São Paulo — O encarecimento dos combustíveis colocou a Petrobras (PETR3, PETR4) e sua política de preços na mira do presidente Jair Bolsonaro (PL) , o que alimentou no mercado expectativas de uma eventual mudança antes ou depois da eleição presidencial. Nesta quarta-feira (27), a petroleira reafirmou, em fato relevante, a competência de sua diretoria executiva na execução da política de preços, mas informou que o conselho de administração receberá reporte trimestral sobre o assunto para supervisão. Analistas ouvidos pela Bloomberg Línea consideram o anúncio sem efeito prático.
As ações preferenciais (PETR4) fecharam em alta de 1,10%, e as ordinárias (PETR3), 0,65%, nesta quarta.
“Os procedimentos relacionados à execução da política de preço, tais como periodicidade dos ajustes dos preços dos produtos, percentuais e valores de tais ajustes, conveniência e oportunidade em relação à decisão dos ajustes dos preços permanecem sob a competência da diretoria executiva”, citou a estatal de capital misto no fato relevante.
Em reunião realizada nesta quarta-feira, o conselho aprovou a chamada Diretriz de Formação de Preços no Mercado Interno. “A Diretriz incorpora uma camada adicional de supervisão da execução das políticas do preço pelo conselho de administração e conselho fiscal, a partir do reporte trimestral da diretoria executiva, formalizando prática já existente”, diz a estatal.
Para o sócio e gestor da 3R Investimentos, Rodrigo Boselli, o fato relevante não traz nenhum efeito prático. “Não mudou nada. A companhia apenas quis deixar claro ao mercado e à opinião pública que está criando um pequeno obstáculo ao risco de interferências”, comentou Boselli.
Júlia Monteiro, analista da MyCap Investimentos, teve avaliação semelhante. “Não muda nada. O fato relevante é redundante”, considerou .
A analista disse esperar que, na próxima sexta-feira (29), a companhia possa explicar melhor o teor do fato relevante durante a teleconferência com analistas para comentar o resultado financeiro do segundo trimestre, a ser divulgado nesta quinta-feira (28) após o fechamento do mercado.
O fato relevante cita que a “aprovação não implica mudança das atuais políticas de preço no mercado interno, alinhadas aos preços internacionais, e tampouco no Estatuto Social da companhia”.
A Diretriz de Formação de Preços no Mercado Interno é aplicada aos derivados de petróleo e gás natural comercializados no Brasil.
“A diretora executiva deverá preservar e priorizar o resultado econômico da companhia, buscando maximizar sua geração de valor”, diz o documento, reafirmando como principal balizador do preço o equilíbrio dos preços da Petrobras com os mercados nacional e internacional.
Na avaliação de Boselli, o debate sobre os riscos de interferências políticas na Petrobras é historicamente comum durante anos de eleições presidenciais. “No imaginário popular do brasileiro, acha-se que o preço dos combustíveis é definido pelo presidente da República”, observa o gestor da 3R Investimentos, que mantém posição na estatal.
Ele diz ainda que as ações da estatal vão permanecer sujeitas a uma volatilidade acima do normal devido à proximidade do pleito eleitoral e às propostas divergentes entre Bolsonaro, que se diz a favor da privatização, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula (PT), atual líder das últimas pesquisas eleitorais e defensor de uma ingerência do governo federal na política de preços.
Boselli não espera que o resultado do segundo trimestre, a ser divulgado nesta quinta-feira, traga surpresas. Os dados de produção do período já divulgados indicam uma forte geração de caixa.
Leia também:
Auxílio, Copa e Oxxo: como o Carrefour pretende crescer até o fim do ano