Bloomberg Línea — Startups que, há poucos meses, receberam milhões em cheques oversubscribed liderados pelo SoftBank Latin America Fund, Tiger Global e outros fundos agora citam “eficiência” para justificar desligamentos. Os cortes fazem parte de um movimento global para cortar custos, em um momento em que a subida das taxas de juros tornam o investimento em tecnologia mais caro.
O Google, por exemplo, planeja frear as contratações pelo restante do ano diante de uma possível recessão econômica, disse o CEO Sundar Pichai em e-mail aos funcionários.
Pichai disse que a empresa concentrará as contratações em “engenharia, técnicos e outras funções críticas” em 2022 e 2023, de acordo com uma cópia do e-mail visto pela Bloomberg News.
Demissão em startups
A healthtech brasileira Alice, de plano de saúde individual confirmou que demitiu 63 funcionários da sua área de vendas na semana passada e disse que os afetados vão receber um salário extra, plano de saúde estendido por dois meses, além das verbas rescisórias obrigatórias. A Alice recebeu uma rodada Série C de US$ 127 milhões do SoftBank em dezembro do ano passado.
A startup disse que revisou as equipes e realocou 20 profissionais para outras áreas.
Segundo a empresa, as demissões foram consequência da necessidade de redimensionamento da equipe de vendas para ser mais “eficiente e sustentável no longo prazo”. A Alice tem atualmente com mais de 680 funcionários e disse que segue contratando para engenharia, produto, recursos humanos, negócios, design e marketing.
Já na fintech de crédito mexicana Tribal, concorrente da Jeeves, uma pessoa familiarizada com o assunto, que preferiu não se identificar, disse à Bloomberg Línea que os cortes foram de 15% da equipe, em especial a equipe de vendas. O motivo, segundo essa pessoa, foi o cenário macroeconômico e que mesmo pessoas que entraram há três meses foram cortadas. A Tribal recebeu US$ 60 milhões em uma rodada Série B com o SoftBank e Coinbase Ventures em fevereiro de 2022 para expandir no México, Brasil, Peru, Colômbia e Chile.
A empresa já tinha captado uma rodada de dívida híbrida cripto e fiduciária de US$ 40 milhões liderada pela Partners for Growth (PFG) e Stellar Development Foundation (SDF). No ano passado, fechou uma rodada combinada de Série A e dívida de US$ 34,3 milhões liderada pela QED Investors e pela PFG, com participação adicional na rodada de ações da SDF – elevando o financiamento total da empresa para US$ 140 milhões.
A Tribal não respondeu imediatamente aos pedidos de comentário da Bloomberg Línea.
Em junho, a Jokr, grupo de delivery que a brasileira Daki faz parte, disse que estava deixando sua operação nos Estados Unidos para focar na América Latina. O fim dos escritórios em Boston e Nova York significou um corte de 50 funcionários nos Estados Unidos. A empresa opera hoje na Colômbia, México, Chile, Peru e Brasil. A empresa, que tinha times na Alemanha, já tinha desistido de operar na Europa.
A brasileira Daki representa a maior operação do grupo Jokr no mundo. Por meio de nota à imprensa, o CEO e e cofundador da Daki Rafael Vasto disse que a empresa mantém o plano de crescimento no país, concentrada na sustentabilidade do negócio e estruturando a expansão de forma consciente focados na eficiência do capital.
“Considerando o contexto atual e aprendizados em um pouco mais de um ano de operação, fizemos pequenos ajustes pontuais de algumas posições no país”, disse.
A Daki fez 16 demissões da área corporativa, o que, segundo Vasto, não impacta a operação.
Atualmente, a empresa tem 250 funcionários corporativos e 600 em operações e espera terminar o ano com 1.000 funcionários no Brasil.
“Decidimos interromper nossas atividades comerciais nos EUA por enquanto, que ultimamente representam apenas cerca de 5% de nossos negócios”, disse o CEO da Jokr Ralf Wenzel em comunicado no início o mês passado. “A América Latina é particularmente pouco penetrada e mal atendida, é por isso que a Jokr colocou seu foco e ênfase na oportunidade latino-americana desde o início.”
Fundada no ano pasado, a Jokr captou US$ 260 milhões em uma rodada Série B no final de 2021, elevando seu valuation para US$ 1,2 bilhão em dezembro.
Segundo o site LayoffsBrasil.com, que compila listas de demitidos publicadas no LinkedIn, só neste mês a Ame Digital (braço fintech das Lojas Americanas), a fintech de crédito e Buy Now, Pay Later Provu, a startup de pedidos de restaurante online Goomer e o braço de pagamentos da Movile, holding do iFood, tiveram desligamentos. A Bloomberg Línea procurou os citados, mas não obteve retorno até o momento. A Provu confirma que realizou um ajuste em seu quadro de colaboradores no começo do mês, devido ao redimensionamento de suas projeções de negócio, se considerando o momento do mercado. “A empresa entende que essa medida atende suas necessidades futuras, e a operação seguirá normalmente, sem prejuízo para clientes e parceiros,” disse, em comunicado à imprensa.
-- Com informações da Bloomberg News
-- Matéria atualizada para esclarecer o comentário de Ralf Wenzel sobre o número de demissões e adicionar comentário da Provu
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