Bloomberg Línea — A Meta (META) está mais perto de transformar o WhatsApp em uma poderosa fonte de receita no Brasil. O diretor do WhatsApp no país, Guilherme Horn, conta em entrevista à Bloomberg Línea que já foram acertadas parcerias com “as principais adquirentes do Brasil”, sem revelar quais, mas citando Cielo (CIEL3), Rede e GetNet como gigantes do setor. É um passo fundamental para que opere como uma plataforma de pagamentos conectando consumidores e empresas que já se comunicam por meio do aplicativo.
É um mercado que hoje já conta com mais de 13 milhões de pessoas que acessam catálogos de empresas só no Brasil, um terço do total desse segmento no mundo. Na outra ponta, já existem 5 milhões de contas de WhatsApp Business no país.
O plano, conta Horn, é que empresas que utilizam o WhatsApp Business se cadastrem nas plataformas do aplicativo para que, além da venda, possam oferecer o pagamento diretamente em uma conversa com o cliente.
“Hoje já acontece muita venda pelo WhatsApp. Todos os tamanhos de varejistas já fazem essa venda, só não fazem o pagamento. Quando entrar o pagamento, vai fechar essa jornada”, diz o executivo, que está há quatro meses no cargo e foi anteriormente diretor de estratégia do BV, diretor de inovação da Accenture e sócio da corretora Órama.
O modelo de negócios deixaria de depender apenas da cobrança por mensagens, como funciona hoje a API do WhatsApp Business, para também cobrar taxas das adquirentes que aderirem aos serviços de pagamento do aplicativo, “como já acontece hoje no mercado com as maquininhas ou no mercado online e de e-commerce”, diz Horn.
Outras formas de rentabilizar o serviço já estão crescendo, revela Horn. “O que hoje tem ganhado muito espaço é o que chamamos de “click to WhatsApp”: o anúncio dentro do Facebook e do Instagram que direciona para uma conversa no WhatsApp [...] com um especialista naquele assunto. Isso dá um retorno muito grande para a empresa [...] E o WhatsApp é remunerado por isso.”
“Temos também uma ferramenta já funcionando aqui em São Paulo que é para o WhatsApp no Android. Você pode fazer pesquisa de empresas dentro do aplicativo. Então você quer buscar, por exemplo, uma padaria. Você pesquisa isso dentro do WhatsApp, clica lá, conversa com a padaria, faz o pedido e, quando a padaria gerar o pagamento, você vai poder pagar dentro do aplicativo”, revela.
Oportunidade única no mundo
Segundo o executivo, o WhatsApp é “o aplicativo de mensagens preferido em mais de 80 países, mas no Brasil a situação é muito diferente”. O app tem hoje 2 bilhões de usuários no mundo inteiro, dos quais 120 milhões estão no Brasil - o país tem 215 milhões de habitantes, segundo estimativa da ONU com base nos dados do Censo do IBGE.
“A penetração do WhatsApp no Brasil é muito superior à de qualquer outro país. E isso faz com que as empresas enxerguem um valor muito grande em se comunicar com os clientes através do aplicativo”, diz Horn. “Isso traz uma oportunidade para o WhatsApp no Brasil muito diferenciada, muito superior ao que vemos em outros lugares.”
Segundo uma pesquisa da Kantar contratada pela Meta e conduzida em abril deste ano com 5.500 pessoas com mais de 18 anos, sete em cada dez brasileiros mandam mensagens para empresas pelo menos uma vez por semana, acima de uma média mundial de 66%.
Ao mesmo tempo, 75% dos entrevistados disseram que são mais propensos a fazer negócios com uma empresa que podem contatar por mensagens. A média global é de 66%.
Leia a entrevista com Guilherme Horn:
Quais são os planos de negócios do WhatsApp para o Brasil?
O WhatsApp é o aplicativo de mensagens preferido em mais de 80 países, mas no Brasil a situação é muito diferente, porque ele é usado por uma quantidade muito grande de pessoas. A penetração dele no Brasil é muito superior à de qualquer outro país. E isso faz com que as empresas enxerguem um valor muito grande em se comunicar com os clientes através do WhatsApp.
Qualquer comunicação tem relevância muito grande para o usuário e, portanto, passa a ser altamente relevante para qualquer empresa. E isso traz uma oportunidade para o WhatsApp no Brasil muito diferenciada, muito superior ao que vemos em outros lugares.
E como o WhatsApp vai ganhar dinheiro com essas empresas?
Cobrando por mensagem. Hoje existe a versão que nós usamos, como pessoa física, que é a versão consumidor. Existe também a versão WhatsApp Business, que é para pequenas e médias empresas. É totalmente gratuita e as empresas já conseguem fazer uma série de coisas por ali, como programar mensagens e algumas pessoas usarem simultaneamente a mesma conta. E tem a versão API, já para médias e grandes empresas. É um contrato por mensagem.
Vamos ter ainda o WhatsApp Business Premium, que será pago e voltado para empresas maiores, com necessidades mais específicas.
E além disso, o que hoje tem ganhado muito espaço é o que chamamos de “click to WhatsApp”: o anúncio dentro do Facebook e do Instagram que direciona para uma conversa no WhatsApp. É o fluxo de você anunciar, pegar o usuário que está interessado e levá-lo diretamente para conversar com um especialista naquele assunto. Isso dá um retorno muito grande para a empresa e tem aplicação para vários setores da economia, como varejo, automóveis etc. E o WhatsApp é remunerado por isso.
