Bloomberg Línea — A pandemia foi um divisor de águas para entender o que é tempo livre e o que é tempo de trabalho. Com muitos executivos que estavam habituados a trabalhar do escritório confinados em casa durante meses, a sala de estar virou escritório, academia, creche e o que mais fosse necessário para que profissionais digitais pudessem encontrar uma nova rotina em um momento histórico sem precedentes.
Muitos dos que praticavam atividades ao ar livre ou em espaços dedicados aos seus hobbies precisaram se adaptar à nova realidade. Foi o caso da CEO da Microsoft (MSFT) no Brasil, Tânia Cosentino. Ela contou à Bloomberg Línea que, antes do começo da pandemia no Brasil em março de 2020, seu principal passatempo (nas horas vagas que o cargo em uma das maiores empresas de tecnologia do mundo proporciona) eram as aulas de dança de salão, que frequentava com o marido.
Com os espaços de dança fechados em cumprimento às medidas de restrição à circulação a partir daquele momento, ela precisou mudar de foco e foi na yoga que acabou concentrando as energias - apesar de ter considerado isso um “desafio”, inicialmente, por dizer ter uma natureza mais inquieta. A executiva faz as aulas de yoga de sua casa, uma vez por semana, depois da jornada do dia na Microsoft.
Cosentino não é a única CEO brasileira a encontrar tempo na agenda para praticar algum hobby. A Bloomberg Línea conversou com outros seis executivos para saber o que alguns dos líderes das maiores empresas do país fazem nas horas vagas.
De bailarina e kitesurfer a cozinheira e colecionador de Legos, confira as atividades escolhidas:
Claudia Woods, CEO da WeWork para a América Latina - Ciclista, esquiadora e corredora
“Estou sempre em busca de adrenalina. Se eu puder pular de um avião, de um bungee jump, eu faço. Mas corrida é sempre o principal. É diário.
Corro no Ibirapuera [em São Paulo]. Já não sei nem mais se é hobby ou estilo de vida. É legal também correr quando viajo para as cidades da América Latina, por exemplo. Vou explorando a cidade enquanto corro.”
Tallis Gomes, CEO da G4 Educação - Kitesurfer
“É um esporte superdivertido. Nós, os sócios aqui do G4, temos o kitesurf como hobby. Muitas vezes, fazemos o que a gente chama de outing, um encontro estratégico para discutir o futuro da empresa, que é sempre feito fora da companhia. Geralmente fazemos quatro viagens dessas por ano e, quando estamos ali sozinhos, sem interferência de telefone, questões pessoais nem nada, repensamos o futuro da empresa.
Eu comecei a praticar kitesurf depois de uma provocação do Guilherme Benchimol [fundador e presidente do conselho da XP (XP)]. Estávamos em uma viagem no México, em um local que ventava muito, e ele me contou sobre os benefícios do kite e o quanto a prática desse esporte era benéfica para ele. Era como se fosse um momento de meditação com você mesmo, ali no mar, velejando por horas às vezes.
Na volta dessa viagem do México eu tive a curiosidade de praticar. Em outra oportunidade, fui para o Ceará, onde eu aprendi a fazer kitesurf, e virou uma paixão de fato. O que eu tiro de lição desse esporte é que é um momento só seu, em que você está velejando e pensando na vida, nos fatos que eventualmente envolvem os problemas que você está tentando resolver naquele momento.”
Adriana Aroulho, CEO da SAP Brasil - Bailarina
“Eu me envolvi com o ballet desde muito pequena – comecei a dançar com 4 aninhos – e ele me acompanhou por toda minha infância, adolescência e entrada na faculdade. Eu cheguei a cogitar seguir no caminho da dança. Foi no ballet que conheci meu marido, que também foi bailarino profissional e coreógrafo por muitos anos, até se aposentar.
Acho que a dança nos dá inúmeras habilidades, que servem para qualquer coisa que quisermos fazer na vida, desde postura, disciplina, resiliência, trabalho em equipe, além de fazer muito bem para a alma.
A dança continua muito presente em nossas vidas. Meu marido fez turnês por vários países, minha filha faz ballet desde pequena e meus cunhados são bailarinos profissionais do ballet da Cidade de São Paulo. É algo pelo que eu sou apaixonada e que recomendo para todo mundo. Eu tenho muito orgulho de ter a dança de uma forma tão importante na minha vida.”
