Santander abre resultados de bancos. Analistas vão observar este indicador

Investidores devem ficar atentos ao impacto da inadimplência e às provisões e indicam o banco que deve se mostrar mais resiliente

Santander será o primeiro dos grandes bancos que atuam no país a divulgar o resultado do segundo trimestre, na quinta (28)
24 de Julho, 2022 | 03:06 PM

Bloomberg Línea — Os bancos brasileiros enfrentam um inimigo em comum neste ano: a inadimplência. E os sinais de perdas nessa batalha já devem se mostrar mais visíveis nos resultados do segundo trimestre. O primeiro a revelar seus números financeiros e o impacto dos atrasos de pagamento será o Santander (SANB11), na próxima quinta-feira (28), antes da abertura do mercado.

A combinação de inflação persistente acima de dois dígitos, que corrói o poder de compra das famílias, e de juros elevados cria o cenário propício de atrasos de pagamentos de empréstimos e faturas de cartões de crédito. Em maio, dado mais recente divulgado, o número de inadimplentes alcançou a marca de 66,6 milhões de pessoas, um aumento de 4 milhões em um ano, segundo dados da Serasa Experian. Trata-se do maior volume de brasileiros com contas em atraso da série histórica.

PUBLICIDADE

Depois do Santander, serão divulgados nas próximas duas semanas os resultados de Bradesco (BBDC4), Itaú Unibanco (ITUB4), BTG Pactual (BPAC11) e Banco do Brasil (BBAS3), além da Caixa, de capital fechado.

Analistas ouvidos pela Bloomberg Línea apontam que o destaque positivo do período entre os bancos deve ficar para o Banco do BVrasil, pois a inadimplência para crédito consignado de funcionários públicos (uma das especialidades do banco) é menor do que a de pessoas físicas.

Para a XP Investimentos, é esperada uma continuação dos resultados do primeiro trimestre deste ano, com resultados fortes em termos de lucro líquido e com uma alta gradual na inadimplência. Renan Manda, analista do setor financeiro da XP, aponta que o provisionamento de alguns bancos também deve aumentar para lidar com a quantidade de pessoas que não pagaram suas contas.

PUBLICIDADE

“Alguns bancos terão que reforçar a cobertura para lidar com os inadimplentes, como é o caso de Bradesco e do Santander. Outros casos, como Itaú e Banco do Brasil, têm um nível de cobertura confortável, não havendo uma urgência de acelerar o provisionamento”, disse.

O Itaú BBA reiterou a avaliação da XP: segundo os analistas do banco de investimento, o Banco do Brasil “é o vencedor relativo, em uma carteira menos cíclica e tendências de NII [receitas com juros] mais fortes”. Em relatório, a recomendação para o BBAS3 é de compra, bem como para as ações do Itaú. O Itaú BBA também recomenda evitar as ações do Santander neste momento.

“O BB tem pouca exposição a pessoa física, representando apenas um terço [da carteira] e, desse valor, a grande maioria é de empréstimo consignado para pessoas físicas. Já o Santander tem 60% de empréstimos para pessoas físicas. O Banco do Brasil pode se dar ao luxo de ver a inadimplência subir sem alterar o lucro. O Santander tem uma carteira mais cíclica e menos colchão”, afirmou Pedro Leduc, analista de bancos e serviços financeiros do Itaú BBA.

PUBLICIDADE

A previsão do Itaú BBA para o Bradesco é a de um “lucro de lado”. “Ao mesmo tempo em que há o risco de inadimplência em PMEs subindo, em pessoa física deve ter menos intensidade. Estamos com uma visão nem positiva nem negativa - fica no meio do caminho”, disse Leduc.

A Santander Corretora espera “um nível de crédito saudável dos bancos, combinado com um bom spread que deve fortalecer o crescimento da receita”.

“Mantemos bancos com relevância em nossas carteiras recomendadas. O risco mais alto é o da inadimplência, que deve continuar subindo, mas de forma gradual. Mas o crescimento da concessão de crédito deve compensar. Os bancos estão baratos. Entre ficar positivo ou negativo em bancos, nós ficamos positivos”, afirmou Ricardo Peretti, estrategista de ações da Santander Corretora.

