São Paulo — A alta temporada de julho começou sob os efeitos da inflação global no setor de serviços (hotelaria, alimentação, transporte e locais de lazer) e com viajantes ávidos para o descanso, após praticamente dois anos e meio de pandemia e de restrições a viagens internacionais. Para companhias aéreas e agências de viagem, a atual temporada de férias escolares marca uma nova etapa na recuperação do faturamento, aproveitando a demanda reprimida desde o início da pandemia.
A aviação comercial regular vai registrar, neste mês, o maior número de decolagens diárias de voos domésticos e internacionais desde o início da crise sanitária em março de 2020, segundo a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas). O setor programou 2.134 partidas diárias para destinos domésticos e 116 para o exterior. Os números equivalem a 90% do total de voos no pré-pandemia.
Os aeroportos de Brasília, São Paulo (Guarulhos e Congonhas), Rio de Janeiro (Galeão e Santos Dumont), Fortaleza, Curitiba e Porto Alegre serão os mais movimentados neste mês, informou a Latam, líder do mercado brasileiro, segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
A Latam espera transportar quase 3 milhões de passageiros em seus voos domésticos e internacionais no Brasil durante a alta temporada e prevê crescimento de 60% na comparação com julho de 2021. Neste mês, a operação brasileira do grupo chileno retomou, por exemplo, a rota Fortaleza-Miami, alcançando 20 destinos no exterior em voos a partir do Brasil.
Já as companhias aéreas brasileiras estão voltando a lotar os aviões rumo ao exterior, segundo os últimos dados de tráfego divulgados. As aeronaves da Gol (GOLL4) registraram taxa de ocupação dos voos internacionais de 90,6% em maio, enquanto a da concorrente Azul (AZUL4), ficou em 85,1%. O desempenho reflete uma forte recuperação iniciada em 2021, quando as fronteiras foram reabertas.
O turismo doméstico também acelera seu ritmo de retomada das rotas, iniciada no ano passado. A Azul informou que terá voos extras e 13 novas rotas em todo o país, criando opções de ligações diretas entre o Centro-Oeste, o interior de São Paulo e o Sul com o Nordeste.
Inflação
Depois da variante ômicron do coronacírus, veio a guerra entre Rússia e Ucrânia, que elevou o preço do barril do petróleo (e dos combustíveis, como o querosene da aviação), aumentando os custos do setor do turismo. Mesmo assim, nos últimos meses do primeiro semestre, aproveitando a valorização do real frente a moedas como dólar e euro, os consumidores planejaram suas viagens para fora do país.
Desde janeiro, o preço médio das passagens aumentou 35% para viagens nacionais e 30% para viagens internacionais, segundo levantamento da MaxMilhas, plataforma que atua na pesquisa, na comparação e na intermediação das passagens aéreas de clientes com milhas.
A demanda reprimida por viagens depois de dois anos de pandemia e o desejo de desfrutar as férias fora do país podem colocar a inflação - passagens e hospedagens mais caras - em segundo plano na hora das decisões de consumo, segundo especialistas. No período de janeiro a março deste ano, 62% das operadoras de turismo indicaram uma alta significativa nos preços das viagens internacionais, segundo a última sondagem da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo).
Mas isso parece não ter inibido o interesse e a procura dos brasileiros, já que, para 85% dessas empresas, a procura por viagens internacionais cresceu “muito” ou “muitíssimo”. Para 15%, a procura se manteve ou teve pouco aumento. Para 85% das operadoras, a abertura de fronteiras e a queda gradativa do dólar (no primeiro semestre) foram os responsáveis pelo avanço do turismo internacional.
A CVC (CVCB3), maior operadora de turismo do país, divulgou que teve em maio um volume de reservas confirmadas de R$ 1,4 bilhão, o maior volume desde janeiro de 2020, antes da pandemia. Foi um crescimento de 19% na comparação anual. Em dois meses (abril e maio), esse indicador alcançou R$ 2,5 bilhões, o que representa 152% de todo o segundo semestre do ano passado (R$ 1,7 bilhão).
Destinos
Mas para onde os brasileiros estão indo? Entre os destaques nas buscas registradas pelas operadoras de turismo estão a Europa, os Estados Unidos e a Argentina (25%), segundo a Braztoa.
Já entre os perfis de pacotes mais comprados nas viagens internacionais destacam-se (em ordem decrescente): luxo, praia e sol, cultural, bem-estar, lua de mel e cruzeiros e gastronomia.
Já o mercado de viagem de luxo se volta para a temporada de inverno com a reaberturas das pistas de esqui em países do hemisfério Sul, como Chile e Argentina, e com o verão no Norte. Quem monta roteiros personalizados para esse público alerta para a disparada dos custos.
“Em conversas com hotéis da Europa, fomos informados de que em destinos disputados de verão, como Lago de Como, Capri e Saint-Tropez, os reajustes nas tarifas dos hotéis chegam a 40%, e não unicamente por uma pressão de custo, mas por causa da demanda reprimida”, disse Gabriela Figueiredo, sócia e diretora da Matueté, agência de turismo de luxo, à Bloomberg Línea.
No Caribe, a situação se repete. “St Barth é mais um caso. Diárias que flutuavam entre 1.800 e 2.000 euros hoje passam facilmente de 3.000″, aponta a empresária.
Por outro lado, Bariloche, um dos destinos preferidos dos brasileiros adeptos dos esportes de inverno e de ecoturismo na Patagônia argentina, além de El Calafate e Ushuaia, está mais barato devido à constante desvalorização do peso frente ao real e a outras moedas, como o dólar e o euro.
Locais com famosas estações de esqui no mundo também voltaram a ficar concorridos. Portillo (Chile), Sun Valley, Idaho (EUA), St. Moritz (Suíça), Zermatt (Suíça) e Chamonix (França) são os destinos de inverno mais procurados, segundo a Avantto, empresa que atua no ramo do compartilhamento de aeronaves, com base nas solicitações de seus clientes. No Brasil, destacam-se, segundo a empresa, Gramado e Canela (RS), Campos do Jordão (SP), Monte Verde (MG) e Petrópolis (RJ).
Nos EUA, os parques de diversões na Flórida e Califórnia são um dos principais chamarizes americanos para famílias brasileiras, segundo a Braztoa. Turistas com esse perfil vão encontrar na alta estação tudo mais caro do que antes da pandemia. Só a Disney aplicou um reajuste médio de 5% nos seus ingressos neste ano. A alta temporada de verão americana, que começou no mês passado, vai até o feriado do Dia do Trabalho, na primeira segunda-feira de setembro.
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