São Paulo — A Amazon (AMZN) reportou resultados de vendas que agradaram os investidores e impulsionaram as ações. Mas os acionistas questionaram a rentabilidade das operações da gigante americana do e-commerce em mercados internacionais. A Amazon disse que há relação entre a fraca margem sequencial no trimestre com o dólar forte.
Outras empresas de tecnologia que divulgam resultados essa semana, como Microsoft (MSFT) e Apple (AAPL), também atribuíram perdas ao câmbio. David Fildes, diretor de relação com investidores da varejista, explicou que “há uma exposição cambial nesse segmento com o lucro operacional, que inclui cerca de US$ 231 milhões de impacto desfavorável para esse segmento, incluído no prejuízo de US$ 1,7 bilhão no trimestre”.
A Amazon não é tão grande no Brasil. Ainda. Enquanto nos Estados Unidos a agência de dados Statista aponta que a varejista tinha quase metade do mercado de e-commerce em 2020, na América Latina, o Mercado Livre (MELI) acumulava mais de 50% de todo o tráfego das 10 maiores empresas de e-commerce na região, conforme estudo Beyond Borders 2021/2022 da fintech Ebanx com dados da Similarweb. Mercado Livre, OLX e Americanas estavam à frente da Amazon em relação ao tráfego online na América Latina, de acordo com o relatório.
Mesmo com prejuízo, a Amazon segue investindo nos mercados emergentes. Recentemente, a empresa comprou parte da startup de logística de “last mile” (a última etapa da entrega ao usuário) Total Express. Em abril, a Amazon anunciou ampliação da estrutura logística para entregas de produtos em até dois dias e a chegada da modalidade de envio no mesmo dia para outras cinco cidades no Brasil.
Sobre os prejuízos, Fildes justificou que a operação da Amazon ainda é nova em muitos países como Brasil, Índia e em países do Oriente Médio.
A Amazon começou a operar no Brasil vendendo seus livros digitais e Kindles em 2012, mas foi só em 2017 que a empresa passou a vender itens variados. O primeiro centro de distribuição só foi lançado em 2019, e, em 2020, a Amazon abriu quatro centros de distribuição no Brasil.
Em 2021, cerca de 11% do volume total de compras online na América Latina veio de transações internacionais, segundo dados da AMI (Americas Market Intelligence) divulgados na pesquisa do Ebanx.
A AMI estima que no ano passado o mercado de e-commerce internacional na América Latina somou US$ 33 bilhões, um salto de 41% em relação a 2020.
De acordo com o estudo, em alguns países da América Latina, como México, Colômbia e Chile, as vendas online internacionais cresceram bem mais do que o e-commerce doméstico. No México, segundo maior país da região e onde a proximidade com os Estados Unidos incentiva o comércio transfronteiriço, o salto foi de 59% em 2021 – contra 28% do e-commerce local.
Na Colômbia, o aumento chegou a 45% (versus 15% das vendas domésticas), e no Chile, 37% (acima dos 23% do mercado local), segundo a pesquisa do Ebanx com dados da AMI.
Mercados emergentes
Fildes explica que nas operações nesses novos países, a Amazon vai melhorar a lucratividade do negócio à medida que estabelece relacionamentos mais fortes com os clientes e trabalha na estrutura de custos e como atende as pessoas. “Em nossos locais emergentes, há uma quantidade saudável de investimento que fizemos para impulsionar a expansão, e esperamos continuar fazendo isso devido à forte concorrência em muitos desses mercados”, disse.
Dentro desses investimentos está a plataforma de streaming Prime Video. A Amazon disse que está buscando oportunidades de conteúdo em idiomas locais, que, segundo Fildes, “ressoe com os clientes e pode ser uma razão significativa para as pessoas se inscreverem no programa Prime, se engajarem e renovarem”.
“Também estamos investindo em infraestrutura, dependendo das regiões e do tipo de estrutura local, seja construindo meios de pagamento, serviços de transporte de terceiros, e, até em alguns casos, internet e infraestrutura de telecomunicações. Então, estamos desempenhando um papel junto com os outros”, disse o diretor.
“Não somos apenas nós que investimos em maneiras de criar e permitir que essa infraestrutura seja bem-sucedida. Então, essas são algumas das oportunidades e desafios que, quando você pensa sobre onde estamos nos EUA versus internacionalmente, há complexidades na rede”, afirmou.
Fildes disse ainda que existem alguns obstáculos regulatórios e outras diferenças nas operações em mercados emergentes, mas a Amazon acredita que é importante continuar investindo nessas oportunidades e aprender não apenas com o que empresa realizou nos Estados Unidos, mas usar a operação internacional para manter a roda girando e servir os clientes de forma mais eficiente.
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