Disputa entre Elon Musk e Twitter é alerta sobre virada do mercado de M&A

Juros em alta e volatilidade devem levar à redução de fusões e aquisições, com um número maior de desistências como a do fundador da Tesla

Ações do Twitter tiveram queda depois do anúncio de desistência de compra de Elon Musk
Por Yiqin Shen
12 de Julho, 2022 | 02:30 PM

Bloomberg — Em mais um sinal da virada do mercado, os negócios de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) estão a caminho de uma desaceleração neste trimestre, à medida que a turbulência no mercado de ações pressiona negócios pendentes e aumenta o risco de colapso. A desistência de Elon Musk, o homem mais rico do mundo, de comprar o Twitter (TWTR) é o maior exemplo da tendência.

Enquanto a disputa que promete parar na Justiça entre Musk e Twitter atraiu os holofotes, um desafio maior para o mercado de fusões e aquisições é o cenário para negócios em geral.

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Com a volatilidade e os juros em trajetória de alta - as taxas devem terminar o ano em 3,5%, segundo o consenso de mercado e as projeções de integrantes do Federal Reserve -, espera-se uma desaceleração no terceiro trimestre com a possibilidade de mais transações serem canceladas, segundo pesquisa da Bloomberg News junto a 16 mesas de M&A, gestores e analistas. Eles nomearam a Seagen como o candidato mais provável a uma aquisição nos próximos três meses.

“Se os compradores não puderem prever com precisão os lucros das empresas ou determinar as métricas de preço, será difícil para eles comprometerem capital”, disse Tyler Silver, sócio da empresa de investimentos Apex Capital, com sede em Nova York.

O fluxo de negócios já vem caindo. Durante o segundo trimestre, o valor total de transações pendentes ou concluídas envolvendo empresas-alvo nos Estados Unidos foi de cerca de US$ 347 bilhões. Trata-se de uma queda de 18% em relação aos números do primeiro trimestre e de 36% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados compilados pela Bloomberg.

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Os spreads médios anualizados de arbitragem de fusões nos EUA subiram acima de 15% em maio e junho, ante cerca de 10% no início do ano, de acordo com Frederic Boucher, analista de arbitragem de risco do Susquehanna International Group. É um nível semelhante ao que o mercado viu no início de 2020, quando a pandemia minou a confiança na conclusão dos negócios, disse.

A alta de juros e maiores riscos de perdas causadas pela queda do mercado de ações também aumentaram os spreads em geral, que representam prêmios pedidos por investidores para concretizar os negócios.

No entanto spreads amplos e a ameaça de reprecificação não significam necessariamente que os investidores devam esperar uma onda de cancelamentos. No auge da pandemia, há dois anos, cinco grandes transações foram renegociadas, mas acabaram sendo concluídas, de acordo com Julian Klymochko, fundador e CEO da Accelerate Financial Technologies.

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Desde 2008, os contratos de fusão tornaram-se bastante restritos para impedir que um possível comprador se esquive se as condições do mercado piorarem, acrescentou Klymochko. É justamente o que o Twitter tenta alegar ao sinalizar que vai à Justiça contra a desistência de Musk.

“Alguns temores precificados no mercado atual são irracionais, e os spreads aumentaram mais do que os riscos”, disse Roy Behren, co-diretor de investimentos da Westchester Capital Management.

Para Behren e outros participantes da pesquisa, o volume de capital; do setor de private equity será um fator-chave para a realização de negócios de M&A no segundo semestre.

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“O caixa nos balanços corporativos não precisa ser gasto em transações, mas o objetivo de um estoque de caixa para um investidor de private equity é usá-lo para fazer uma aquisição. Não há outro propósito”, disse Behren

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