Por que iFood e XP decidiram investir milhões neste projeto em tecnologia

Coalização de empresas planeja investir inicialmente R$ 15 milhões para atacar limitação de profissionais na área e ampliar a diversidade

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Bloomberg Línea — O iFood e a XP Inc. (XP) estão unindo forças - e dinheiro - para capacitar jovens para trabalhar na área de tecnologia. A iniciativa de treinamento e aulas de programação, chamada de Movimento Tech, partiu de conversas que lideranças das duas empresas tiveram há um ano para tentar resolver o desafio da falta de profissionais de tecnologia e de diversidade no setor.

iFood e XP decidiram investir R$ 5 milhões, enquanto outras 18 empresas já comprometeram R$ 10 milhões para os projetos. O objetivo é captar e investir R$ 100 milhões até 2025. A expectativa é formar e empregar mais de 1 milhão de profissionais até 2030.

“Acreditamos que o Brasil só vai virar uma potência se conseguirmos dominar a era da tecnologia”, disse Gustavo Vitti, chefe de pessoas e sustentabilidade do iFood, em entrevista à Bloomberg Línea.

O Movimento Tech tem três pilares, segundo as empresas: despertar o interesse do jovem de baixa renda para ser um profissional de tecnologia, capacitá-los e conectá-los com o emprego.

“Estamos olhando quais são os projetos que existem hoje ou construindo projetos do zero que atendam a demanda desses três pilares”, explica Vitti.

O país vive um momento de iniciativas do setor privado para resolver um dos maiores desafios do desenvolvimento do país.

Há pouco mais de um ano, André Esteves, sócio sênior e principal acionista do BTG Pactual (BPAC11), Roberto Sallouti, presidente do banco, e outros investidores lançaram o Inteli (Instituto de Tecnologia e Liderança), um instituto tech inspirado em Stanford e no MIT (Massachusetts Institute of Technology). Esteves e família doaram R$ 200 milhões para a iniciativa sem fins lucrativos, que recrutou 180 alunos para a primeira turma neste ano, a metade com bolsas parciais ou totais.

A iniciativa liderada por iFood e XP, por sua vez, lançou o primeiro programa, a “Maratona Tech”, que funciona como uma Olimpíada de Matemática - mas para programação - nas escolas públicas.

Para capacitar e empregar, o grupo criou o “Potência Tech”, que tem como objetivo buscar grupos sub-representados e dar bolsa de estudos.

A iniciativa conecta escolas de tecnologia, como a Let’s Code, por exemplo, com empresas como XP, iFood, Vtex, Accenture, Arco Instituto, Grupo Boticário, Buser, Ci&T, Cubos Academy, Digital House, Fundação Behring, Gama Academy, Instituto Localiza, Kenzie Academy Brasil, ONE (Oracle Next Education), Rocketseat, Semantix, Telles Foundation e VTEX, que estão apoiando o projeto.

Segundo Gabriel Santos, chefe de arquitetura de software na XP, a iniciativa pretende aumentar a oferta de profissionais qualificados, já que a pandemia abriu fronteiras para que brasileiros trabalhassem para empresas estrangeiras. “Com o câmbio, acabamos exportando mais essa mão-de-obra qualificada do que importando”, disse.

Demanda mesmo na crise

O primeiro programa do iFood para capacitação para emprego se deu em 2020, com a Resilia, quando formou profissionais em ciências de dados. “No final de contas, se não formarmos profissionais diversos, vamos continuar naquele jogo de roubar profissionais de outras empresas”, disse Vitti.

As escolas parceiras da iniciativa devem oferecer pelo menos 800 horas de treinamento em programação para esses jovens.

O iFood recentemente cortou funcionários da área de aquisições de talento porque, segundo Vitti, a empresa desacelerou as contratações. Mas a necessidade de profissionais da área permanece.

“Continuamos contratando profissionais de tecnologia, mas no passado estávamos contratando 200 pessoas por mês e agora contratamos de 80 a 100 pessoas por mês”, disse.

Para a XP, a demanda por profissionais de tecnologia passa por uma valorização dentro de casa. No ano passado, o então CTO Thiago Maffra assumiu como CEO no lugar de Guilherme Benchimol.

“Esse movimento do Maffra de se tornar CEO da empresa vem muito dessa visão de transparecer que a XP está acompanhando o movimento do mercado. Parte muito do princípio de que toda empresa agora passa a ser uma empresa de tech”, disse Santos.

“Mas também temos que transformar todo o ecossistema, e o o Movimento Tech vem muito com a questão da responsabilidade social para aumentar a oferta.”

As escolas de programação definem os alunos selecionados por renda familiar e as empresas investem nas escolas. “Tem uma onda de tecnologia e, se o Brasil não fizer nada, vai ficar de fora. Se ficar esperando governo e iniciativa pública para resolver esse problema, está todo mundo lascado.”

Barreiras: a infraestrutura da escola pública

“É um efeito colateral muito positivo despertar interesse para a área. A partir do momento em que você começa a formar pessoas para um mundo onde o dado está cada vez mais aberto com o open finance e o open banking, todo mundo passa a ter acesso aos dados de forma livre”, afirmou Santos.

A Olimpíada da tecnologia tem como alvo alunos do nono ano do Ensino Fundamental e jovens do Ensino Médio.

“Qualquer empresa ou movimento que prometer fazer o Brasil virar uma potência tecnológica no curto prazo não é realista. Acreditamos que é preciso plantar essa semente nesse jovem e criar bolsas para que as pessoas tenham acesso. Uma pessoa de um grupo sub-representado com certeza impacta e influencia várias outras pessoas ao seu redor”, disse Vitti.

Mas há barreiras que a XP e o iFood terão que superar. Uma delas é a infraestrutura das escolas públicas, dado que algumas não possuem nem computador.

Em paralelo, o iFood tem conversas com a Starlink, de Elon Musk, para oferecer internet para regiões remotas no Brasil. O CEO do iFood, Fabrício Bloisi, faz parte do conselho da XPRIZE, organização sem fins lucrativos para incentivar o desenvolvimento tecnológico, junto com Elon Musk.

“Temos falado com a Starlink, mas são coisas para as quais ninguém tem a resposta. O movimento busca trazer uma inteligência coletiva para problemas que, antes, sem ninguém ‘meter a mão na massa para tentar resolver, nunca saberíamos deles”, disse Vitti.

Outro desafio é fazer com que o jovem de baixa renda, que muitas vezes já tem um trabalho, consiga disponibilidade para se dedicar ao curso oito horas por dia por seis meses.

“O MEC [Ministério da Educação] não é centralizado, então você não consegue divulgar uma comunicação massiva para todas as escolas. Temos que falar com várias secretarias e há dificuldade para colocar esse projeto em pé”, afirmou o diretor do iFood.

“Individualmente, ninguém vai conseguir resolver esse problema e mal vai mexer algum ponteiro. Isso não é um movimento do iFood ou da XP. Queremos um movimento em que todas as empresas sejam capazes de entrar e potencializar.”

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