Ex-diretor do BC que apoiou Selic a 2% ao ano defende aperto maior

Fabio Kanczuk não descarta que a taxa básica de juros possa ir além dos 14,25% no final do ciclo de alta; Copom se reúne na próxima semana

Olhando para trás, o ex-diretor do BC diz que um dos erros da administração da qual fez parte foi prever uma forte desaceleração econômica durante a pandemia, o que não aconteceu
Por Rachel Gamarski e Josue Leonel
26 de Julho, 2022 | 09:35 AM

Bloomberg — O ex-diretor do Banco Central que apoiou uma redução da taxa de juros para o menor patamar da história do Brasil, de 2% ao ano, agora avalia que o BC precisa promover um aperto monetário mais forte e empurrar a taxa Selic dos atuais 13,25% para 14,25% ao fim do ciclo de alta. E não descarta que os juros possam ir além, caso o efeito na atividade continue a demorar.

Fabio Kanczuk, 53, que comandou a diretoria de Política Econômica do Banco Central e agora é head de macroeconomia da Asa Investments, espera mais meio ponto percentual de alta na próxima reunião do Copom, nos dias 2 e 3 de agosto, e um ritmo mais lento para os próximos encontros, até que a maior economia da América Latina mostre uma queda nas estimativas de atividade e inflação.

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“O BC precisa ver as coisas acontecendo, ele precisa de um sinal e não está tendo”, disse em sua primeira entrevista após deixar o cargo, em dezembro do ano passado. Sua estimativa para a Selic ao fim do ciclo de aperto é superior à mediana dos economistas consultados pelo Banco Central na pesquisa Focus, que aponta a taxa de referência encerrando o ano em 13,75%.

Diretor do Banco Central de 2019 a 2021, Kanczuk aponta, além da inflação, os riscos fiscais como grandes desafios do atual cenário. Após a aprovação da PEC dos Benefícios e uma maior injeção de dinheiro na economia, é possível que os efeitos do aperto monetário sejam postergados e a recessão esperada só aconteça no quarto trimestre do ano.

A situação fiscal tornou-se mais expansionista e exige uma política monetária mais restritiva. O Banco Central será mais explícito sobre isso, disse ele, acrescentando que não há outra maneira. “Para 2023, o jogo continua complicado”.

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Apesar do aumento das incertezas, o Banco Central não deve evitar qualquer aumento da taxa básica devido ao risco da chamada dominância fiscal, situação da qual o ex-diretor diz que o Brasil está longe. As autoridades monetárias também olham mais para a inflação do que para a atividade. “O Banco Central deve voltar a ancorar as expectativas”, disse Kanczuk.

Olhando para trás, o ex-diretor do BC diz que um dos erros da administração da qual fez parte foi prever uma forte desaceleração econômica durante a pandemia, o que não aconteceu. Por outro lado, defendeu a política de forward guidance implementada em 2020 para orientar os agentes de mercado sobre as próximas decisões do Copom.

“O forward guidance não precisa mostrar uma convicção do Banco Central, não tem compromisso”, disse. “Eu gosto de uma comunicação mais transparente e hoje o mercado entende o que o BC fala.”

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Segundo o ex-diretor, o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, deve continuar no cargo em caso de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de outubro. Kanczuk diz que Campos Neto não sofreu interferências no atual governo e que o BC deve continuar independente em um eventual governo do PT.

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