A maior siderúrgica do mundo alertou para as condições de crise no setor devido à demanda e a lucros em queda.
A China Baowu Steel ressaltou ventos contrários devido a uma “macroeconomia complexa” e o impacto severo dos surtos de Covid em todo o país, de acordo com uma postagem na conta do grupo no WeChat. Demanda considerada fraca, preços em queda e lucratividade em declínio geram “grandes desafios” para o setor e testam a produção e as operações do grupo, disse a empresa.
Em uma reunião na quarta-feira (20) da semana passada, gerentes seniores da Baowu pediram que as subsidiárias reduzissem as operações que não são lucrativas e mantivessem caixa suficiente para evitar crises de liquidez, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto. Eles também pediram às unidades que minimizem os custos, buscando taxas de juros mais baixas dos bancos e de outros serviços, disse a pessoa.
A Baowu, campeã nacional de aço da China criada pela fusão do Shanghai Baosteel Group e do Wuhan Iron & Steel Group em 2016, se expandiu adquirindo usinas menores desde 2019. A empresa produziu 120 milhões de toneladas no ano passado, segundo a World Steel Association.
Mas muitas de suas unidades lutam com a demanda enfraquecida, disse a pessoa, que pediu para não ser identificada. A indústria siderúrgica da China vem enfrentando margens baixas em meio à concorrência no mercado doméstico à medida que a economia desacelera.
A Baowu não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Outras usinas expressaram temores semelhantes nas últimas semanas, mas o alerta da principal produtora da China provavelmente ressoará com os formuladores de políticas, que buscam reanimar a economia e fortalecer o mercado imobiliário instável do país, que é fundamental para o consumo de aço. A China é o maior produtor e consumidor global da liga metálica.
O governo prometeu um estímulo maciço em gastos com infraestrutura para resgatar o crescimento, mas o pessimismo da Baowu parece indicar uma falta de convicção de que o estímulo dará um impulso suficiente à construção e à demanda por aço.
E como isso afeta o Brasil?
Segundo o Bradesco BBI, em relatório publicado na última segunda-feira (18), a Covid-19 não deve deixar de ser um problema para a economia do país asiático tão cedo. E, apesar dos estímulos concedidos pelo governo chinês nos últimos meses, a economia ainda não se recuperou.
A confiança do consumidor, como aponta a corretora, continua em nível baixo - no segundo trimestre, as famílias da China afirmaram ter expectativas baixas sobre renda e emprego no país, abaixo dos níveis vistos na crise de 2015 e também do que foi visto após a primeira onda do coronavírus em 2020. Segundo a pesquisa, mais de 58,3% das pessoas estavam mais inclinadas a economizar do que gastar ou investir, ante 42,4% no primeiro trimestre de 2022.
“O governo chinês provavelmente continuará lançando estímulos fiscais e monetários na tentativa de fortalecer a economia e gerar empregos (por exemplo, impulso de crédito da China para junho +15% de baixas do 4T21), mas uma variável-chave a ser observada no curto prazo será ser a evolução da confiança do consumidor”, explicam os analistas da corretora.
Enquanto isso, a crise no mercado imobiliário está piorando após uma onda de boicotes de hipotecas devido a moradias inacabadas, que, juntamente com as restrições de covid, provavelmente reduzirão a produção de aço no segundo semestre, de acordo com a Bloomberg Intelligence. O setor imobiliário e infraestrutura normalmente respondem por mais da metade da demanda de aço da China.
No relatório, o Bradesco BBI ainda afirma que “deve-se continuar a ver testes e restrições em massa nos próximos meses, especialmente porque a variante BA.5 mais contagiosa ganha mais relevância na China”, o que deve causar efeitos na indústria siderúrgica do Brasil.
“Se as medidas adotadas pelo governo chinês não estimularem a confiança e o crescimento econômico nos próximos meses ou se os casos de Covid-19 aumentarem e novos bloqueios generalizados tiverem que ser implementados, o sentimento e a demanda ainda mais fracos continuarão a pesar nos preços globais das commodities e, consequentemente, na ação do preço das ações delas”, explica a corretora.
Em recente entrevista à Bloomberg Línea, Thiago Lofiego, managing director do setor de commodities do banco de investimentos e que assina o relatório, disse que os atuais preços para os metais estão contaminados pelo sentimento negativo do mercado, ligado às restrições contra a Covid na China - e, uma vez que isso ficar para trás, os patamares devem voltar a subir.
Segundo ele, a Vale (VALE3) deve continuar a gradualmente aumentar a produção de minério, enquanto as siderúrgicas brasileiras vão surfar na retomada da construção e da produção de automóveis - ainda que sujeitas a, mais uma vez, à demanda da China, principal importadora do aço brasileiro.
Demanda por aço brasileiro
O sentimento fraco deve reduzir ainda mais os preços e as avaliações do setor. E a demanda por aço deve continuar fraca por enquanto, de acordo com a avaliação da corretora do Bradesco, impactada também pela sazonalidade. Uma melhora pode acontecer ao longo do segundo semestre deste ano e no primeiro semestre do ano que vem.
“A dinâmica dos preços do aço foi afetada recentemente pelo sentimento mais fraco do mercado em relação às perspectivas para o crescimento econômico chinês, já que a demanda não aumentou significativamente em junho, impactada por condições climáticas perturbadoras (os meses de verão geralmente levam a uma atividade de construção mais fraca, e junho já registrou vários ondas de calor, que continuaram em julho)”, explica o relatório do Bradesco BBI.
Atualmente, segundo o banco de investimento, “as margens do aço permanecem em território negativo, mas vemos espaço para que os preços recuperem US$ 50-100/t nos próximos meses, já que a produção deve permanecer estável/queda, enquanto a demanda se recupera”.
A visão se torna um pouco mais otimista caso os dados comecem a melhorar, o que deve fazer com que o sentimento dos investidores mude rapidamente, reduzindo os prêmios de risco e os metais e ações relacionadas. A Gerdau (GGBR4), para o Bradesco BBI, continua como a principal escolha no setor de siderurgia na América Latina, com upside (potencial de alta) de 71%.
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