Bloomberg — O Banco Central deve elevar a Selic na quarta-feira pela 12ª reunião seguida, para 13,75%, estendendo o aperto monetário mais longo da história do Copom, segundo expectativa majoritária dos analistas consultados pela Bloomberg News.
A maior parte dos economistas espera que o BC mantenha a porta aberta, evitando se comprometer com o fim do ciclo de alta ou a continuidade dos aumentos além da reunião desta semana.
Alguns analistas consideram que o BC poderá encerrar o ciclo de aperto monetário nesta semana diante do risco de recessão global, que pesa sobre as commodities, e em meio ao alívio recente da inflação brasileira com o corte de impostos.
Outros consideram que o Copom prosseguirá com o ajuste da Selic, que chegaria a 14% no próximo mês, diante do impacto dos riscos fiscais e da atividade aquecida sobre as expectativas inflacionárias.
Apesar do alívio atual da inflação, analistas têm elevado as projeções para o IPCA em 2023 diante do aumento dos gastos sociais, bem como da esperada reversão, ao menos parcial, da desoneração tributária. A manutenção de níveis elevados dos núcleos e da inflação de serviços também gera cautela.
Expectativa de que a Selic será elevada em 0,50 ponto percentual nesta semana é praticamente unânime entre os economistas. A curva de juros também precifica alta de meio ponto agora e indica ainda prêmio de cerca de 30 pontos para aperto nas duas reuniões seguintes. Uma semana atrás, este prêmio superava os 55 pontos, com elevações até dezembro.
O alívio de curto prazo da inflação brasileira após corte de impostos e reduções de preços dos combustíveis derrubou os juros futuros, embora os riscos fiscais sigam pressionando as expectativas para 2023.
No encontro de junho, o Copom disse que a alta de 0,50pp da Selic era compatível com a estratégia de convergência da inflação para o “redor da meta” no horizonte relevante, que inclui 2023, e sinalizou para agosto nova elevação de igual ou menor magnitude.
Veja os comentários de economistas:
Mario Mesquita, economista-chefe do Banco Itaú
- Copom deve sinalizar que o cenário mais provável é o de encerramento do ciclo, mas deixar a porta aberta para eventual elevação final em setembro em caso de deterioração adicional da inflação ou das expectativas de mercado
- BC deve qualificar que uma eventual alta adicional seria em menor ritmo, de 0,25pp
- Projeção de inflação do cenário de referência do BC deve recuar de 8,8% para 7,0% em 2022, porém aumentar de 4,0% para 4,3% em 2023, ambos movimentos devidos às medidas tributárias sobre preços de combustíveis e energia
Cassiana Fernandez, economista do JPMorgan
- BC deve elevar Selic em 0,50pp e deixar porta aberta para mais aperto
- Dados indicam atividade mais forte, crescente expectativa de inflação e política fiscal mais relaxada
- Banco elevou projeção de juro terminal de 13,75% para 14%, mas a estimativa de um aumento adicional de apenas 0,25pp depende de que ocorra uma desaceleração da atividade
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs
- BC deve elevar a Selic para 13,75% e oferecer uma sinalização dependente de dados, mantendo porta aberta a uma nova elevação, mas com barra alta
- Existe uma possibilidade de a alta da Selic desta semana ser a última
- Últimos resultados do IPCA e IPCA-15 vieram marginalmente abaixo do previsto, mas inflação de serviços alta e disseminada não trouxe conforto às expectativas
- Expectativa de inflação de 2023 aumenta; PIB melhora para 2022 mas piora para 2023
Solange Srour, Lucas Vilela e Rafael Castilho, economistas do Credit Suisse
- Copom deve elevar juro em 0,50pp e não parar o ciclo de alta esta semana
- BC deve promover ainda mais duas altas subsequentes de 0,25pp cada
- Embora já tenha sinalizado intenção de interromper o ciclo nas reuniões de maio e junho, a autoridade monetária foi surpreendida pelo processo inflacionário e corretamente seguiu elevando os juros
Claudio Ferraz e Bruno Balassiano, do BTG Pactual
- Copom deve elevar Selic para 13,75% esta semana e para 14% em setembro
- Fluxo de notícias desde o Copom anterior foi negativo para a perspectiva inflacionária
- Dados de alta frequência sugerem desempenho forte da economia no 2º trimestre e indicadores também apontam que o 3º não deve contrair como se esperava
- Considerável parte da recente desaceleração da inflação deveu-se a preços volátis e regulados, mas composição da inflação segue desfavorável
- Nova rodada de estímulo, com Auxílio Brasil provavelmente permanente, pode afetar inflação via demanda agregada e riscos fiscais
Caio Megale, Tatiana Nogueira e equipe de Macro da XP
- Copom deve elevar em 0,5pp a taxa Selic nesta reunião e deixar a porta aberta para parar ou continuar em setembro
- A incerteza fiscal é o principal risco para a inflação no horizonte relevante
- Os dados desde o último Copom sugerem uma perspectiva de inflação mais equilibrada, embora ainda desafiadora
- Os riscos de recessão global aumentaram, o que contribui para diminuir pressões inflacionárias, mas a inflação de serviços mantém-se em níveis elevados – sem qualquer sinal de acomodação – e o mercado de trabalho se mostra bem aquecido
Mauricio Oreng, head de macro research do Santander
- Houve mudanças importantes no cenário, principalmente fiscal, o mercado de trabalho está cada vez mais forte e também as expectativas de inflação estão altas
- “Uma coisa é fazer estímulo fiscal quando a economia está muito abaixo de potencial. O efeito inflacionário disso é menor. Quando a economia fica mais perto do potencial, o estímulo fiscal passa a ter mais efeito inflacionário”
Luca Mercadante, economista da Rio Bravo
- Expectativa é de que BC eleve Selic em 0,50pp diante das expectativas desancoradas no horizonte relevante e com medidas de inflação subjacente ainda pressionadas
- Copom deve considerar o balanço de riscos para 2023 e atribuir maior probabilidade para que o ciclo de aperto monetário continue em setembro a um ritmo de menor ou igual magnitude
--Com a colaboração de Barbara Nascimento
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