PEC dos benefícios aumenta risco fiscal e exige Selic a 14%, diz HSBC

Economista-chefe do banco no Brasil alerta que benefícios temporários criados pela proposta podem não ser revertidos depois

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Bloomberg — A PEC dos benefícios, que aumentou a percepção de risco fiscal entre os investidores, exigirá que o Banco Central estenda o ciclo de aperto monetário e eleve a taxa Selic a 14%, para evitar a desancoragem das expectativas de inflação, de acordo com Ana Madeira, economista-chefe do HSBC Brasil, em entrevista.

“Está complicado para o BC peitar a precificação do mercado e ser menos agressivo, sobretudo com uma piora da perspectiva fiscal”, avalia Madeira. “Nas opções na mesa para o BC, acreditamos que faz mais sentido ir para um campo mais hawkish.”

Operadores já trabalham com um cenário em que a Selic encerra 2022 em 14,25%. A aposta majoritária é de um aperto de 0,50 ponto percentual no Copom de agosto, seguido por outros dois de 0,25pp em setembro e outubro, segundo a precificação extraída da curva de juros.

Para Madeira, o quadro de inflação pressionada e persistente também deveria motivar uma postura mais vigilante da autoridade monetária. Ela projeta uma desinflação lenta, com um IPCA que fecha 2022 em 8,3%, sem incorporar os efeitos da redução dos impostos sobre combustíveis -- os quais ela prevê que podem ser entre -1,8 pontos percentuais a -2 pp. Para 2023, a previsão é de taxa de 4%.

A economista é cética sobre o quadro fiscal porque avalia que será complicado retirar os benefícios concedidos pela PEC em 2023. A proposta, que eleva o Auxílio Brasil e concede voucher para gás e taxistas, entre outros benefícios, prevê R$ 41,3 bilhões em gastos fora do teto.

“Mesmo que a PEC fale em benefícios temporários, a gente sabe que é difícil revertê-los”, diz Madeira.

Em um cenário de provável desaceleração da atividade econômica, com o aperto de mais de 11,25 pontos percentuais da Selic e o possível recuo das commodities, Madeira diz que a arrecadação federal do ano que vem deve diminuir e piorar a trajetória esperada pelo mercado para as contas públicas -- o que demandaria uma taxa de juros maior.

“O boom de commodities dificilmente deve ajudar a atividade no ano que vem, a própria economia vai perder força. A questão é como ficarão as receitas em 2023, porque hoje as despesas têm o colchão da arrecadação maior”, diz ela. “O BC vai incorporar a piora fiscal através do impacto desse quadro das contas públicas nas expectativas.”

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