Opinión - Bloomberg

Nova corrida espacial será privada. E é disso que precisamos

Elon Musk quer que a SpaceX seja a primeira empresa privada a concluir uma missão para Marte, mas ele tem concorrentes

Duas startups espaciais anunciaram um plano para pousar no planeta no final de 2024
Tempo de leitura: 5 minutos

Bloomberg Opinion — Elon Musk provavelmente tomou como certo que sua empresa de exploração espacial lançaria e concluiria a primeira missão espacial privada a Marte. Se ele achava que a SpaceX tinha o mercado nas mãos, isso não é mais verdade.

Esta semana, duas startups espaciais anunciaram um plano audacioso para enviar uma aeronave a Marte no final de 2024. No entanto, os obstáculos técnicos são altos. Mas mesmo que a missão não seja bem-sucedida, ela criará algo importante e duradouro: uma corrida espacial entre empresas privadas, não entre governos.

As empresas sempre desempenharam um papel na exploração do espaço. Os primeiros sucessos da Nasa, incluindo as aterrissagens na lua feitas pelas aeronaves Apollo, dependeram de empresas aeroespaciais privadas. Mais tarde, as empresas passaram a dominar o projeto e a operação de satélites de comunicação e de outros tipos de satélites comerciais.

Mas a exploração continua sendo uma atividade que os países ricos buscam por prestígio, glória e vantagem militar, mais do que por lucro.

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O problema é que a exploração e a ciência às vezes são muito complicadas e caras para justificar a busca da glória. Durante a maior parte da era espacial, Marte foi bastante visado – cerca da metade de todas as missões espera pousar ou orbitar sobre o planeta e suas luas.

No início dos anos 2000, Musk começou a ramificar seus negócios e começou a investigar os planos da Nasa para enviar pessoas a Marte. Quando descobriu que não havia nenhum plano, ele começou a planejar a SpaceX. O objetivo de longo prazo de Musk e da SpaceX é tornar a “humanidade multiplanetária”.

Para chegar lá, a SpaceX e seus engenheiros tentaram diminuir o custo de entrar no espaço ao desenvolver sistemas de foguete reutilizáveis. Eles tiveram mais sucesso do que o imaginado.

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Em 2011, um quilograma de carga lançada no Ônibus Espacial da Nasa custava cerca de US$ 30 mil; hoje, um quilograma de carga útil lançada no foguete Falcon 9 do SpaceX custa cerca de US$ 1,2 mil. Os custos mais baixos não apenas expandiram o mercado de serviços de lançamento de foguetes para além dos governos e das grandes empresas, mas também permitiram que Musk acrescentasse certa praticidade aos seus grandes sonhos de chegar a Marte.

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Em abril de 2016, a SpaceX anunciou planos para enviar uma nave espacial sem tripulação para a superfície de Marte a partir de 2018. O plano parecia plausível; tanto o foguete quanto a nave de pouso estavam em estágios avançados de desenvolvimento (e ambos já foram lançados desde então). A missão seria financiada pela SpaceX e por Musk, com apoio operacional e técnico da Nasa, mas sem dinheiro.

O plano revelou-se política e financeiramente insustentável, e Musk o cancelou pouco mais de um ano após o anúncio inicial. Em seu lugar, ele anunciou uma nova arquitetura da missão para Marte, destacada pelo desenvolvimento de uma nave espacial reutilizável chamada Starship, que a SpaceX descreve como “o veículo de lançamento mais poderoso já desenvolvido”. Espera-se que a Starship realize seu primeiro teste orbital em breve, mas não houve nenhuma linha do tempo anunciada para viagens além da Terra.

Isso não significa que não haja esperança de uma missão comercial a Marte. Durante as duas décadas desde a fundação da SpaceX, o setor espacial global tornou-se uma indústria de US$ 447 bilhões (ante US$ 162 bilhões em 2005), com pelo menos 20 empresas capazes de lançar de satélites e aeronaves. À medida que o número de empresas cresce, aumenta também o empreendedorismo e o conhecimento especializado. E parte desse conhecimento especializado se desenvolve por conta própria.

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Tom Mueller é um desses empreendedores. Em 2002, ele foi o funcionário nº 1 da SpaceX e, em 18 anos de carreira, desempenhou o papel fundamental no desenvolvimento de motores e sistemas de propulsão para os foguetes e naves espaciais da empresa. Após se aposentar, decidiu se dedicar à sua paixão por carros de corrida até que fundou a Impulse Space no ano passado. A empresa tem como foco a construção de sistemas de propulsão sustentáveis para mover objetos já no espaço, desde satélites até lixo espacial.

É esse tipo de ambição arrojada que fez da SpaceX um sucesso, por isso não deve ser nenhuma surpresa que Mueller esteja tentando vencer seu ex-chefe na corrida para Marte. O parceiro da Impulse Space no empreendimento é a Relativity Space, uma empresa de sete anos que planeja usar impressão 3D para fazer veículos de lançamento reutilizáveis.

Assim como a Impulse, a Relativity tem o DNA da SpaceX: seu vice-presidente de engenharia e fabricação, Zach Dunn, respondeu para Mueller durante anos. No ano passado, ele entrou em contato com Mueller para montar uma missão que chamaria a atenção para seu novo foguete, projetado para competir diretamente com a SpaceX.

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Será que vai funcionar? A arquitetura da missão para Marte utiliza as capacidades inovadoras de ambas as empresas, ao mesmo tempo em que depende da Nasa para a entrada segura na atmosfera do planeta – a Nasa já pousou um foguete em Marte no ano passado. Se o esforço for bem sucedido, a Nasa e outras empresas provavelmente abraçarão a oportunidade de pagar pelo transporte em futuras missões.

Essa é uma corrida espacial que vale a pena acompanhar. Os programas espaciais do governo continuam a desenvolver a ciência e a engenharia ao redor do mundo. Mas o futuro da exploração do espaço será definido por empresas privadas que se movimentam rapidamente ao competir entre si. A corrida para aterrissar o primeiro foguete comercial em Marte não tem o mesmo apelo de enviar o primeiro humano à Lua. Mas o feito seria igualmente importante para o desenvolvimento de uma espécie multiplanetária. Que vença o melhor.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Adam Minter é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre a Ásia, tecnologia e meio ambiente. É autor do livro “Secondhand: Travels in the New Global Garage Sale.”

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