantação da nova tecnologia inicialmente em quatro capitais (Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte e João Pessoa). Na próxima quinta-feira (4), o 5G será oficialmente lançado em São Paulo.
A TIM também prepara o repasse da redução do ICMS (imposto estadual) para os consumidores. Analistas questionaram a fórmula do repasse para o serviço pré-pago (R$ 15 para 15 gigas em 15 dias) ainda neste mês. A operadora explicou que resolveu adotar essa fórmula devido ao padrão de consumo do consumidor, oferecendo mais gigas do que o corte de impostos cobria.
Sobre a competição com as operadoras regionais, a TIM respondeu aos analistas que vai manter a abordagem nacional para promoções e que a dinâmica da competição do mercado está mais racional, descartando descontos agressivos em seus serviços para ganhar market share.
A dívida líquida da TIM atingiu R$ 15,889 bilhões no segundo trimestre, quase triplicando em relação ao primeiro trimestre (R$ 5,888 bilhões), em razão principalmente do pagamento da aquisição dos ativos da Oi móvel. A relação dívida líquida/Ebitda saltou de 0,7x no primeiro trimestre para 1,7x.
A administração da TIM Brasil também foi questionada sobre a participação indireta acumulada de 5,16% no capital do C6 Bank e sobre as opções estratégicas da parceria - a operadora é remunerada pela captação de clientes para o banco digital. A TIM disse estar em um processo de arbitragem e que espera a conclusão desse caso para decidir sobre novas formas de monetização.
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