Thiago Muramatsu, CEO da Syn Proptech (ex-Cyrela Commercial Properties) - Colecionador de Lego
“Comecei a colecionar de verdade faz um ano. Comprei meu primeiro Lego em setembro do ano passado, apesar de já ter alguns, mas que não considerava uma coleção. Foi sempre algo de que eu gostei, mas eu nunca tive muita coragem de investir dinheiro porque é um hobby caro e precisa de muito espaço.
Eu fiz muita coisa no começo junto com o meu filho Lucas, quando ele tinha uns 2 ou 3 anos. Ele sempre gostou de coisas de montar. Eu comprei uns Legos pequenos, nada muito grandioso, só para passar tempo com ele. Montávamos em conjunto e ele foi desenvolvendo gosto também.
Um dia, em uma viagem, tomei a coragem de comprar um, achei legal e fui comprando outros. Vi os Legos que vendiam na época e fui me interessando ainda mais. Todo dia, eu entro na OLX, no Mercado Livre, e vejo se tem algum dos Legos mais antigos, algumas coisas diferentes que eu queria ter. Foi assim que fui montando minhas coleções aos poucos.
Hoje meu maior problema é ter espaço para guardar os sets que eu montei e os que eu não montei ainda. O mais bacana desse hobby é que compartilho com meu filho. Recentemente, ele fez aniversário e ganhou um monte de Lego dos amigos dele. Sentamos juntos na mesa, ele fica de um lado, eu fico do outro, e cada um monta o seu Lego.”
Daniela Manique, CEO da Rhodia Brasil - Cozinheira
“Cozinhar sempre foi uma tradição familiar. Os encontros da nossa família sempre foram na cozinha e não tenho lembrança da minha bisavó em outro local quando chegava a Atibaia [interior de São Paulo] sem ser na cozinha. Minha avó sempre foi cozinheira de mão cheia e os jantares eram os momentos principais de conversa entre todos nós.
Por isso, sempre gostei e fiz pequenos cursos aqui no Brasil, de duração de um dia ou uma noite. Quando me mudei para França, tinha uma pequena escola na esquina da minha casa chamada Comme un chef [”como um chefe”, em tradução livre do francês para português, ou like a boss, em inglês].
Nós aprendíamos a refeição e depois jantávamos. Virou o nosso programa de sexta à noite para mim e meu esposo. Também aproveitei e fiz alguns cursos no Instituto Paul Bocuse, na cidade de Lyon.
Quando voltei ao Brasil, fui aprovada no vestibular de gastronomia, mas acabei sem tempo para dar continuidade. Continuo viciada em programa de culinária, minha filha não aguenta mais. Ela vai comigo para cozinha, que eu brinco ser o nosso laboratório de experiências. Afinal, culinária é química [a Rhodia é uma das maiores empresas químicas do mundo]. Quer algo mais atual que um pão de fermentação natural? Juntas fazemos lasanha, tiramissu, risotos, cookies, bolos, nosso próprio macarrão, pão, mousse de chocolate...”
Eduardo L’Hottellier, CEO da GetNinjas - Jogador de beach tennis
“Nunca fui esportista. Estudei engenharia em faculdade militar, mas, pela rotina de trabalho, nunca fui vidrado em esporte. Queria ter uma atividade que fosse importante para saúde e, ao mesmo tempo, que pudesse praticar com a minha esposa e encontrar amigos. Achei o beach tennis, esporte que une essas características.
É fácil de aprender - eu, que nunca tinha jogado há cerca de 1 ano, comecei com poucas partidas. [...] O fenômeno do beach tennis veio com muita força por ser extremamente democrático, para todas as faixas etárias. É muito fácil encontrar quadras na região do Itaim, da Vila Olímpia.
Vai ser a nova onda de empresas organizando happy hour com beach tennis porque acaba pegando os dois públicos: o que quer tomar uma cerveja e o que quer jogar, além de ser um esporte para unir diferentes pessoas e companhias.”
- Com a colaboração de Kariny Leal, Marcelo Sakate e Mariana D’ávila
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