Bradesco BBI: China deve segurar demanda por metais mesmo com recessão

Thiago Lofiego, head de Equity Research para metais & mineração do banco, disse à Bloomberg Línea em Nova York que preços podem voltar a subir com impulso asiático

Thiago Lofiego, head de Equity Research para Metais do Bradesco BBI, em entrevista em Nova York para a jornalista Jimena Tolama, da Bloomberg Línea
Por Bloomberg Línea
22 de Julho, 2022 | 11:02 AM

Bloomberg Línea — O cenário para commodities no segundo semestre vai depender quase inteiramente da China, que deve voltar a crescer nos próximos meses mesmo se o resto do mundo entrar em recessão, disse Thiago Lofiego, managing director e head de Equity Research para Metais, Mineração e Papel e Celulose do Bradesco BBI, em entrevista à Bloomberg Línea.

Segundo ele, os atuais preços para os metais estão contaminados pelo sentimento negativo do mercado, ligado às restrições contra a Covid na China - e, uma vez que isso ficar para trás, os patamares devem voltar a subir.

Na entrevista, conduzida dos estúdios da Nasdaq, em Nova York, Lofiego afirmou ainda que a Vale (VALE3) deve continuar a gradualmente recuperar o nível de produção de minério de ferro, enquanto as siderúrgicas brasileiras vão surfar na retomada da construção e da produção de automóveis -ainda que sujeitas, mais uma vez, aos preços de aço na China, que são referência para os preços no Brasil. A entrevista foi feita por Jimena Tolama, diretora da Bloomberg Línea para México e Cone Norte.

Confira a entrevista, que foi editada a fim de maior clareza:

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Falamos muito sobre o sentimento do mercado e o que esperar no futuro. Sobre as commodities, estamos exagerando?

Essa é uma pergunta muito boa. Os preços das commodities são geralmente impulsionados por alguns fatores. Primeiro é o balanço entre oferta e a demanda, depois as expectativas macro. E o terceiro ponto é o sentimento. Neste momento, o sentimento está dominando. O fluxo de dados vindo da China é o principal por causa da situação da Covid. Além disso, há o medo crescente de uma recessão, de inflação e do aumento das taxas de juros. Todo esse ambiente aumenta o risco, então os investidores basicamente exigem um prêmio mais alto para comprar esses futuros de metais ou as ações relacionadas a commodities.

E deixando para trás esse sentimento de mercado, qual seria o driver para as commodities no futuro próximo?

Eu acho que, quando olhamos para minério de ferro ou cobre, os preços já corrigiram bastante. Podemos estar mais perto, nos próximos seis meses, de um patamar de baixa. Uma vez que o fluxo de dados melhore na margem, o sentimento pode melhorar também. Neste momento, os preços estão comprimidos, os múltiplos estão comprimidos. Assim que começarmos a ver dados melhores vindos da China, acho que teremos preços melhores.

Sim, existem riscos e preocupações sobre os Estados Unidos e a Europa entrarem em recessão. Mas, para commodities, a China representa de 50% a 70% da demanda para a maioria. Assim que virmos uma melhora por lá, e achamos que isso vai acontecer, podemos até ver um aumento nos preços.

Olhando para dados econômicos mais recentes da China, tudo está crescendo. O que esperar?

Os dados mais recentes apontam para melhorias na margem, mas não o suficiente para que esse sentimento melhore. Paralelamente, o fluxo de notícias sobre a Covid se deteriorou na China. Estamos lidando com variáveis que estão em conflito constante. Em relação ao fluxo de dados, o estímulo econômico não pode ser ignorado. Mais incentivos, menos restrições, incentivos fiscais.

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O que falta é confiança do consumidor e isso está ligado à Covid. Enquanto continuarmos a ver esse fluxo de notícias negativas ligadas à Covid, a confiança do consumidor na China ficará para trás. A combinação do estímulo e talvez a estabilização da situação da Covid pode ser poderosa no segundo semestre.

Então a China vai ser o motor das commodities neste semestre?

A China será o grande driver. Não apenas nos próximos seis meses mas talvez até nos próximos 12 meses. Novamente, considerando o cenário em que a Covid não piore na China. O estímulo dominará e então poderemos ver a China indo para outra direção em relação às outras economias. Nós não estamos indo para um território bullish, no entanto. O preço do minério de ferro está em torno de US$ 100, enquanto o normal é US$ 70. Achamos que nos próximos meses podemos ver recuperação de preços, não de volta aos US$150 que vimos alguns meses atrás, mas alguma recuperação. Se a China se levantar, poderemos ver a diferença.

O que podemos esperar para Brasil, Chile e Peru?

Do ponto de vista do Brasil, o minério de ferro é a principal commodity, sendo a Vale o principal produtor. O acidente em 2019 [na cidade de Brumadinho, em Minas Gerais] fez com que as operações fossem parcialmente paralisadas. Eles vêm recuperando o nível de produção de forma muito gradual, então a Vale continuará aumentando a produção.

Para Peru e Chile, o foco principal é o cobre. A situação política nesses países mudou no passado recente. Isso, a nosso ver, pode se traduzir em atrasos em alguns projetos porque ainda não há total clareza de como os novos governos atuarão nesses setores. No médio prazo, isso pode ser positivo para os preços do cobre, pois haverá menos oferta vinda desses dois países. Mas, para as empresas sediadas lá, como a Southern Copper, podemos ver atrasos nos projetos e menor valor para essas empresas.

No caso do Brasil, olhando para outras empresas além da Vale, quais são suas expectativas? Como elas vão se desenvolver no curto prazo?

Como você sabe, é um ano eleitoral no Brasil. A Vale tem uma exposição no Brasil, mas não depende disso para ganhar dinheiro. Mas as siderúrgicas, sim. Então agora há uma preocupação crescente no curto prazo, mas estamos mais do lado positivo quando olhamos alguns dados específicos vindos da construção no país. O nível de lançamentos imobiliários ao longo de 6 a 12 meses está impulsionando a demanda de construção.

O setor de automóveis sofreu com o fornecimento de microchips e essa é uma situação global, mas agora está começando a ver alguma recuperação. Veremos alguma melhora na demanda por aço no Brasil, na margem. Mas, em relação aos preços, depende muito mais do que acontece na China. Portanto, voltando ao que disse antes, se houver uma recuperação na China, os preços no Brasil podem subir.

Agora, no México, empresas como Kimberly Clark estão tentando se proteger dos preços dessas commodities. Este é um bom momento para eles reajustarem?

Acho que o hedge vai depender da política que cada empresa estabelece para si. É difícil dizer se este é um bom momento para fazer hedge ou não. Acho que hedging é uma filosofia e uma política que você decide para a sua empresa. Uma vez que eles vão por essa rota, às vezes pode gerar frutos.

Em uma perspectiva geral, qual é a sua visão para os preços dos metais nos próximos 12 a 18 meses?

Vamos ver um cenário saudável. Compreendo os riscos de uma possível recessão, mas, como mencionei anteriormente, a China é o principal impulsionador das commodities. Portanto, mesmo que vejamos uma recessão em outros países, se a China estiver crescendo, poderemos ver os preços das commodities sendo negociados em um nível mais alto. Haverá volatilidade, mas as commodities permanecerão em um nível saudável, mas não mais em um território de alta.

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