Netflix começa a cobrar por senha compartilhada na América Latina

Gigante de streaming busca ampliar as receitas com assinaturas; empresa anuncia os resultados do trimestre com projeção de perda de 2 milhões de assinantes

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Bloomberg Línea — Como a inflação mais alta em quatro décadas nos Estados Unidos está impactando o consumo de serviços considerados não essenciais? Essa resposta será conhecida em maior profundidade nesta terça-feira (19) com a divulgação dos resultados no segundo trimestre da Netflix (NFLX), a líder do setor no mundo.

Na véspera da divulgação, a Netflix anunciou nesta segunda (18) que colocará em prática dois testes em países da América Latina para aumentar as receitas com assinaturas.

Consumidores de cinco países - Argentina, El Salvador, Guatemala, Honduras e República Dominicana - serão questionados a pagar uma taxa extra caso usem uma conta fora de seu endereço colocado como principal por mais de duas semanas. A taxa vai variar de US$ 1,70 na Argentina a US$ 2,99 nos demais países.

O outro teste vai perguntar a consumidores do Chile, da Costa Rica e do Peru se desejam pagar uma taxa extra de valor não especificado para adicionar um novo membro à sua conta.

“O compartilhamento disseminado de contas entre domicílios reduz a nossa capacidade de longo prazo de investir e melhorar o nosso serviço”, disse em comunicado Chengyi Long, diretora de inovação de produto da Netflix.

As medidas anunciadas nesta segunda haviam sido antecipadas pela Netflix há poucos meses, em ocasião em que a líder mundial em streaming informou que mais de cem milhões de domicílios acessam a plataforma usando a conta de outras pessoas. A base oficial da Netflix era de 221,64 milhões de assinantes pagos ao fim do primeiro trimestre.

As ações negociadas na Nasdaq acumulam queda de quase 70% neste ano, na esteira das perspectivas menos favoráveis de crescimento.

O co-CEO da Netflix, Ted Sarandos, deu o spoiler sobre o que se pode esperar com a divulgação depois do fechamento do mercado. Em entrevista publicada há poucos dias, ele atribuiu a desaceleração recente da demanda pelo serviço de streaming a alguns fatores: o impacto da inflação nos orçamentos familiares, um declínio nas vendas de smart TVs por causa de restrições na cadeia de suprimentos e a saída da empresa da Rússia, um de seus principais mercados.

“Todo consumidor está questiona o valor de uma assinatura em relação ao seu custo”, disse Sarandos em entrevista ao jornal francês Le JDD. Segundo ele, a visão da Netflix de “satisfazer o consumidor” permanece intacta, citando a popularidade da nova temporada de “Stranger Things”.

As declarações de Sarandos reforçam as expectativas negativas que a própria empresa divulgou por ocasião dos números do primeiro trimestre, em abril: perda líquida de 2 milhões de usuários pagantes de abril a junho. Nos três primeiros meses do ano, a perda foi de 200 mil usuários - a primeira em mais de uma década.

O número parece pequeno diante da base de 221,64 milhões de assinantes, mas ficou muito aquém das projeções de aumento de 2,5 milhões no mesmo período. A má notícia para a Netflix é que a perda de usuários se traduziu em certa medida em ganho de base para concorrentes.

A Netflix vem tentando controlar os custos como parte do rearranjo para reforçar a operação. Como parte desses esforços, a gigante do streaming demitiu 450 funcionários nos últimos meses, dos quais 150 em maio e outros 300 em junho.

A empresa está “se adaptando à desaceleração do crescimento em relação às projeções” e está fazendo isso “sem limitar os gastos com produção de conteúdo, que chegarão a 17 bilhões de euros [cerca de US$ 17,3 bilhões] em 2022″, disse Sarandos ao jornal francês.

Outra novidade é a introdução de anúncios, uma prática que será global e tornará o modelo de negócios da Netflix mais complexo, disse o co-CEO, mas que permitirá que a empresa atraia clientes que querem pagar menos.

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