Bloomberg — A Kapitalo Investimentos, uma das maiores gestoras de recursos independentes do Brasil, com cerca de R$ 25 bilhões sob gestão, tem explorado o que considera alguns exageros no mercado local antes das eleições presidenciais, com apostas que vão de posições vendidas em inflação implícita a alocações em Petrobras (PETR3, PETR4).
As ações da estatal precificam um cenário “horroroso” após a eleição de outubro, o que sugere que qualquer desfecho menos negativo pode abrir espaço para ganhos, segundo Carlos Woelz, sócio-fundador da gestora. “Gostamos desse tipo de lugar, onde tudo de ruim está precificado”, disse Woelz, em entrevista em São Paulo na semana passada.
A Petrobras apagou os ganhos no acumulado do ano e negocia a 1,9 vez o Ebitda (indicador de geração de caixa operacional) esperado para os próximos 12 meses. Isso representa menos da metade do múltiplo de 4,5 vezes para a norte-americana Exxon Mobil e está abaixo das 2,1 vezes em que é negociada a estatal de petróleo argentina YPF, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Depois de quatro mudanças no comando desde o início de 2019, a Petrobras se encontra sob forte pressão política. Nos últimos meses, o governo brasileiro e parlamentares têm criticado a companhia publicamente pelo reajuste dos preços dos combustíveis. Apesar das pressões, a estatal tem reafirmado sua política de alinhar os preços domésticos às oscilações do petróleo no mercado internacional.
Há muito prêmio também em alguns cantos do mercado de renda fixa, segundo Woelz.
A inflação implícita de cinco anos do Brasil atingiu 7,58% no mês passado, o maior nível desde 2016. Os prêmios nas inflações implícitas parecem atrativos e Woelz gosta de posições vendidas no prazo de quatro a cinco anos, “com o cuidado de não ficar vendido demais no primeiro ano.”
Woelz acredita que o Banco Central está comprometido em fazer a inflação convergir para a meta, que é de 3,25% ao ano em 2023. “Ou através de uma desaceleração muito mais forte do que eles estão esperando ou através de uma política monetária mais apertada por mais tempo”, disse.
O fundo Zeta estava entre os fundos locais que ganharam com a antecipação de um aumento de juros nos mercados globais, incluindo a abertura de taxas nos Estados Unidos. No momento, Woelz tem posições tomadas em juros em locais específicos, com posições em alguns emergentes.
Os dados mais fortes do que o esperado de inflação em junho nos Estados Unidos na semana passada reforçaram a visão de que a economia não escapará de uma recessão, de acordo com o gestor. Woelz espera que o banco central norte-americano, o Federal Reserve, siga no ritmo de 0,75 ponto percentual, mas vê um ciclo de aperto mais longo do que o mercado atualmente acredita.
Condição dos juros no Brasil
No Brasil, Woelz diz que as condições para o início de um possível ciclo de corte de juros em meados de 2023 são diferentes das que o país vivenciou em 2016. O chamado hiato do produto no maior país da América Latina agora é menor, enquanto os dados de emprego estão vindo mais fortes do que os níveis vistos há seis anos. Isso significa que o BC provavelmente precisará revisar para cima sua previsão para a inflação de 2024, que atualmente está em 2,7%, segundo dados do último relatório trimestral de inflação.
Bruno Cordeiro, sócio e gestor do fundo multimercado K10, disse que os investidores estão se preparando para um ambiente de mais gastos públicos no Brasil, independentemente de quem será seu próximo presidente. Sob o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou o incumbente Jair Bolsonaro, a questão-chave será como o governo financiará as despesas mais altas, disse Cordeiro, cujo fundo superou 93% de seus 198 pares no ano passado, com um ganho de 20%.
A Kapitalo foi fundada por Woelz e João Carlos Pinho em 2009 e atualmente conta com uma equipe de cerca de 110 pessoas.
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