Temos também uma ferramenta já funcionando aqui em São Paulo que é para o WhatsApp no Android. Você pode fazer pesquisa de empresas dentro do aplicativo. Então você quer buscar, por exemplo, uma padaria. Você pesquisa isso dentro do WhatsApp, clica lá, conversa com a padaria, faz o pedido e, quando a padaria gerar o pagamento, você paga dentro do aplicativo. E isso tudo é feito por meio de um adquirente com a qual a padaria já trabalha, Cielo, Rede, Mercado Pago, enfim.
Como está o sistema de pagamentos? Andou? A concorrência com o Pix dificulta?
Não diria que é por causa do Pix. A dificuldade é a implementação de uma solução em um país onde pagamentos são um assunto altamente complexo. Nos Estados Unidos, é muito mais simples, tem o modelo dos quatro players, adquirentes, super adquirentes, bandeiras. Mas aqui no Brasil a implementação está dentro do cronograma.
Isso depende de autorização do Banco Central? Como está essa parte?
Isso andou. Já temos a orientação do Banco Central de como nos encaixamos dentro do arranjo de pagamentos brasileiro. Isso foi definido e estamos seguindo o processo normal.
O WhatsApp já fechou parcerias? Isso era um problema também.
Temos parcerias com os principais adquirentes do Brasil. Isso tudo foi acompanhado pelo próprio Banco Central. Neste momento, estamos fazendo a implementação tecnológica — eles estão fazendo conosco.
E quais seriam esses adquirentes?
As empresas de meio de pagamento, Cielo, Rede, GetNet, essas.
E com as empresas de consumo, que vão usar esse serviço?
Todas já usam esses adquirentes. A solução, quando estiver disponível no WhatsApp, vai ser ‘linkar’ uma coisa com a outra. É o caminho natural, não tem nenhuma complexidade depois que estiver pronto.
É importante diferenciar o p2p [people to people] do p2m [people to merchant]. O p2p, pessoa para pessoa, já existe. Se você é um contato cadastrado na minha agenda, eu consigo te enviar dinheiro. O que está sendo implementado agora é o p2m, a pessoa pagando uma empresa, pagando um prestador de serviço. Todo mundo que tem a maquininha vai ter mais uma opção. O cara que vende online vai poder vender também pelo WhatsApp.
E por que uma empresa usaria o WhatsApp para isso?
Praticidade. Imagine: o que você já pede pelo WhatsApp, comida, supermercado, mercearia. Hoje, normalmente você pede pelo WhatsApp e recebe um link e você vai para o seu banco ou paga por Pix ou pelo link de um adquirente. Mas você sai dali para pagar. Quando o nosso serviço estiver pronto, o prestador de serviço vai te dar um valor e você clica ali e paga ali mesmo. É a facilidade.
Vai disputar espaço com outros aplicativos, como iFood e Rappi?
É mais uma alternativa. Eu uso o iFood e vou continuar usando para uma série de coisas, mas talvez para outras eu use mais o WhatsApp. Depende muito do usuário, é mais uma alternativa. Hoje já acontece muita venda pelo WhatsApp. Todos os tamanhos de varejistas já fazem essa venda, só não fazem o pagamento. Quando entrar o pagamento vai fechar essa jornada.
E o WhatsApp vai ser remunerado em taxas dentro desse sistema?
Sim, como já acontece hoje no mercado com as maquininhas ou no mercado online e de e-commerce. Da mesma forma.
O que falta para entrar no ar?
Depende da implementação tecnológica e isso demora mesmo, é muito teste e tudo tem que funcionar. Mas é usando o modelo de pagamentos que já existe hoje no Brasil.
A parte do Banco Central está resolvida, então?
No Banco Central há muitas etapas. Eu diria que a principal etapa, que era especificar qual o nosso papel dentro desse arranjo, já aconteceu. Agora tem outras partes. A burocracia é grande e tem que ser assim, porque é um país com uma regulamentação forte e isso dá garantia para o consumidor.
Então ainda precisa da autorização?
Não é autorização expressa. O Banco Central só olha depois que está tudo pronto. Enquanto não está pronto, não olha, porque não faria sentido. Está sendo feita uma integração de tecnologia. Quando essa integração estiver pronta, o Banco Central vai olhar e falar “ok”. É o caminho natural, e o primeiro passo, de definir qual é o papel da Meta nesse arranjo, já foi dado, já está definido.
E qual foi a definição?
Ficou definido que o WhatsApp vai ser uma plataforma. Um “provedor de serviços em rede”, ou PSR, no nome técnico. É a classificação que o BC dá e em que encaixa diversas empresas, de programas de loyalty, vale alimentação, várias, e estamos dentro dessa classificação.
- Texto atualizado às 14h33 de 29/07/2022 para esclarecer que Guilherme Horn não citou as adquirentes mencionadas na entrevista como parceiras do WhatsApp. Também foi esclarecido que a pesquisa da Kantar ouviu adultos usuários de internet, e não apenas do WhatsApp, e que o Banco Central autorizou a transferência de dinheiro dentro do aplicativo em março de 2021, e não deste ano. Às 17h10 foi ajustado um trecho para esclarecer que a cobrança pelos serviços será feita das adquirentes, e não dos usuários.
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