PUBLICIDADE

O aumento da taxa de juros no Brasil, segundo a corretora, não deve alterar tanto o lucro líquido dos bancos, como foi o caso das instituições bancárias americanas. Isso acontece porque o foco dos bancos brasileiros é majoritariamente o crédito para pessoa física, e não investimentos.

Diferença com bancos americanos

Na semana retrasada, os grandes bancos dos Estados Unidos divulgaram seus resultados referentes ao segundo trimestre. A receita do Morgan Stanley (MS) com atividades de investment banking (IB), por exemplo, despencou com a desaceleração do mercado de capitais, simbolizando um trimestre lento para Wall Street, já que as perspectivas sombrias para a economia atrapalham as perspectivas.

O segmento de investimento da empresa registrou US$ 1,07 bilhão em receita, uma queda de 55% em relação ao ano anterior e um declínio maior do que a queda de 47% prevista por analistas. A área de renda fixa do Morgan Stanley, por sua vez, teve crescimento após o aumento de juros pelo Federal Reserve.

Já o JPMorgan (JPM), que divulgou os resultados na mesma semana, suspendeu as recompras de ações após divulgar seus resultados, como medida para preservar a liquidez. O banco também adicionou US$ 428 milhões à reserva de dinheiro para cobrir empréstimos potencialmente inadimplentes, refletindo “uma deterioração modesta nas perspectivas econômicas”.

A receita comercial do banco saltou 15%, para US$ 7,8 bilhões, disse a empresa com sede em Nova York, enquanto os analistas esperavam um aumento de 17%. O lucro líquido da empresa caiu 28%, para US$ 8,6 bilhões, ou US$ 2,76 por ação. Analistas previam US$ 8,9 bilhões.

“O impacto da migração para renda fixa pode afetar o balanço dos bancos no Brasil, porque a dinâmica é a mesma, mas o sentimento disso, por aqui, deve ser menor”, diz Peretti. “Ao olhar para isso, o resultado do BTG Pactual pode ser o mais impactado por ser o mais exposto às ações, mas não é o que vamos ver por aqui, talvez não na mesma intensidade dos bancos dos EUA. Nós imaginavamos que isso seria o normal no começo do trimestre, mas, pelo que apuramos, o resultado deve ser melhor”, afirma.

O fato de os bancos serem menos sensíveis às alterações das taxas de juros também deve diferenciar os resultados das instituições, segundo Manda, da XP. “Os bancos rodam bem menos alavancados. Aqui no Brasil, as instituições bancárias sabem navegar em cenários de inflação alta”, diz Manda. “O cenário não é bom, claro, mas já vimos situações piores no Brasil”, afirma.

E os bancos digitais?

Os bancos digitais, por sua vez, devem reportar um resultado relativamente menor do que o dos bancos tradicionais, segundo os analistas, que apontam que o fato de as empresas serem relativamente novas pode fazer com que não tenham tanto capital para a provisão em relação à inadimplência.

“Vemos um cenário bastante desafiador quando falamos de crédito e, ao falar dos bancos digitais, o crédito cedido por eles é via cartão, que têm um risco maior do que o consignado. E vale reforçar que os bancos mais tradicionais têm robustez muito maior do que os bancos digitais”, diz Rodrigo Caetano, da Toro Investimentos.

Para o Itaú BBA, o momento é para evitar ativos de bancos digitais como Banco Pan (BPAN4) e Nubank (NUBR33), uma vez que “boa parte da inadimplência está nos bancos digitais”, projetando perdas com atrasos para as duas instituições.

“Esses fatores aparecem nos bancos tradicionais, é claro, mas em menor intensidade, uma vez que eles têm clientes mais variados e mais antigos, que não necessariamente abriram a conta no último ano e no cartão de crédito, o que deixa o problema mais diluído”, afirma Leduc, do Itaú BBA.

Leia também:

Por que os bancos de Wall Street estão contratando mesmo com recessão iminente

Mercado Livre recebe US$ 233 mi do Goldman Sachs para avançar em crédito

Tamires Vitorio

Jornalista formada pela FAPCOM, com experiência em mercados, economia, negócios e tecnologia. Foi repórter da EXAME e CNN e editora no Money Times.