Quem é o joalheiro brasileiro que vem promovendo a mineração ética

Se as pedras preciosas não forem rastreáveis, designers e clientes não têm como saber se a compra proporcionou emprego seguro

Com a intenção de trazer à tona as boas práticas, joalheiro visita minas em busca de operações sustentáveis
Por Kristen Shirley
18 de Julho, 2022 | 03:51 PM

Bloomberg — O Brasil é o lar de muitas pedras, principalmente de requintadas joias naturais, incluindo rubelitas, esmeraldas e as famosas turmalinas da Paraíba. O joalheiro brasileiro independente Ara Vartanian adora exibir as pedras do país em suas peças, e agora ele está espalhando a notícia de que o processo de extrai-las pode ser belo à sua própria maneira: a mineração responsável tem o potencial de melhorar drasticamente vidas e até mesmo combater o desmatamento.

Em 2020, ele lançou a iniciativa Mineração Consciente para destacar as minas brasileiras que investem em suas comunidades e produzem pedras que podem ser rastreadas até a fonte.

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Se as pedras preciosas não forem rastreáveis, designers e clientes não têm como saber se sua compra proporcionou emprego seguro para os trabalhadores ou se foram mineradas de forma ambientalmente responsável. Tradicionalmente, a indústria de mineração tem sido um círculo bastante fechado que mantém suas práticas privadas, independentemente de as empresas estarem fazendo coisas maravilhosas ou terríveis.

Vartanian cresceu na indústria de joias – seu pai era comerciante de pedras preciosas e sua mãe era designer – e ele viu isso em primeira mão. “Havia sempre um aspecto secreto no negócio”, lembra. “O pessoal da velha guarda, como meu pai e as pessoas que ele conhecia, sempre comprava uns dos outros”.

Agora, em seu próprio negócio, ele diz que quer fazer o máximo possível com de seu trabalho. Por meio da Mineração Consciente, ele descobriu minas locais no Brasil que praticam a extração responsável e ajudam a comunidade local e o meio ambiente.

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As pedras preciosas são mineradas ao redor do mundo de diversas maneiras. Algumas minas são enormes e produzem milhões de quilates de pedras preciosas brutas, ao passo que minas artesanais são muito menores. Independentemente do porte, algumas empresas de mineração investem nas comunidades locais por meio de projetos de educação, saúde e meio ambiente, enquanto outras simplesmente operam uma mina e empregam trabalhadores. Existem também minas não regulamentadas, que podem ter condições de trabalho perigosas e prejudicar o meio ambiente local.

Vartanian foca no trabalho com operações com fortes iniciativas de responsabilidade social corporativa, começando com as minas do Cruzeiro e Belmont, ambas em Minas Gerais. Ele ficou impressionado com a qualidade das pedras e pelo que viu quando visitou as minas, tanto em termos de condições de mineração quanto de benefícios para a comunidade.

Ele queria encontrar outras minas com diferentes pedras que também fizessem coisas boas em suas comunidades, mas percebeu: “não havia ninguém para que eu ligasse e que diria ‘eles são bons’”. O Brasil não tem nenhuma agência de monitoramento desses benefícios nem mesmo um banco de dados compartilhado para consulta.

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Também foi decepcionante para Vartanian perceber que “às vezes os bons são também os maus”. “Muitas marcas estavam falando mais que fazendo”.

Então ele mesmo decidiu fazê-lo, visitando minas que ele acreditava que faziam um bom trabalho e persuadindo-as a divulgar suas práticas. Além de rubelitas e indolitos da mina do Cruzeiro, ele usa esmeraldas da mina de Belmont, além de turmalinas da Paraíba.

Vartanian publica sobre as minas que usa em seu Instagram, onde tem mais de 67 mil seguidores, para divulgar a iniciativa e educar os clientes sobre a origem de suas pedras. Seu site também tem uma seção que explica seus padrões de fornecimento e por que a extração responsável é importante. Essas minas melhoram a qualidade de vida nas comunidades locais não apenas com emprego e educação, mas também através de projetos de reflorestamento e tratamento de água. Vartanian tem orgulho de sua herança e usa muitas pedras brasileiras, principalmente turmalinas da Paraíba. O projeto Mineração Consciente é sua forma de honrar o país e seus recursos naturais.

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“Não recebo nenhum benefício financeiro com isso. Entendo que aplaudir quem faz o bem pode incentivar outros mineradores a fazer o bem”, disse. As minas começaram a pedir que ele visitasse as instalações para conhecer suas iniciativas. Ele até já fez com que outros designers de joias entrassem em contato quando precisassem de pedras específicas, e em vez de ser reservado sobre suas fontes, ele está feliz em conectá-las com as minas. “Não é engraçado? Eles podem ser meus concorrentes e mesmo assim estou apresentando-os às minas”, disse Vartanian.

Esse espírito aberto e a demanda por mudanças no setor tem estimulado outros designers brasileiros a participar de sua iniciativa Mineração Consciente, incluindo Fernando Jorge, Verachi e Prasi. Embora marcas independentes possam fazer a diferença em suas próprias práticas comerciais, elas são mais poderosas juntas. Fernando Jorge, joalheiro premiado, foi um dos primeiros a aderir. “Sempre presto atenção na qualidade e proveniência dos materiais que utilizo em minhas peças”, diz ele.

“Em 2019, decidi me engajar mais na rastreabilidade das pedras preciosas brasileiras e fui visitar pessoalmente uma mina”. Logo depois disso, soube que Ara tinha uma iniciativa, e ele nos chamou para unir forças. “Juntos, visamos desenvolver mais parcerias com fornecedores que tenham as mesmas preocupações que nós com relação aos direitos humanos básicos, extração responsável e transparência na cadeia produtiva – o que, a meu ver, é uma questão urgente em nosso setor.

Vartanian está entusiasmado com a resposta e espera que mais designers falem sobre suas próprias práticas de mineração responsável, ou que unam forças com a iniciativa Mineração Consciente. Para educar os clientes e mostrar a beleza destas pedras, ele criou a Biela, uma coleção que utiliza pedras preciosas destas minas, além de tanzanita e diamantes brancos e negros.

As peças têm a mesma estética distintiva das outras coleções de Vartanian, com linhas afiadas, curvas arrebatadoras e pedras preciosas arrojadas e coloridas. Elas provam que as joias de origem ética não precisam sacrificar estilo ou qualidade, e que elas podem fazer você se sentir bem em usar seu novo e brilhante adorno ou iniciar uma coleção de joias.

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