Bloomberg — O calor intenso na Espanha, Reino Unido e França durante o verão desses países foi agravado pelas mudanças nas correntes de jato – os fortes ventos do oeste que sopram acima da superfície do planeta - destacando outra forma pela qual o aquecimento global poderia estar alterando nosso clima.
A Europa Ocidental é um foco de onda de calor, com eventos extremos de alta temperatura subindo três a quatro vezes mais rápido do que outras latitudes do norte nos últimos 42 anos, segundo artigo publicado na Nature Communications por pesquisadores do Potsdam Institute for Climate Impact Research. O clima esteve ligado pela primeira vez à divisão das correntes de jato no hemisfério norte, o que vem se tornando cada vez mais comum.
“Os jatos duplos podem ser gerados por diversos motivos, incluindo a variabilidade caótica na atmosfera”, disse o coautor do artigo, Dim Coumou. “O aumento da diferença de temperatura entre a terra e o oceano favorece a persistência de jatos duplos no verão”.
As correntes de jato – uma em cada hemisfério – são cinturões de ventos rápidos que se movem por caminhos ondulados a uma altura de 5 a 10 quilômetros acima da superfície da Terra. Elas são geradas quando o ar frio dos polos se choca com o ar mais quente dos trópicos e são responsáveis por fenômenos meteorológicos como tempestades, chuvas e seca.
As divisões nas correntes de jatos estão se tornando mais duradouras, segundo constatado pelos pesquisadores. Os chamados “estados de jato duplo” explicam quase todas as crescentes ondas de calor na Europa Ocidental, e cerca de 30% em todo o continente. Os cientistas analisaram os dados climáticos diários dos meses de julho e agosto durante 42 anos.
O número de eventos de jato duplo por ano não mudou muito, de acordo com a pesquisa. Mas esses eventos estão se tornando mais longos, e o aumento de sua persistência atua sobre o aquecimento do planeta causado pela emissão humana de gases de efeito estufa.
Ainda assim, os cientistas não chegaram a um acordo sobre como exatamente a mudança climática está influenciando as correntes de jato. Os autores do estudo disseram que uma possível explicação é que altas latitudes como a Sibéria, o norte do Canadá e o Alasca estão aquecendo mais que o dobro da velocidade do resto do mundo. É necessária mais pesquisa para entender essas relações, disse Coumou.
“Os modelos climáticos tendem a subestimar os riscos climáticos extremos”, disse Coumou. “As projeções de calor extremo com a emissão contínua de gases de efeito estufa podem ser muito conservadoras”.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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