Petrobras vs. Vale: qual o maior risco (ou oportunidade) para a carteira?

Incertezas nos mercados de petróleo e minério de ferro, como demanda da China, inflação e recessão, dificultam tomada de decisão do investidor

Ações da Petrobras e da Vale
28 de Julho, 2022 | 04:59 PM

Bloomberg Línea — O primeiro semestre foi de incertezas e volatilidade para os preços de commodities, com destaque para duas das maiores produções e exportações brasileiras: o petróleo e o minério de ferro.

Afetados pela pandemia, que inicialmente segurou a demanda e comprometeu os investimentos, e agora pela inflação próxima a dois dígitos, uma potencial recessão à frente, sem contar a guerra na Ucrânia, ambos os materiais têm visto fortes movimentos na curva de preços e no calibre das expectativas para os próximos meses.

Petrobras (PETR3, PETR4) e Vale (VALE3), as representantes que abocanham a fatia de mercado majoritária no país na produção das duas commodities, reportam resultados nesta quinta-feira (28), após o fechamento do mercado, e devem demonstrar como aproveitaram, financeiramente, dois mercados que ficaram apertados - no balanço entre oferta e demanda - no segundo trimestre.

Para a Petrobras, a XP Investimentos (XP) espera “mais um trimestre sólido, impulsionado por um aumento nos preços médios do Brent [petróleo de referência para os negócios da companhia]” e compensado apenas parcialmente pela valorização do real, que enfraquece o poder de venda da empresa no exterior.

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Na semana passada, a estatal apontou em prévia operacional não ter conseguido manter o ritmo de produção de petróleo e gás natural no segundo trimestre. Divulgou produção de petróleo de 2,114 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe/d), uma queda de 5,2% no trimestre - o que pode ser compensado pela alta dos preços da commodity.

O time de Equity Research da corretora estima um Ebitda ajustado de US$ 16 bilhões, 7% acima do consenso de mercado e 8% acima do trimestre anterior, além de dividendos impulsionados pelo faturamento de US$ 6 bilhões e compensações para os blocos de Sépia e Atapu.

Para o analista da XP André Vidal, head do setor de Óleo, Gás e Materiais em Equity Research, em conversa com a Bloomberg Línea, a estrutura de mercado que fez com que os preços do petróleo subissem nos últimos meses e, consequentemente, ajudassem a Petrobras deve se manter ainda por um tempo, considerando a baixa capacidade de produção dos maiores players versus a demanda global.

“Realmente deve faltar petróleo no mundo, então devemos ver preços em níveis altos [por mais tempo]. Quando comparamos olhando o cenário para Vale e Petrobras, estamos mais otimistas com o preço do petróleo por ser um problema mais estrutural de oferta”, disse.

Segundo ele, há um cenário positivo para a Petrobras, com dividendos “fortes” para o ano de 2022.

Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, também sinalizou que a o aperto no mercado de petróleo deve permanecer, com um descompasso entre oferta e demanda.

“Dado o múltiplo [dos papéis], que está abaixo da média histórica, o cenário para a Petrobras segue positivo dada a volta da demanda por combustíveis, somado a um capex [investimentos] global baixo de produção e exploração”, afirmou.

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E a Vale?

Para a Vale, o consenso entre analistas, coletado pela Bloomberg News, é que o Ebitda chegue a US$ 6,3 bilhões no segundo trimestre, contra US$ 4 bilhões no primeiro. O resultado deve ser impulsionado pela alta do preço do minério de ferro entre ambos os períodos: o material começou o ano cotado perto de US$ 88 a tonelada, depois passou a US$ 142,35 em abril e recuou para US$ 113,72 em maio.

Ontem (27), a tonelada negociada em Singapura fechou em US$ 112,70, o nível intradiário mais alto em cerca de duas semanas.

A volta da commodity a esse patamar reflete o otimismo das semanas recentes de que o governo chinês deve acrescentar estímulos à economia fortes o suficiente para colocar o país de volta ao trilho do crescimento sustentável após intensos bloqueios à circulação por causa da covid-19. As medidas minaram o setor de construção e deixaram compradores com os nervos à flor da pele.

Em recente entrevista à Bloomberg Línea, o managing director e head de Equity Research para metais e mineração do Bradesco BBI, Thiago Lofiego, apontou que o minério de ferro ainda deve sofrer com a política de Covid Zero de Pequim, mas que, passado isso, os investimentos públicos vão ser o principal driver para a demanda - superando, inclusive, o receio de recessão em outras regiões como Europa e Estados Unidos.

“A China é responsável por 80% da demanda mundial de minério de ferro. O país é capaz de segurar o mercado sozinho, mesmo que o mundo entre em recessão˜, disse em transmissão gravada nos estúdios da Nasdaq, em Nova York.

Rumores de que o Conselho de Estado da China teria aprovado um plano no final da semana passada para criar um fundo para fornecer apoio financeiro a 12 construtoras ajudou a melhorar o humor do mercado nos últimos dias. O fundo teria 50 bilhões de yuans (US$ 7,4 bilhões), que podem ser aumentados para até 300 bilhões de yuans.

Apoio adicional ao mercado imobiliário pode vir a partir de uma reunião do Politburo nesta semana, que define a agenda para o resto do ano. Entre os possíveis temas estão os planos de estímulo e a posição do governo em relação ao mercado imobiliário.

Crespi, da Guide, pontua que o mercado de minério de ferro é mais delicado justamente por essa relação direta com a China. Para ele, uma empresa como a Vale tem um risco político implícito, assim como a Petrobras.

“A Vale fica refém do investimento em infraestrutura, das decisões do governo chinês. O país tem mostrado sinais de desaceleração econômica, o que deixou o papel barato”.

Perto das 15h50, as ações da Vale eram negociadas a R$ 70,75, com alta de 0,2%. No ano, o papel acumula queda de 9,54%. Já as ações preferenciais da Petrobras, negociadas a R$ 32,32, subiam 2,74%, com alta acumulada de 10,9% no ano.

A ação da Vale fechou a sessão desta quinta em alta de 0,29%, a R$ 70,69. Já a preferencial da Petrobras teve alta de 3,0%, a R$ 32,29.

(Atualiza às 17h35 com valores de fechamento)

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Ana Siedschlag

Editora na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero e especializada em finanças e investimentos. Passou pelas redações da Forbes Brasil, Bloomberg Brasil e Investing.com.