Bloomberg Opinion — No passado, a Netflix (NFLX) mostrou uma habilidade extraordinária de se recuperar de um resultado inesperadamente ruim em um trimestre ao superar projeções no trimestre seguinte. Foi o que aconteceu nesta terça-feira (19): após alarmar o mercado com uma estimativa de queda de 2 milhões de assinantes no segundo trimestre, a gigante de streaming relatou uma perda significativamente menor: 970 mil assinantes.
Os investidores comemoraram, levando as ações da Netflix para US$ 225 no after-market após uma alta de 5,6% durante o pregão regular, quando chegou a US$ 201,63. Depois do baque sentido pelas ações da Netflix, parecia até que tudo ia melhorar.
Espere aí. Se analisarmos os números de assinantes da Netflix por região, as coisas não vão muito bem. A única área em que a Netflix mostrou um crescimento real foi a Ásia-Pacífico, onde tem uma presença menor que em outras regiões. Nas maiores regiões – América do Norte e Europa, Oriente Médio e África – o êxodo de assinantes aumentou significativamente.
Na América do Norte, por exemplo, a Netflix perdeu 1,3 milhão de assinantes, cerca do dobro da perda do primeiro trimestre. Na Europa, Oriente Médio e África, o resultado foi semelhante.
Encolher nos mercados maiores e mais ricos nunca é bom sinal. Contudo, as perdas na América do Norte reforçam particularmente a ideia de que a Netflix errou ao aumentar os preços, pois a concorrência com empresas como Walt Disney (DIS), Apple (AAPL) e Warner Bros estava aumentando. Essa ideia ganhou força após os resultados do primeiro trimestre. A Netflix discorda: seus executivos contestaram a ideia de que os aumentos de preços causaram um aumento na taxa de cancelamentos.
Era difícil levá-los a sério na época e ficou ainda pior. Eles reforçaram essa opinião na terça-feira, afirmando em sua carta trimestral aos acionistas que “a retenção melhorou ao longo do trimestre” e os cancelamentos estavam “próximos dos níveis anteriores de ocasiões de mudança de preços”, mesmo que “continuem ligeiramente elevados”.
Para garantir, os executivos da Netflix também podem apontar o benefício financeiro dos aumentos de preços: a receita média por cadastro na América do Norte aumentou 7% no segundo trimestre ante o primeiro, chegando a US$ 15,95. Isso significa que a receita na região aumentou ligeiramente em relação ao primeiro trimestre, apesar da base de assinantes menor.
Mas o aumento da receita com um número cada vez menor de clientes não é uma estratégia de crescimento de longo prazo. Na verdade, essa é a forma como o setor de TV a cabo vem operando – e a Netflix certamente não quer seguir esse modelo. A Netflix projetou um retorno ao crescimento geral no terceiro trimestre. Se ela vai conseguir conter as perdas em seus maiores mercados é uma questão mais fundamental.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Martin Peers é colunista da Bloomberg Opinion e cobre as áreas de tecnologia e mídia. Foi editor adjunto da coluna “Heard on the Street” do Wall Street Journal e editor-gerente do site The Information.
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