São Paulo compra jogador argentino e faz pagamento inédito com cripto

Astro do Banfield virá para o clube brasileiro em operação que pode marcar as finanças dos clubes argentinos, que sofrem com o câmbio

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Bloomberg Línea — O jogador argentino Giuliano Galoppo do Club Atlético Banfield foi comprado pelo São Paulo Futebol Clube de uma forma inédita: por meio de pagamento com criptomoedas. A transação foi mediada pela mexicana Bitso em USD Coin (USDC), segundo a própria plataforma. O valor da transação não foi especificado no comunicado. De acordo com o jornal La Nación, a quantia foi equivalente a US$ 8 milhões.

Nas últimas semanas, os clubes de futebol argentinos vêm enfrentando dificuldade para acessar a janela transferência de atletas diante do momento econômico delicado no país. Com uma diferença cambial de mais de 140%, a venda de jogadores no exterior parece cada vez menos atraente.

Neste contexto, a transferência de Galoppo para o clube paulistano por criptomoedas, concluída recentemente, poderia ser um marco para as finanças dos clubes argentinos. A transação foi a primeira do futebol masculino.

No início deste ano, o time mexicano Tigres realizou a primeira transação de uma jogadora profissional de futebol feminino utilizando criptomoedas junto com a Bitso, quando a brasileira Stefanny Ferrer foi vendida para o Angel City, dos Estados Unidos.

A transferência ocorreu em meio a tensões entre vários setores da economia argentina e o governo sobre a falta de acesso à moeda estrangeira para transações com empresas e instituições no exterior. De acordo com a última estimativa da Aurum Valores, as reservas internacionais líquidas do Banco Central da Argentina – excluindo a posição de ouro e a conta em moeda estrangeira do Tesouro – eram de US$ 5,5 bilhões em 25 de julho.

Pela escassez de dólares, o banco central do país restringiu as restrições à importação nas últimas semanas, embora já as tenha flexibilizado para setores-chave como agricultura e automóveis.

O que dizem o banco central e a receita

O Banco Central da Argentina descartou que a operação de compra do jogador implicasse a possibilidade de contornar os controles cambiais do país, em resposta à Bloomberg Línea.

A instituição afirmou que, como se trata de um caso de exportação, o Banfield deve liquidar os USDC que recolheu no Mercado de Câmbio Único e Livre (MULC), ou seja, na cotação oficial do dólar.

E será obrigado a fazê-lo. Em outras palavras, o clube não será capaz de manter sua posição na stablecoin, mas terá de convertê-la em pesos argentinos.

Fontes da autoridade monetária consultadas pela Bloomberg Línea atribuíram a manobra a uma estratégia de publicidade por parte da exchange mexicana.

Além disso, por ter operado em criptomoedas, e segundo comunicado do banco central do país, publicado na semana passada, o Banfield perderá o acesso ao MULC por 90 dias a partir da data em que concluiu a venda do jogador.

No entanto, uma fonte da Administração Federal de Receita Pública (AFIP, na sigla em espanhol) indagada pela Bloomberg Línea disse que, como não está claro como o clube de Buenos Aires poderia acessar o MULC com a cripto, a questão é suficientemente confusa do ponto de vista regulatório para que o Banfield resista liquidar a stablecoin à taxa de câmbio oficial.

Adaptação do câmbio

Em contraste com a diferença cambial implementada por Cristina Fernández de Kirchner durante seu segundo mandato na presidência, o atual regulamento cambial incorporou um artigo que exige que qualquer moeda recebida no país em troca da exportação de um produto ou serviço seja liquidada no MULC.

Por outro lado, durante a gestão da atual vice-presidente, houve casos de jogadores que foram vendidos em troca de títulos, que posteriormente foram liquidados no dólar “contado con liqui”, operação em que os pesos são trocados por dólares no exterior.

Nesse sentido, a norma vigente foi projetada para capturar todas as moedas geradas a partir de operações de exportação.

O que diz a Bitso

“Este é um momento histórico para a Bitso, para o São Paulo e para o futebol sul-americano. Nossa principal missão é contribuir para uma maior modernização, digitalização e inclusão, e este é outro passo importante nessa direção”, disse Thales Freitas, CEO da Bitso no Brasil.

“Estamos muito orgulhosos de trabalhar com os dois clubes para possibilitar essa contratação histórica do São Paulo, com toda a segurança, transparência e flexibilidade que a criptoeconomia oferece”.

Em maio, a Bitso e o São Paulo também lançaram a primeira venda de ingressos de jogos através de criptomoedas.

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