O conflito com sindicatos que derrubou o poderoso CEO da Volkswagen

Herbert Diess, que ficaria no cargo até 2025, foi o executivo que liderou a guinada da maior montadora europeia rumo à eletrificação

Herbert Diess deixará a presidência da Volkswagen em 1º de setembro, depois de quatro anos no cargo
Por Keith Naughton e Gabrielle Coppola
22 de Julho, 2022 | 04:48 PM

Bloomberg — O CEO da Porsche, Oliver Blume, irá substituir Herbert Diess, que deixará seu cargo de liderança da Volkswagen, a segunda maior montadora do mundo, em uma mudança abrupta após confrontos frequentes com sindicatos de trabalhadores.

Diess, que seguiria como CEO até 2025 em contrato recentemente estendido, e o conselho de supervisão da VW concordaram mutuamente que ele deixará seu cargo em 1º de setembro, informou a empresa nesta sexta-feira (22). Ele ocupava a liderança da montadora desde 2018.

Blume, que continuará em seu papel como diretor executivo da Porsche, será apoiado por Arno Antlitz, que se tornará diretor de operações, acumulando também a posição de diretor financeiro.

A saída repentina marca o ápice das batalhas recorrentes entre os poderosos conselhos de trabalhadores alemães e outras partes interessadas importantes.

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Os conflitos se tornaram mais frequentes e agudos nos últimos meses, depois que Diess defendeu cortes amplos de trabalhadores para que a montadora pudesse competir com rivais como a Tesla (TSLE). Segundo a imprensa alemã, chegou a falar em 30 mil postos a menos em reunião em setembro passado.

A Volkswagen, com suas múltiplas marcas, possui uma estrutura complexa de acionistas.

Sindicatos possuem a metade dos assentos do conselho de supervisão. O estado federal da Baixa Saxônia possui 20% da montadora e geralmente fica do lado dos interesses dos trabalhadores porque muitos dos funcionários locais são eleitores. Stephan Weil, o primeiro-ministro do estado, se opôs aos cenários defendidos por Diess para cortes em larga escala em casa.

Ainda assim, a saída de Diess provavelmente perturbará os investidores que há muito se preocupam com a discórdia no topo da VW, que prepara o IPO da Porsche para arrecadar fundos para investimentos significativos em sistemas elétricos e software.

“Herbert Diess orientou estrategicamente o grupo Volkswagen para a eletromobilidade”, disseram Wolfgang Porsche e Hans-Michel Piech, líderes da família com direitos de voto majoritários na VW, em comunicado conjunto. “Deve ser creditado a ele em particular que o fato de que grupo Volkswagen hoje esteja em uma posição forte para uma maior transformação.”

Diess, 63 anos, trabalhava na BMW em 2015, pouco antes de a VW admitir ter manipulado milhões de veículos a diesel para trapacear nos testes de emissões. Diess indiscutivelmente empurrou o esforço de eletrificação mais agressivo entre os fabricantes de carros tradicionais, sendo aplaudidos por executivos do setor como o fundador e CEO da Tesla, Elon Musk.

Blume, de 54 anos, era visto como um potencial sucessor de Diess já há algum tempo, embora qualquer mudança fosse esperada para acontecer somente daqui a alguns anos. O conselho da VW havia estendido o contrato de Diess no ano passado até 2025.

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Menos de duas horas antes da VW anunciar a saída de Diess do conselho de administração, ele publicou em seu perfil no Twitter uma reprodução de uma postagem no LinkedIn desejando aos funcionários boas férias de verão e escreveu que a empresa estava em boa forma para o segundo semestre do ano.

Blume começou sua carreira como estagiário na Audi, depois subiu na hierarquia da Seat e da marca homônima da empresa antes de ingressar na Porsche em 2013 como chefe de produção. Ele conseguiu conter em grande parte o envolvimento da Porsche no escândalo de emissões de diesel que custou à fabricante alemã mais de 30 bilhões de euros (US$ 30,7 bilhões).

Diess, por sua vez, iniciou um impulso ambicioso na produção de células de bateria e obteve apoio para o IPO da Porsche, que está planejado para o quarto trimestre.

Ao mesmo tempo, Diess ocasionalmente permitia que o atrito com os sindicatos da VW e outras partes interessadas se espalhasse para o público. Ele comparou a VW a um “tanque” com “estruturas velhas e incrustadas” que ele precisava desmantelar, prometendo modernizar a empresa e se mover mais rapidamente.

Os esforços da VW para desenvolver seu próprio software também foram prejudicados por disputas internas e atrasaram projetos importantes, incluindo uma linha de Audi EVs de próxima geração e um utilitário esportivo Porsche Macan atualizado.

Embora Diess tenha desfrutado de amplo apoio entre analistas e investidores, o preço das ações da VW definhou nos últimos meses. O valor das ações preferenciais caiu 24% neste ano, levando a empresa a ser avaliada em 83,5 bilhões de euros, muito longe da meta de 200 bilhões de euros que a administração da VW traçou em 2019.

Blume também ficará com o negócio inacabado de reviver a relevância da VW nos EUA. Diess estabeleceu uma meta de dobrar a participação de mercado no país e planejava gastar US$ 1 bilhão para reviver a marca Scout como fabricante de SUVs elétricos e modelos de picapes para enfrentar empresas como Ford, General Motors e Rivian Automotive.

A marca VW, que alcançou a lucratividade nos EUA no ano passado, há muito tempo enfrenta dificuldades devido à falta de modelos populares de SUVs em sua linha. Em março, a VW prometeu investir US$ 7,1 bilhões nos próximos cinco anos para melhorar suas ofertas nos EUA e aumentar as capacidades de pesquisa e fabricação de baterias.

O conselho da VW se reuniu nesta semana em Chattanooga, no estado americano do Tennessee, onde a montadora produz o SUV Atlas e o ID.4 elétrico. Scott Keogh, que devolveu a marca VW à lucratividade pela primeira vez em anos, foi escolhido para liderar a marca Scout, enquanto Pablo Di Si, argentino responsável pela VW América do Sul, foi nomeado sucessor de Keogh como diretor das Américas.

- Com Elisabeth Behrmann, da Bloomberg News.

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