Bloomberg Línea — Um aeroporto no interior de São Paulo, desconhecido do grande público, ganhou os holofotes de maneira inesperada há dois meses, quando o homem mais rico do mundo, Elon Musk, fez uma visita igualmente surpreendente - e meteórica - ao Brasil. O CEO e fundador da Tesla (TSLA) aterrissou o seu Gulfstream G650ER, avaliado em US$ 65 milhões, no Catarina Aeroporto Executivo Internacional.
Para muitos dos brasileiros mais ricos do país, incluindo a elite do mercado financeiro, com casas no Fasano Boa Vista, no entanto, o Catarina já se tornou um hub frequente por diferentes razões. Algumas que se relacionam, no sentido contrário, com o caos em aeroportos na Europa e nos Estados Unidos nas últimas semanas no verão no hemisfério Norte, com filas e longo tempo de espera.
O aeroporto inaugurado pela JHSF (JHSF3) no fim de 2019 é o primeiro dedicado à aviação executiva habilitado para voos internacionais. Ele foi construído nas proximidades da cidade de São Roque, a 30 minutos de carro a partir da saída de São Paulo - ou 14 minutos por helicóptero.
A avaliação de que havia um mercado que não era atendido - e explorado - de acordo com sua potencialidade foi a deixa para que a JHSF decidisse colocar em execução um plano para conectar todos os seus empreendimentos, como o Fasano Boa Vista e o Shopping Cidade Jardim.
“O Brasil é o segundo maior mercado do mundo em aviação executiva, só perde para o mercado americano. A malha aérea comercial não cobre distâncias, e a aviação executiva permite que o usuário economize tempo” disse Thiago Alonso, CEO da JHSF, à Bloomberg Línea. “São Paulo concentra 40% dos voos que circulam no Brasil, que saem da cidade ou vão para a cidade.”
O único aeroporto com dedicação mais ampla à aviação executiva, sem voos comerciais, na maior cidade do país e no seu entorno era até então o de Campo de Marte, na zona norte, construído originalmente há quase cem anos, em 1929. É administrado pelo governo federal.
No segundo trimestre, o Catarina teve um aumento de 86,8% no número de movimentos em comparação com o mesmo período do ano anterior, de acordo com prévia operacional que acaba de ser divulgada. Houve um aumento de 308,5% de litros abastecidos nas aeronaves, uma métrica do setor.
No Catarina Outlet, shopping do grupo ao lado do aeroporto, as vendas aumentaram 33,2% em relação ao segundo trimestre de 2021. A JHSF divulga o balanço do segundo trimestre em 11 de agosto.
O Catarina foi construído, segundo Alonso, com uma estratégia muito clara: melhorar o atendimento ao público de alta renda. De maneira prática, isso significou buscar eliminar filas na imigração e percursos extensos do estacionamento à aeronave (e vice-versa) para os passageiros.
“A arquitetura do Catarina não lembra a dos aeroportos tradicionais, com saguões enormes. O passageiro desce do carro, passa pela recepção e entra no avião. Chegar e sair rapidamente faz parte do contexto da aviação executiva”, disse Alonso em entrevista concedida em junho.
Os números do segundo trimestre refletem um plano de expansão agressivo. Nos próximos três anos, o plano é que a frota que utiliza o aeroporto salte de 80 para 250 aviões. Atualmente, o empreendimento privado tem oito hangares construídos, que devem chegar a 17.
São números que hoje representariam um terço de todos os jatos executivos registrados no país, segundo números da Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral). Hoje são 749 jatos executivos (dados de abril), com crescimento de 8,7% em relação 689 aviões um ano antes.
Como parte da estratégia para atrair o público executivo, o Catarina oferece serviços como um “pay per use” com salas de reunião, escritório e catering a cargo do Fasano.
Em sua passagem pelo país, Musk personificou o que é um dos comportamentos padrão de usuários do Catarina: depois de aterrissar no aeroporto executivo pela manhã, passou pelo Hotel Fasano Boa Vista, também do grupo, para reuniões e um almoço. Após pouco mais de quatro horas no país, o executivo retornou ao Catarina para pegar seu voo de volta aos Estados Unidos.
Concorrência de olho
O crescimento do Catarina significa que há um público de alta renda que passou a utilizá-lo em detrimento de aeroportos tradicionais. Não foi por acaso que o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, anunciou há algumas semanas um plano para construir do zero um terminal dedicado aos passageiros que pagam mais caro por viagens, incluindo a primeira classe de voos comerciais.
É uma competição em que passageiros pesam critérios como economia de tempo e exclusividade, a exemplo de Musk, e outros mais subjetivos como o conforto oferecido.
“É um serviço praticamente individual. O passageiro chega e já passa pela imigração, sem fila”, disse Ana Benavente, diretora executiva para a América do Sul da Air Charter Service, uma companhia britânica de fretamento de voos, à Bloomberg Línea.
Segundo a executiva, um voo fretado entre Rio e São Paulo, por exemplo, custa entre R$ 30 mil e R$ 40 mil, mas pode chegar a R$ 80 mil a depender da aeronave.
Se dinheiro não é fator necessariamente decisivo para a tomada de decisão sobre o aeroporto, o tempo muitas vezes faz a diferença a depender da necessidade. Benavente conta que, por causa da distância, há clientes que ainda optam pelo aeroporto de Guarulhos. Em uma rota de carro que saia da Avenida Paulista, perto dos Jardins, direto para o Catarina, a distância chega a 70 km, enquanto para Guarulhos é de 29km.
Feira com McLaren e Audi
Para fortalecer o plano de tornar o Catarina um hub cada vez mais recorrente para o mercado de aviação executiva, a JHSF começou a organizar o aeroporto como um espaço de eventos exclusivos. A estreia se deu no mês passado com o Catarina Aviation Show.
A Bloomberg Línea esteve presente ao evento fechado para convidados, de donos de jatos e de frotas a apaixonados por aviação e pilotos. Organizada pela NürnbergMesse Brasil, escritório no país de uma das maiores companhias de eventos do mundo, a feira teve patrocínio do Bradesco Private Bank. Marcas de luxo como Audi, McLaren e Fasano estavam entre os expositores para cerca de 3 mil convidados.
“Fechamos negócios nos dias do evento”, disse Juliano Lefèvre, diretor comercial da importadora Comexport, à Bloomberg Línea. Os números de giro de negócios não foram revelados, mas a organização já anunciou a segunda edição para 2023, com alguns expositores já confirmados e em maior escala.
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