Gestoras brasileiras alteram apostas em commodities diante de alta do juro

Investidores estão cada vez mais preocupados com o impacto do aperto monetário sobre o nível de demanda global

Primeiro semestre foi o melhor para os multimercados desde 2015 em termos de performance
Por Vinícius Andrade e Felipe Saturnino
14 de Julho, 2022 | 06:23 PM

Bloomberg — Os principais fundos multimercado do Brasil reduziram suas apostas em commodities, à medida que os crescentes temores de uma recessão global esfriaram o forte rali do primeiro semestre do ano.

A Legacy Capital disse que diminuiu o risco de seu principal fundo em junho, especialmente no mercado de commodities, devido a chances maiores de movimentos “bruscos” das autoridades monetárias na busca do controle da inflação. A Ibiuna Investimentos, que tem mais de R$ 30 bilhões sob gestão, encerrou uma aposta que ganhava com a alta nos preços do petróleo.

PUBLICIDADE

Os investidores estão cada vez mais preocupados com o impacto dos juros mais altos sobre as expectativas de crescimento econômico em vez de focar exclusivamente nos dados de inflação, dinâmica que “aponta para um ambiente hostil para ativos de risco no terceiro trimestre, exigindo maior proteção às carteiras”, disse a Ibiuna Investimentos, em carta a cotistas.

O barril de petróleo do tipo WTI, negociado em Nova York, caiu 21% desde o pico recente alcançado no mês passado, com o aumento dos casos de covid-19 na China e a volatilidade no mercado global ofuscando a perspectiva de oferta apertada. Analistas do Citi alertaram que o WTI pode cair para US$ 65 o barril até o fim do ano em um cenário de recessão.

A Kapitalo Investimentos, que foi cofundada por Carlos Woelz em 2009, disse que seus fundos Kappa e Zeta reorganizaram as apostas nos preços de commodities no mês passado. Eles abriram posição vendida em zinco e milho, impulsionaram as apostas de alta do cobre e também diminuíram posições compradas em petróleo e trigo.

PUBLICIDADE

Apesar do décimo mês seguido de resgates líquidos para a indústria, o primeiro semestre foi o melhor para os multimercados desde 2015 em termos de performance, com um ganho de 8,3% no período para uma cesta de fundos.

A alta foi liderada por ganhos da SPX Capital, cujo fundo Raptor registrou retorno de 41% no período, nos melhores primeiros seis meses do ano da sua história. Já o fundo Verde, carro-chefe da casa de Luis Stuhlberger, perdeu 1,86% em junho, penalizado por perdas em bolsa local.

Veja o que alguns dos principais fundos multimercado do Brasil disseram em suas cartas mensais de junho:

PUBLICIDADE

Absolute

Fundo está com risco reduzido, com uma posição “diminuta” em bolsas. Posições direcionais tomadas em juros foram zeradas à medida em que mercados passaram por correções.

  • Absolute Vertex FIC +1,93% em junho; taxa de referência CDI +1,01%

Adam Capital

Fundos estão comprados em bolsa e títulos indexados à inflação no Brasil, neutros em bolsa nos EUA. Novos patamares de commodities e bolsas apontam para o início de uma desaceleração da atividade econômica.

  • Adam Macro II FIC -1,36% em junho

Bahia Asset Management

O próximo presidente enfrentará dificuldades para tentar cortar gastos adicionais, o que deve levar a mais inflação e juros mais altos. O fundo tem posição líquida vendida em ações dos EUA, enquanto também está comprado em moedas de commodities contra o euro e a libra esterlina.

PUBLICIDADE
  • Bahia AM Marau FIC +1,32% em junho

Genoa Capital

Gestora abriu posição comprada em dólar contra o real, reduziu apostas tomadas e aumentou apostas em inclinações na parcela curta da curva de juros. As apostas em achatamento da curva e taxas de inflação implícita mais altas foram encerradas.

  • Genoa Capital Radar FIC FIM +2,01% em junho

Ibiuna Investimentos

Esforços do governo e do Congresso para cortar impostos e reduzir preços dos combustíveis adicionaram incerteza relevante às estimativas de inflação. Fatores macroeconômicos globais, juntamente com as preocupações fiscais do Brasil e o ruído político, justificam postura cautelosa.

  • Ibiuna Hedge STH FIC -0,33% em junho

Kapitalo Investimentos

O fundo abriu posições vendidas em milho e zinco, intensificou as apostas de alta do cobre e da soja e cortou posições otimistas em petróleo e trigo. Kapitalo também construiu uma posição que ganha com juros menores no Brasil e no México.

  • Kapitalo Kappa FIN FI -0,17% em junho

Legacy Capital

O Banco Central deve encerrar seu ciclo de alta com a taxa Selic em 13,50% ou 13,75% e manter o juro básico nesse nível por longo tempo. As perspectivas de recessão global e inflação alta tornam o cenário mais perigoso e volátil.

  • Legacy Capital FIC +0,41% em junho

SPX Capital

Bancos centrais precisarão continuar apertando a política monetária daqui para frente e há oportunidade para tomar juros em alguns mercados emergentes.

  • SPX Nimitz Feeder FIC +2,40% em junho

Verde Asset Management

Gestora reduziu marginalmente suas posições no mercado acionário brasileiro, enquanto retomou as apostas em ações globais.

  • Verde FIC FIM -1,86% em junho

Veja mais em bloomberg.com

Leia também

Mercado já projeta Selic a 14,50% ao ano com disparada do dólar