Empreendedores têm se tornado investidores-anjo para promover novas startups

Influxo recorde de capital de risco por fundos estrangeiros nos últimos 2 anos impulsionou latino-americanos a se tornarem investidores-anjo

Conceito de empreendedores que investem em seus pares tem se expandido pela América Latina e criando fundos
12 de Julho, 2022 | 06:44 PM

Bloomberg Línea — Uma ninhada de empreendedores experientes tem servido como investidores-anjo e compartilhando seus conhecimentos com as novas gerações. Não é só a colombiana Rappi que tem gerado novas empresas a partir de ex-funcionários e investimentos que está fortalecendo o ecossistema empreendedor latino-americano.

Assim surgiu o fundo de capital de risco Bridge, com fundadores da Bitso, Ben & Franck, Zubale, Yalo, Fitpass, Cultura Coletiva, entre outros.

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“Tudo parte da ideia de empreendedores apoiarem outros empreendedores. Há alguns anos, cada um dos sócios da Bridge LatAm fazia investimentos anjo por conta própria e nos reunimos para fazê-los juntos”, compartilhou Patricio Aznar, sócio-gerente do fundo, em entrevista à Bloomberg Línea.

Aznar afirma que eles começaram em 2020 com um pequeno fundo investindo em 11 startups em estágio inicial, como Quinio, Acasa, Mendel, Elenas, Aplazo e Cubo.

Hoje em dia, eles têm um segundo fundo de US$ 15 milhões para investir. Parte desses recursos já foram distribuídos em ingressos que variam de US$ 100,00 a US$ 500,00 em startups como Kukun, Ozon, Plenna, Mox, Nuestro, Lang.ai, Sima e Refurbi.

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“O conceito de empreendedores investindo em empreendedores é ótimo, nos Estados Unidos e na Europa é comum, mas não era no México e na América Latina”, disse Aznar. Isso não era tão comum até recentemente. Com o influxo recorde de capital de risco trazido por fundos estrangeiros nos últimos dois anos, os empresários latino-americanos de rápido crescimento começaram a prática de se tornarem investidores-anjo.

Mais investidores-anjo em um mercado maduro

Ricardo Weder, CEO da Jüsto, é um dos empreendedores que se tornou um investidor-anjo regular. O fundador do delivery de supermercado disse à Bloomberg Línea que já investiu em mais de 40 startups, especialmente no México, que é o mercado que ele mais tem interesse em desenvolver, mas também não se recusou a investir em startups de outros países.

Weder compartilhou que sempre que investe, o faz em startups onde pode contribuir com sua experiência e onde entende perfeitamente o problema que elas resolvem. Algumas das startups nas quais investiu são Meru, Cargamos, Welbe, Jeeves e Clara (estas duas últimas já se tornaram unicórnios com valor superior a US$ 1 bilhão).

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“Imagine, 15% do investimento estrangeiro no ano passado foi investimento em startups, é uma loucura, e para as pessoas que estão nisso há mais tempo, há cinco anos não teria sido 0,1%”, diz Weder referindo-se ao mercado mexicano.

E quanto aos empreendedores que investem em empreendedores “há dois anos, havia muito poucos de nós que investiam, você poderia realmente contar com a gente em uma mão”, disse.

Nesse sentido, o Bridge é um dos primeiros fundos da América Latina feitos por empreendedores, segundo Aznar. O que eles fizeram - Daniel Vogel (CEO da Bitso), Eduardo Paulsen (CEO da Ben & Franck), Allison Campbell (CEO da Zubale), Federico Ranero (COO da Kavak), Liza Schvartzman (CEO da Fitpass), Javier Mata (CEO da Yalo), Miguel García (CEO da Infosel) Alejandro Maza (CEO da Analytics) e Luis Enriquez (CEO da Cultura Colectiva) - foi para institucionalizar a ideia de investidores anjos empreendedores em um fundo.

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Na Argentina, o empresário Pierpaolo Barbieri, CEO do unicórnio Ualá, é outro dos investidores anjo que decidiu formar um fundo de capital que chamou de 17Sigma. O fundo de US$ 30 milhões tem como alvo empresas da região focadas em digitalização.

Sob a gestão de Bianca Sassoon, a 17Sigma já investiu em startups em estágio inicial de países como México, Chile, Colômbia, Brasil e Argentina como o unicórnio Jeeves, Foodology, Ontop, Flevo, Buk, Trela, Truora, Pixel, Tarken, e BHub.

Sofisticados atraem os mais experientes

Não só o ecossistema está mais maduro na região, mas também o talento. “Existem empreendedores, que já tinham uma ou duas empresas, então apostamos mais nesse conhecimento do que há 8 anos, porque na época os empreendedores estavam apenas começando”, diz Aznar.

Na hora de escolher onde colocar seus investimentos, a Bridge olha 90% para a equipe, segundo Aznar. “Acreditamos que quando entramos em uma empresa temos muito a contribuir, mas no final das contas são esses empreendedores que realmente sabem o que estão fazendo, qual é a sua visão, qual é o seu conhecimento do mercado e seus diferenciais.”

Boa parte da nova geração de empreendedores latino-americanos vem de ex-funcionários das grandes startups da região. Foi o que aconteceu principalmente na Rappi, o segundo unicórnio mais valioso da América Latina com um valor de US$ 5,25 milhões, que deu origem ao fenômeno chamado de ‘Rappi Mafia’.

Mas, além disso, os fundadores do aplicativo colombiano também se dedicaram a ser investidores-anjo. Nos últimos meses, Simón Borrero investiu na incubadora de marcas de comércio eletrônico Riogrande e Sebastián Mejía, na startup chilena de serviços médicos domiciliares, Examedi.

Os cofundadores da Kavak, o unicórnio mais valioso da região com um valor de US$ 8,7 bilhões, também apostaram em novos empreendimentos. Loreanne García Ottati investiu recentemente na fintech mexicana Paisa, Carlos García Ottati na fintech chilena Xepelin e Roger Laughlin na plataforma de procedimentos médicos acessíveis Tani Salud.

Imerso nessa tendência, a Aznar acredita que a Bridge pretende afastar essa ideia de que o investidor e o empresário ocupam lados separados. “Somos um e o mesmo trabalhando para o mesmo objetivo”, disse, e garante que o objetivo é construir um ecossistema empresarial latino mais forte, mais conectado por essa ponte entre empreendedores e investidores (daí o nome de “Bridge”, que significa “ponte” em inglês).

A lista de empreendedores que são investidores é longa. Weder, da Jüsto, reflete sobre a grande oportunidade de investimento e desenvolvimento de startups na região. “Apesar da mudança de sentimento nos mercados, que está ocorrendo, no longo prazo a oportunidade é muito grande, há grandes problemas a serem resolvidos em nossas economias e nossas sociedades e acredito que os empreendedores de tecnologia podem contribuir muito”, conclui.

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Yanin Alfaro (BR)

Jornalista com experiência em startups e tecnologia