E agora? Como a China pode revidar a visita de Pelosi em Taiwan

Por ora, nem Xi nem Biden têm interesse em desencadear um conflito que poderia causar ainda mais danos econômicos aos seus países

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Bloomberg — Com a chegada da presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, em Taiwan nesta terça-feira (2), o mundo se prepara agora para a resposta da China.

O presidente chinês Xi Jinping disse a Joe Biden, líder dos EUA, na semana passada que “quem brincar com fogo vai se queimar”, em referência a Taiwan, que a China considera seu território. O porta-voz do ministério das relações exteriores Zhao Lijian disse na segunda-feira (1) que o Exército de Libertação Popular “não ficará de braços cruzados” caso a visita acontecesse. Pelosi é a autoridade americana de mais alto escalão a visitar o país em 25 anos.

Nem Xi nem Biden têm interesse em desencadear um conflito que poderia causar ainda mais danos econômicos aos seus países, e a ligação na semana passada entre os dois líderes também indicou que eles se preparam para a primeira reunião presencial como líderes nos próximos meses.

Ainda assim, estas são algumas das ações que a China pode tomar:

1. Incursões maiores de aviões de guerra

Incursões diárias na zona de identificação de defesa aérea da ilha já é uma norma existente, então o Exército de Libertação Popular precisaria enviar uma série particularmente grande ou incomum de novos voos. O recorde em um único dia é de 56 aviões, em 4 de outubro, que coincidiu com exercícios militares nas proximidades liderados pelos EUA. Cerca de 15 aviões voaram ao redor do lado leste de Taiwan, em vez das rotas usuais no sudoeste, após a visita de uma delegação do Congresso americano em novembro do ano passado, por exemplo.

A China poderia manter esse nível mais agressivo de incursões por dias e até semanas, esgotando os recursos da já sobrecarregada Força Aérea de Taiwan.

2. Aviões de guerra sobre Taiwan

O jornal Global Times, do Partido Comunista, sugeriu que a China deve realizar um voo militar diretamente sobre Taiwan, forçando o governo da presidente Tsai Ing-wen a decidir se deve ou não derrubá-lo. No ano passado, o ministro da Defesa de Taiwan, Chiu Kuo-cheng, avisou: “Quanto mais perto eles chegarem da ilha, mais forte revidaremos.”

A China também poderia fazer uma incursão profunda através da linha mediana do Estreito de Taiwan, uma zona tampão, sujeita a normas específicas, que os EUA estabeleceram em 1954, e que Pequim não reconhece. Isso pressionaria os militares de Taiwan, exigindo que seus aviões permanecessem no ar. Aeronaves chinesas violaram repetidamente a linha em setembro de 2020, quando o então subsecretário de estado dos EUA, Keith Krach, viajou para a ilha.

3. Teste de mísseis perto de Taiwan

No verão de 1995, houve uma das respostas mais provocativas da China a um intercâmbio entre Washington e Taipei, quando Pequim testou mísseis no mar perto da ilha. A medida foi parte dos protestos da China contra a decisão do presidente Bill Clinton de deixar o primeiro presidente democraticamente eleito de Taiwan, Lee Teng-hui, visitar os EUA.

A China declarou zonas de exclusão em torno das áreas-alvo durante os testes, interrompendo o transporte marítimo e o tráfego aéreo. Mais recentemente, o país lançou mísseis balísticos no Mar da China Meridional, em agosto de 2020, no que foi visto como uma resposta aos exercícios navais americanos.

4. Dor Econômica

A China é o maior parceiro comercial de Taiwan. Pequim poderia aproveitar essa vantagem para sancionar exportadores, boicotar alguns produtos taiwaneses ou restringir o comércio bilateral. Na segunda-feira, a China baniu importações de alimentos de mais de 100 fornecedores taiwaneses, de acordo com o United Daily News. No entanto, a China deve agir com cuidado, pois precisa de Taiwan para semicondutores, por exemplo.

Pequim já atingiu vários líderes taiwaneses com sanções, incluindo proibições de viajar para o continente. Mais ações semelhantes teriam pouco impacto, já que é improvável que os políticos taiwaneses viajem para o continente ou façam negócios lá.

5. Protesto Diplomático

O Global Times alertou hoje que o governo Biden enfrentaria um revés “sério” nas relações China-EUA por conta da viagem de Pelosi. Isso pode significar chamar de volta o embaixador da China nos EUA, Qin Gang. Em 1995, Pequim retirou seu embaixador dos EUA, Li Daoyu, após Washington permitir que o presidente de Taiwan visitasse o país. No entanto, essa desavença ocorreu em um nível diplomático mais alto que o de Pelosi, que é a segunda na linha de sucessão à presidência.

No ano passado, a China chamou de volta seu embaixador na Lituânia depois que o país báltico permitiu que Taiwan abrisse um escritório em sua capital com seu próprio nome, em vez de Taipei Chinesa - um termo que Pequim considera “mais neutro”.

6. Conquiste uma ilha

Pequim tem opções militares além de montar uma arriscada invasão ao longo dos 130 quilômetros do Estreito de Taiwan - como tomar uma das ilhas menores periféricas mantidas pelo governo em Taipei, capital de Taiwan, embora essa forma de provocação seja altamente improvável.

Durante os primeiros dias da Guerra Fria, o bombardeio militar da China às Ilhas Kinmen de Taiwan, localizadas ao largo da costa sudeste da China, atraiu grande apoio militar dos EUA. Taiwan repeliu o avanço chinês, mas não antes que centenas de seus soldados fossem mortos. A Ilha das Pratas, controlada por Taipei, a 400 quilômetros da costa de Taiwan, é outro ponto vulnerável.

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