Petróleo a US$ 65 ou US$ 380? Divisão em Wall Street aumenta com incertezas

Relatórios recentes do JPMorgan e do Citi colocaram perspectivas discrepantes para os preços da commodity nos próximos meses

Próximos meses que começam a colocar uma profunda divisão entre as perspectivas dos principais analistas da área
06 de Julho, 2022 | 01:28 PM

Bloomberg Línea — Os contratos do petróleo West Texas Intermediate (WTI), negociados nos Estados Unidos, acumulavam alta de 32,3% até o fechamento de terça-feira (6), impulsionados, inicialmente, pelas liberações pós-pandemia e, com muito mais força, pela guerra do presidente russo Vladimir Putin na Ucrânia. Só que são os próximos meses que começam a colocar uma profunda divisão entre as perspectivas dos principais analistas da área.

A demanda reprimida da era dos lockdowns em boa parte do mundo já havia começado a preocupar em relação à capacidade mundial de produzir petróleo o suficiente para atender à retomada das viagens, dos passeios e, em geral, da vida fora de casa. Em janeiro, analistas do Goldman Sachs (GS) chegaram a escrever que a Organização Mundial do Petróleo e seus aliados, a Opep+, tinha “perdido o poder de fogo” para suprir o mercado mundial e que a falta de investimentos em energias fósseis nos últimos anos iria pressionar os preços.

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Na época, eles previram que o petróleo, negociado a US$ 85, chegaria a US$ 100 até o final deste ano. Apesar de ter sido por outros motivos (a guerra da Ucrânia só começou em fevereiro), a cotação de fato fechou negociada a exatos US$ 100 na última terça-feira (5). Desde a invasão da Ucrânia até o fechamento de ontem, a alta acumulada é de 22,5%.

Foi a guerra, que desembocou em fortes sanções contra o petróleo da Rússia - um dos maiores produtores mundiais -, que levou todas as perspectivas mais otimistas para um mercado sustentável por água abaixo. Desde lá, o preço da commodity disparou, foi repassado aos combustíveis, que encareceram quase todas as cadeias de logística mundiais.

Isso levou não só à queda de três presidentes da brasileira Petrobras (PETR4; PETR3) por conta dos repasses obrigatórios que a estatal faz às bombas de gasolina e diesel, como, do ladro macro, à pressa dos principais bancos centrais no mundo de elevarem os juros para conter a inflação.

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E é essa pressa nas altas, que ameaça forçar uma recessão no mundo, e o comprometimento da oferta com a continuação da guerra que colocam analistas em dúvida quanto aos próximos passos.

No início da tarde desta quarta, o contrato WTI recuava 3,3%, a US$ 96,25.

O que esperar para os próximos meses?

Segundo o JPMorgan (JPM), em relatório divulgado na última semana, os preços globais do petróleo podem chegar a US$ 380 por barril se as penalidades em discussão para serem impostas pelos Estados Unidos e pela Europa levarem a Rússia a realizar cortes retaliatórios na produção da commodity.

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O preço considerado “estratosférico” pelos estrategistas, liderados por Natasha Kaneva, implicaria um potencial de alta de 263% em relação aos cerca de US$ 100 na cotação de fechamento de terça (5). E alimentaria ainda mais a inflação global, que está nos patamares mais elevados em décadas pressionadas também pelos custos de energia.

“O risco mais óbvio e provável com um teto de preço é que a Rússia opte por não participar [do mercado] e, em vez disso, decida retaliar, reduzindo as suas exportações”, escreveu o time de análise do banco americano. “É provável que o governo possa retaliar cortando a produção como forma de prejudicar o Ocidente. O aperto do mercado global de petróleo está do lado da Rússia.”

Por outro lado, bem distante deste cenário mais apocalíptico, a tão temida recessão das economias globais pode fazer pressão na direção oposta. Se confirmado esse cenário, segundo analistas do Citigroup (C), o petróleo pode tocar os US$ 65 o barril até o final deste ano e depois a US$ 45 até o final de 2023 por conta do comprometimento da demanda após uma desaceleração da economia.

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No entanto, como colocaram os analistas Francesco Martoccia e Ed Morse no relatório, no momento, os economistas do banco não esperam que os Estados Unidos mergulhem em recessão - ou seja, a perspectiva de uma queda tão brusca dos preços, na ordem de 150%, não é tão certa assim.

“As evidências históricas sugerem que a demanda por petróleo fica negativa apenas nas piores recessões globais”, disseram os analistas do Citi. “Mas os preços do petróleo caem em todas as recessões para perto de seu custo marginal.”

--Com informações Bloomberg News

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Ana Siedschlag

Editora na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero e especializada em finanças e investimentos. Passou pelas redações da Forbes Brasil, Bloomberg Brasil e Investing.com.