Bloomberg — Os resgates de recursos de fundos de ações globais apenas começaram a acompanhar o pessimismo dos investidores com ativos de risco, de acordo com os estrategistas do Bank of America (BAC).
“Todo mundo está mais pessimista, mas nem todos venderam”, escreveram em nota estrategistas liderados por Michael Hartnett, acrescentando que, para cada US$ 100 de entrada desde janeiro de 2021, apenas US$ 2 vieram das ações tecnológicas e US$ 3 vieram de ações em geral.
“Os fluxos estão começando a acompanhar o sentimento”, disseram, alertando que as ações provavelmente devem cair mais com a crença de que “Wall Street vai resolver os excessos financeiros dos últimos 13 anos com um bear market comum por seis meses”.
O posicionamento bearish, de acordo com Hartnett, é atualmente o principal fator para o apetite por risco e a possível recuperação do mercado, mas os lucros das empresas e a política monetária hawkish (mais rigorosa) dos bancos centrais ainda não sinalizam uma nova tendência de alta.
Na semana encerrada em 20 de julho, os fundos acionários globais tiveram resgates de US$ 4,5 bilhões, com as ações americanas passando pela segunda semana de saída com US$ 0,7 bilhão, de acordo com a nota que citava dados da EPFR Global.
Cerca de US$ 8,2 bilhões saíram do mercado de títulos - a primeira saída em três semanas -, ao passo que as entradas foram de US$ 3,5 bilhões, segundo os dados.
Os mercados de ações tentaram se recuperar em julho, com o índice S&P 500 (SPX) na rota para seu maior ganho mensal desde outubro de 2021, depois que as preocupações com uma recessão iminente levaram o índice a um bear market no mês passado. Ainda assim, o sentimento dos investidores continua controlado, já que se espera que o Federal Reserve permaneça hawkish mesmo com a possibilidade de uma contração econômica, pois o foco é o combate à inflação histórica.
Os participantes do mercado também estão debatendo se as ações tiveram capitulação total – a pesquisa de julho do Bank of America com os gestores globais de fundos, divulgada no início desta semana, mostrou que a alocação dos investidores em ações caiu para o nível mais baixo desde outubro de 2008, ao passo que a exposição a ativos de risco caiu para níveis não vistos mesmo durante a crise financeira global. Enquanto isso, os estrategistas da Sanford C. Bernstein disseram que as ações ainda não estão em capitulação total, já que as saídas de capital da Europa acabaram de começar.
“Os catalisadores Putin/China devem ser menos bearish no segundo semestre, mas a corrida por um bull market precisa de um pico no índice de preços ao consumidor, um pico nos rendimento e um fim nas altas das taxas de juros até 2023, o que é improvável sem uma grande recessão e/ou grande evento de crédito”, disse Hartnett, recomendando a venda do S&P 500 a 4.200, ou 5% a mais que no último fechamento.
Os investidores estão focando na temporada de divulgação de resultados para obter pistas sobre a capacidade de as empresas superarem uma enxurrada de riscos, incluindo a inflação crescente e as restrições no abastecimento.
Hartnett havia dito na semana passada que os lucros corporativos mais fracos que o esperado poderiam levar os investidores a uma capitulação total. Dados compilados pela Bloomberg mostram que menos empresas americanas estão superando as estimativas de lucros nesta temporada – os setores de materiais e energia estão entre os que ficaram mais aquém das metas.
Em termos de fluxos de capital por fatores de estilo, as large caps tiveram entradas, mas as small caps, growth e value passaram por saídas na semana. Os setores de saúde e bens de consumo lideraram as entradas, já os de materiais e energia tiveram as maiores saídas.
- Com a colaboração de Lisa Pham.
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