Futuros em NY e bolsas na Europa em queda após decisão mais agressiva do BCE

Operadores também repercutem a retomada do gasoduto Nord Stream, os balanços corporativos e a expectativa de medidas para evitar a crise da dívida na Europa

Conheça os eventos que vão orientar os investidores nesta terça-feira, 5 de julho
21 de Julho, 2022 | 08:37 AM

Barcelona, Espanha — (Esta é a versão atualizada a nota publicada originalmente às 6h45)

Depois de meses de resistência, o Banco Central Europeu (BCE) finalmente entrou para o clube mundial de alta dos juros, que já conta com mais de 80 bancos centrais. Em uma investida rara entre as autoridades monetárias, a presidente da instituição, Christine Lagarde, confirmou as apostas crescentes dos últimos dias por ajuste mais significativo da taxa de juros, de 0,50 ponto percentual, que passou a zero.

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O evento marcou o fim de uma era, já que representa o primeiro aumento de juros em 11 anos e o fim de um ciclo de taxas negativas que perdurava desde 2014. O BCE está entre a cruz e a espada.

A renúncia do primeiro-ministro italiano Mario Draghi, anunciada nesta manhã, aumentou a pressão sobre o BCE pouco antes de este apresentar sua nova ferramenta antifragmentação para proteger os países mais vulneráveis da zona do euro. A turbulência política e o aumento dos custos da dívida podem causar problemas para países periféricos como Itália, Grécia, Portugal e Espanha.

Além disso, a inflação nas 19 nações da Zona do Euro está queimando: somou 8,6% em junho, mais de quatro vezes acima da meta de 2% e maior que os 8,1% de maio. Em toda a União Europeia, os preços ao consumidor saltaram 9,6%. A debilidade do euro frente ao dólar e o fato de que todos os pares do BCE estão subindo os juros de forma mais contundente também forçam o BCE a uma ação.

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O índice Stoxx Europe 600, que passou toda a manhã em queda, passou a cair 0,50% minutos após a decisão. O FTSE 100, em Londres, e o DAX, em Frankfurt, também caíam. O euro passou a se valorizar com a alta do juro. Os contratos futuros do S&P 500 e do Nasdaq 100 seguiam em baixa. Os prêmios dos títulos do Tesouro dos EUA subiam, empurrando a o bônus de 10 anos acima dos 3%.

Fatores que estão orientando os mercados hoje:

🇮🇹 Caos político na Itália. Mario Draghi demitiu-se do cargo de primeiro-ministro da Itália, lançando o país em um caos e criando a necessidade de eleições agora no início de outubro. O ex-chefe do Banco Central Europeu entregou sua decisão ao presidente Sergio Mattarella na manhã de hoje. O governo continuará monitorando as frentes em aberto, mas sua influência será mínima.

Mattarella, que aceitou a renúncia, se reunirá na tarde de quinta-feira com os oradores de ambas as casas do parlamento para acordar os próximos passos, que provavelmente incluirão uma votação de emergência após o verão. A votação poderá ocorrer em 2 de outubro. As eleições de outono são inéditas na Itália, uma época em que o parlamento geralmente prepara o orçamento anual.

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🛟 Salvaguardas. O mercado está igualmente ansioso pelo anúncio de uma ferramenta que evite a fragmentação do mercado de dívida europeu. O BCE precisa desenhar um mecanismo que impeça uma diferença brutal dos prêmios de risco entre os países mais desenvolvidos do bloco, como é o caso da Alemanha, e os países periféricos. Espera-se que hoje a autoridade monetária explique como será o desenho desta ferramenta: requisitos, duração e como serão equilibradas as medidas de retirada de liquidez, de modo que consiga controlar a inflação sem provocar um choque de dívida.

🔛 Nord Stream. O maior gasoduto da Rússia para o continente retoma suas operações depois de dez dias fechado para manutenção. As ordens de embarque de gás agora indicam que os fluxos retornarão a 40% da capacidade. A retomada dos fluxos proporciona algum alívio para a Europa, que corre para armazenar o combustível antes do inverno. A União Europeia tem se preparado para o pior com um plano para conter o consumo de gás em 15%.

🚂 A todo vapor. A safra de balanços hoje incorpora mais de 30 empresas do S&P 500 e cerca de 35 companhias integrantes do índice europeu Stoxx 600.

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Um panorama em dia de decisão do BCE
🟢 As bolsas ontem: Dow Jones Industrials (+0,15%), S&P 500 (+0,59%), Nasdaq Composite (+1,58%), Stoxx 50 (-0,21%)

As ações dos EUA fecharam em território positivo pelo terceiro dia consecutivo em uma sessão de muita volatilidade. Os investidores pesaram os relatórios corporativos trimestrais, os riscos geopolíticos e de energia na Europa e se os mercados atingiram o fundo do poço. As ações de tecnologia diminuíram brevemente os ganhos após a notícia de que o Google da Alphabet Inc. fará uma pausa de duas semanas nas contratações. No entanto, o balanço melhor do que o esperado da gigante do streaming Netflix Inc. apoiou o rali de pares do setor e ajudou a reforçar a confiança na resiliência do consumidor.

Na agenda

Esta é a agenda prevista para hoje:

EUA: Pedidos Iniciais por Seguro-Desemprego, Índice de Atividade Industrial e Índice de Condições Empresariais - Fed Filadélfia/Jul, Índice de Indicadores Antecedentes dos EUA/Jun, Estoque de Gás Natural

Europa: Gasoduto Nord Stream 1 previsto para reabrir após manutenção. Reino Unido (Dívida Líquida do Setor Público/Jun), França (Pesquisa em Empresas/Jul)

Ásia: Japão (Relatório de Projeções do BoJ, IPC/Jun, PMIs Industrial e de Serviços/Jul); Hong Kong (IPC/Jun)

América Latina: Brasil (Receita Tributária Federal); México (Vendas no Varejo/Mai)

Bancos centrais: Decisões sobre taxas de juros do Banco do Japão e do Banco Central Europeu (BCE). Pronunciamentos de Christine Lagarde (presidente do BCE), Huw Pill (BoE)

Balanços do dia: Roche, Danaher, AT&T, SAP, Nokia, American Airlines, Philip Morris International, Union Pacific, Blackstone.

📌 Para amanhã:

Balanços: • Balanços: Verizon, Twitter, American Express, entre outros

• Indicadores PMIs/Jul: Japão, França, Alemanha, Reino Unido e Zona Euro; Reino Unido (Índice GfK de Confiança do Consumidor); Japão (IPC/Jun); Levantamento do BCE com previsões econômicas

(Com informações da Bloomberg News)

Michelly Teixeira

Jornalista com mais de 20 anos como editora e repórter. Em seus 13 anos de Espanha, trabalhou na Radio Nacional de España/RNE e colaborou com a agência REDD Intelligence. No Brasil, passou pelas redações do Valor, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Tem um MBA em Finanças, é pós-graduada em Marketing e fez um mestrado em Digital Business na ESADE.